Recuperandos da Apac e detentos do presídio de Caratinga dão início a curso de pedreiro de alvenaria assistente
CARATINGA – Através do Programa Regresso, uma iniciativa do Instituto Minas Pela Paz em parceria com o Serviço Social da Indústria e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Sesi/Senai), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac); 40 homens que cumprem pena em regime fechado, dentre recuperandos da

Para o promotor Maicson Borges, a iniciativa é bastante válida, seguindo o objetivo da execução penal, previsto em lei
Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) e sete detentos do presídio de Caratinga, realizarão o curso de pedreiro de alvenaria assistente.
A solenidade de aula inaugural aconteceu na manhã de ontem, na sede da Apac e contou com a presença do juiz Consuelo Silveira Neto; do promotor de Justiça, Maicson Borges Pereira Inocêncio de Paula; da diretora de

De acordo com o juiz Consuelo Silveira Neto, a intenção é continuar trazendo cursos para o presídio e Apac de Caratinga
Atendimento e Ressocialização Administrativa do Presídio de Caratinga, Kercilene Silva Queoperro dos Reis; do instrutor do curso, Eduardo Guilherme; do consultor do Programa Escola Móvel Sesi Senai, Jairo Antunes e de Enéas Alessandro da Silva Melo, do Instituto Minas pela Paz.
O curso de qualificação no ramo da construção civil, ofertado pelo Programa Escola Móvel Sesi/Senai, é dividido em duas turmas de 20 alunos cada, que aprendem teoria e prática e recebem certificado, como explica Jairo Antunes. “Todos os cursos da escola móvel são voltados em torno de 60% na parte prática.

O consultor do Programa Escola Móvel Sesi Senai, Jairo Antunes, e Enéas Alessandro da Silva Melo, do Instituto Minas pela Paz
O aluno aprende realmente fazendo. O conteúdo é muito extenso e aprende-se muito em um dia. Esse é um dos grandes diferenciais da escola móvel. As antigas profissões, ofícios que andavam esquecidos e eram ensinados entre famílias, amigos e o Senai vem desenvolvendo. A carga horária deste curso, por exemplo, em torno de 80 hora/aula. E temos a parte teórica também, mas a maior parte o aluno aprende no canteiro de obras, executando o projeto do curso”.
O consultor do Programa Escola Móvel Sesi Senai ainda destaca a relevância do projeto para as empresas e os participantes. “É a geração de mão de obra de qualidade para a cidade e região, além da ressocialização das pessoas. A indústria necessita dessa mão de obra dos cursos que a escola móvel vem ofertando em todo o estado e com isso a gente contribui para o crescimento, desenvolvimento e geração de empregos”.
Enéas Alessandro da Silva Melo, do Instituto Minas pela Paz, acredita que o Programa Regresso vem trazendo bons resultados, proporcionando
oportunidade aos detentos. “É uma instituição ligada ao conselho estratégico da Federação de Indústria do Estado de Minas Gerais, composto pelas maiores empresas que atuam no estado. Um dos projetos que executamos, que é o Programa Regresso, visa inserção profissional daquelas pessoas que cumprem pena, seja na Apac ou em presídios. O intuito é facilitar acesso à qualificação profissional, para que a saída dessas pessoas possam lhe oferecer oportunidade para inserção profissional, com o trabalho ou ele mesmo montando o seu próprio negócio”.
Para o promotor Maicson Borges, a iniciativa é bastante válida, seguindo o objetivo da execução penal, previsto em lei. “É de fato, ressocializar o apenado, reeducando-o. Então, temos mais uma parceria com a Fiemg, Sesi/Senai, juntamente com o poder judiciário, Ministério Público, Apac e a unidade prisional para concretização desse objetivo de ressocialização, através da profissionalização, para que ao sair daqui já tenham conhecimento profissional, de algo que possa executar de maneira efetiva no ambiente externo”.
Além dos participantes do curso poderem buscar uma vaga no mercado de trabalho, eles ainda podem contar com a remissão por estudo, ou seja, a cada 12 horas de estudos é reduzido um dia de pena para o condenado. De acordo com o juiz Consuelo Silveira Neto, a intenção é continuar trazendo cursos para o presídio e Apac de Caratinga. “Essa parceria tem por objetivo propiciar àqueles que se encontram cumprindo pena, a possibilidade de saírem da unidade formados em um curso profissionalizante, o que permite a ressocialização do preso, o empresário ganha, porque recebe uma mão de obra qualificada e a sociedade. Para que um ex-detento tenha a possibilidade de recomeçar a sua vida”.
OPORTUNIDADE
O método Apac tem um modelo de humanização do sistema penitenciário. Assim, o mercado de trabalho “atravessa” as grades da unidade e as oportunidades são oferecidas aos recuperandos. Muitos deles aproveitam os cursos e sonham com uma mudança de vida, após a liberdade. É o caso de Eduardo Alves, 35 anos, que está na Apac há cinco anos e vai participar do curso de pedreiro. “É muito importante, aqui que vou conseguir a minha mudança de vida. Quero aproveitar todas as oportunidades para me reintegrar no mercado de trabalho. Quando coloquei os pés na Apac, não tinha o pensamento que tenho hoje. Vim para cá em novembro de 2010 com a mente criminosa, revoltado, porque não tinha expectativa nenhuma de mudança de vida. A família que construí aqui me ensinou a enxergar o mundo com outro olhar, estou conseguindo fazer meus cursos, me profissionalizando, pois, sabemos que um preso saindo para a rua é muito discriminado, mas depois que eles verem que estamos nos envolvendo mesmo no trabalho e queremos sair do mundo do crime, que eles possam nos ajudar. Somos seres humanos, temos os nossos momentos de fraqueza, mas estamos levantando com Deus e tenho fé que vou conseguir realizar meu sonho, que é praticar mais e mais nesses cursos, para passar para meus filhos lá fora. Fico muito grato a essas oportunidades”.
Eduardo já atuava como servente de pedreiro e através do curso pretende se aperfeiçoar. “Eu fazia de tudo, era servente, trabalhava na roça, mas, um pequeno deslize me fez cair e infelizmente a gente comete e tem que pagar. Hoje estou cumprindo uma pena de 26 anos e para mim não estou preso, mas privado da minha liberdade. O que estou perdendo da minha liberdade; estou aproveitando nos cursos e ficando mais forte”.
Paulo Reis, 28 anos, que está na Apac há quase quatro anos, também espera muito aprendizado. “Essa oportunidade com certeza vai ser muito boa, porque o meu sonho é ser um pedreiro. Vou abraçar esse curso bem forte, para ser um bom profissional um dia. Pretendo aproveitar o máximo possível, já fiz outros cursos aqui, de eletricista, operador de empilhadeira, cozinha; então, vou me aprimorar bastante para que possa sair daqui de cabeça erguida, ajudar minha mãe e meu pai lá fora. Todo curso que tiver aqui eu faço”.