Taxistas e moradores dos bairros Esplanada e Santa Zita pedem providências em travessia. Local já registrou diversos acidentes
CARATINGA – Na manhã de ontem, a Rua Manoel Gonçalves de Castro, no Bairro Esplanada, parou para receber um manifesto pacífico, promovido pelo Sindicato dos Taxistas de Caratinga. A carreata contou com a parceria das associações comunitárias dos bairros Santa Zita e Esplanada. O percurso seguiu até o Bairro Limoeiro, interditando o trânsito em uma das pistas.
Os carros seguiram e paralisaram a rodovia nos dois sentidos, no local em que aconteceu um acidente na tarde de quinta-feira (6), que tirou a vida do motociclista, Daniel dos Santos Oliveira Almeida.
Com o objetivo de pedir melhorias no trânsito e acessibilidade ao perímetro urbano da BR-116, os moradores se reuniram com faixas. A participação dos taxistas também foi expressiva. Uma das principais reinvindicações é o trecho da travessia do Bairro Esplanada, já apurado por especialistas não possuir mecanismo de engenharia de tráfego, em que se possa efetuar o cruzamento da pista com segurança.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Taxistas, Mauro Sérgio Pires, é evidente que o perímetro urbano da BR-116 que corta estes bairros é movimentado e não oferece condições técnicas para uma travessia segura. “Essa reivindicação é para mobilizar tanto a comunidade quanto as autoridades, para que seja feito algo. A gente já sabe de processos em andamento na Justiça, que determina que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) a fazer mudanças e melhorias na BR. Hoje a gente vem reforçar esse pedido. É uma carreata pacífica, muita gente aderiu e esperamos alcançar o nosso objetivo”.
Para Mauro, há diversas alternativas para melhoria daquele trecho. “Temos parceria com um engenheiro de trânsito, que vai nos apresentar um projeto. Pode ser colocar um semáforo, rotatória, passarela, passagem subterrânea. Há várias maneiras de assegurar a acessibilidade da passagem na BR”.
O líder comunitário Aristides Ferreiras acrescenta que está à frente da União Comunitária do Bairro Esplanada, houve diversas tentativas de pedir providências. “Fizemos reunião com o diretor do Dnit, mas ele infelizmente não dá solução para o caso. Então, o Sindicato nos procurou e fizemos essa paralisação, muito positiva para a comunidade. Pretendemos fazer outras, mais organizadas, parar mais a BR para as autoridades perceberem a importância. Enquanto as autoridades estiverem cegas a esse problema, muitas vidas serão perdidas neste trecho. A gente espera uma solução, para resolver essa situação, já insuportável”.
EM BUSCA DE RESPOSTAS
João Nogueira é taxista. Atravessa dia e noite toda a cidade. Ele acredita que também é necessário conscientização, diante de um trecho tão perigoso. “O principal problema é a falta de educação de todos nós, condutores, pedestres e também das autoridades, porque não se sensibilizaram por uma infraestrutura nessa travessia. As mortes estão acontecendo nesta BR quase que diariamente. Vamos ver se agora a sociedade de Caratinga acorda, vamos brigar por isso. O Sindicato dos Taxistas de Caratinga tem hoje 70 profissionais que atravessam este trecho toda hora”.
O taxista que também participou da organização da carreata, afirma que a intenção é estender sugestões de melhorias também a outros trechos da cidade. “Temos ainda outros projetos, que o engenheiro está olhando conosco, a Santa Cruz, por exemplo, a área central da cidade. São 36 mil veículos em Caratinga. Vamos buscar com as autoridades a oportunidade de investir nestes trechos críticos”.
O funcionário público Jésus Pires luta desde o ano de 2009 por intervenções naquele trecho. Ele relembra que começou com uma conversa com um promotor de Ipatinga. Em seguida, foi instalada a Justiça Federal em Manhuaçu, onde aconteceram outras reuniões sobre o mesmo assunto.
Para Jésus, falta vontade para que haja uma resolução mais rápida ao problema. “A determinação já foi dada, há um prazo para o diretor do Dnit tomar atitude, prazo este que se houvesse interesse dele, não precisava esperar. Ontem (quinta-feira) perdemos mais um jovem na BR, a cada dia perdemos. Há alguns dias, a senhora que dom Odilon considerava mãe dele. Gostaria de perguntar ao senhor diretor do Dnit, Milton Genelhú, se numa situação como essa, de um jovem que se foi deixando família para trás, uma vida pela frente; se ele não se sensibiliza. Se fosse um filho dele, um parente, ele gostaria de deixar as coisas do mesmo jeito”.
O funcionário público acredita que com a chegada de novas construções à cidade, as providências devem ser tomadas de maneira urgente. “Até hoje nenhuma atitude foi tomada, a BR continua cada vez mais um açougue e a tendência é continuar cada vez pior, porque estamos construindo o Fórum de sete andares, no Bairro Santa Zita; a Justiça do Trabalho, Delegacia de Ensino, Justiça Federal, tudo vai funcionar do lado de lá da BR”.
Frei Jorge Corrêa, da Paróquia do Esplanada, também acredita que a população demonstra sua força com esta manifestação e ilustra a necessidade de atenção das autoridades para o local. “A comunidade está tomando consciência de que existe realmente urgência de se fazer alguma coisa, porque a gente sabe que o movimento da BR cresceu muito nesses últimos anos e as próprias comunidades, que aqui moram próximas da pista, também cresceram. É necessário que se pense na população, pedestres, sobretudo, na defesa da vida. A gente vê tantas outras cidades onde esses tipos de problemas são bem reduzidos e, no entanto, na nossa cidade está passando da hora de se tomar alguma providência. Muito bom que a comunidade esteja se posicionando, já estava passando da hora de fazerem isso”.
MAIS UMA AÇÃO JUDICIAL
O assessor jurídico do Sindicato dos Taxistas, Joaquim Vicente de Paula Júnior, explica as medidas jurídicas que estão sendo tomadas em favor dos taxistas e comunidade, por melhorias na BR-116. “Trata-se de uma manifestação, pacífica, constitucional, buscando uma melhoria não só para a população do Bairro Esplanada, Salatiel, Santa Zita, mas para a coletividade, visando o interesse público, que está abandonado pelo órgão federal responsável pela rodovia que corta Caratinga. Queremos chamar atenção das autoridades para esse trecho que ceifou várias vidas, temos as estatísticas no Sindicato, o que demonstra que todos os entes federativos deviam olhar por este trecho. Estamos juntando documentação para entrar com mais uma ação judicial. Já existem várias, inclusive algumas já em fase final, mas nenhuma providência foi tomada ainda”.
A mãe de uma vítima
Raimunda Maria das Dores Alves, 84 anos, fala com muita tristeza sobre a morte do filho, Roberto Augusto Alves, que morreu atropelado, aos 41 anos de idade, em agosto de 2012.
Dona Raimunda conta que o filho seguia do trabalho, entrou em um ônibus e ao descer, resolveu passar pelo viaduto da Avenida Catarina Cimini, numa tentativa de chegar mais depressa em casa. Ele foi atropelado por uma caminhonete. “Ele durou só oito dias, ficou internado, entre Caratinga e Belo Horizonte, e morreu. Era um menino forte, trabalhador, muito bom de serviço”, lembra.
Para aposentada, falar sobre a BR-116 deixa uma sensação amarga. Pior ainda é lembrar que o filho foi mais uma vítima das estradas. “Cada dia que passa fica pior. Se tivesse jeito de acabar com aquele viaduto, pra mim era meu prazer. Melhor passar a pé, sem ter aquela ponte, como era antigamente. Mudei para aqui em 1955, fui fazendo a minha família e um acidente levou o coitado do meu Roberto. Isso me deixa muita tristeza”.
“Nossos meninos estão à mercê dos acidentes”
Todos os dias, estudantes atravessam a o perímetro urbano da BR-116 para mais um dia de aula. E todos esses dias representam alertar para a diretora da Escola Estadual Moacyr de Mattos, Edna de Souza Soares.
Ela relata a sensação de insegurança, diante dos perigos da travessia. “É do amanhecer ao anoitecer, a preocupação com os meninos, porque o trânsito é muito grande, os acidentes são constantes e é urgente uma melhoria. Nossos meninos estão à mercê dos acidentes, a gente sabe que a imprudência é demais. Por que não essa melhoria há tanto tempo desejada e necessária para o Bairro, não só alunos, como pai de alunos, pessoas que estão transitando? Não dá mais para esperar, ela é urgente. Infelizmente falta muita vontade política e se é isso que falta, o povo vai ter que fazer essa vontade aparecer”.
A escola atende a crianças e adolescentes que trafegam desde a região do Bairro Zacarias, por exemplo. Para Edna, a falta de respostas tem deixado a comunidade apreensiva. “Tem ainda mais duas escolas no bairro, uma creche, ou seja, muito movimento estudantil. É um bairro populoso e volumoso. O trânsito de veículos é constante, uma rota direta com o centro da cidade e é muito crítico esse ponto de travessia dos bairros”.
Um comentário
Geraldino cevidanes
Parabéns Jesus pela sua luta.