Juiz Anderson Fábio Nogueira Alves apresenta livro de sua autoria e promove bate-papo com estudantes
CARATINGA- O projeto Macaco Vermelho segue nas escolas de Caratinga. O lançamento do livro de autoria do juiz diretor do foro, Anderson Fábio Nogueira Alves, que ocorreu no dia 26 de junho foi o primeiro passo do projeto idealizado pelo Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da comarca, em parceria com a Vara da Infância e a Superintendência Regional de Ensino de Caratinga.
Foi criado o “selo” do Cejusc local, que reunirá a publicação periódica de livros com textos, desenhos e letras de música e autoria de crianças e adolescentes da comarca. A etapa que está acontecendo agora são palestras com o juiz, contando com a colaboração de sua esposa Flávia, usando o personagem Macaco Vermelho como material pedagógico nas escolas da rede de ensino regular.
Na última quinta-feira (23), foi a vez da Escola Estadual Sinfrônio Fernandes receber a visita do juiz Anderson. Pelas paredes é possível perceber que a essência do projeto invadiu a escola. Cartazes, poemas e desenhos retratando a história do livro e os conflitos sociais.
O juiz, que é titular da Unidade Jurisdicional Única do Juizado Especial de Caratinga e coordenador do Cejusc, ficou impressionado com a criatividade dos estudantes e o envolvimento com o projeto. Olhares atentos às palavras do magistrado. Ele ressalta que o trabalho tem sido produtivo e sobre compartilhar as experiências com os alunos. “Foi lançado o livro do Macaco Vermelho, e agora estou indo às escolas, foram acertadas 10 escolas da sede de Caratinga, para apresentar o livro e conversar com as crianças. Está sendo muito bacana, porque desde o ano passado já começamos a conversar e o livro foi lançado agora. As professoras já fazem um trabalho prévio com os alunos, quando chego já conhecem as histórias, nessa escola que é o Sinfrônio Fernandes, fizeram trabalhos de desenhos e poesias na temática do livro, estou achando super bacana esse contato com as crianças”.
A escola proporcionou dois momentos distintos para o magistrado. Primeiro foi o desafio de palestrar para adolescentes. “Foi bom porque os meninos dos 6º ao 9º ano, já são mais maduros, então conseguimos conversar um pouco com eles da realidade mesmo. Perguntaram o tanto que estudei para ser juiz, como é a vida, por onde passei; aí contei das escolas que estudei, porque estudei em escola pública; quantas vezes fiz concurso, ostro livros que tive que estudar, e esse contato é bem bacana. Acho que enriquece tanto para mim que estou aqui conhecendo a realidade deles, quanto para eles, para ter a oportunidade de ter alguém que às vezes só conhecem de nome ou pela televisão assim próximo. Os mais velhos estão na fase de começar a escolher o próprio caminho; então eles ficam muito interessados no caminho que as pessoas fizeram para chegar onde elas estão”.
Em outro momento, as crianças, que são o público-alvo do livro, receberam a palestra. Segundo o juiz Anderson, com o público infantil a abordagem tem como foco a história. “Com as crianças é um pouco diferente, é contar história, uma coisa mais lúdica, conto da minha infância, o que vivi na floresta Amazônica, dos bichos, de forma mais lúdica. Estou muito satisfeito, é só o começo, o primeiro contato e espero manter esse contato tentando ajudar na formação delas”.
DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA ESCOLA
A diretora Rogéria Maria Silva Lopes de Oliveira ressalta que o projeto Macaco Vermelho foi desenvolvido com os turnos finais do 6º ao 9º ano e do 1º ao 5º ano. A essência do livro veio de encontro a outro projeto já desenvolvido pela escola. “Já temos um projeto há anos chamado de ‘Diversidade e Inclusão na Escola’. O nome já diz tudo, de fato, valorizar a diversidade, as diferenças que existem e ao mesmo tempo, trabalhar a consciência no sentido de igualdade, apesar de cada pessoa ter a sua diversidade, sua essência e que tem que ser respeitada, seja pela cor da pele, pelo tipo de cabelo, pela crença, independente do que cada um seja, nós todos somos iguais no sentido de seres humanos, de respeito ao próximo, de saber conviver na sociedade, então essa bandeira a escola já defende. Inclusive nossa escola recebe vários alunos que são portadores de necessidades especiais, nesse sentido a escola tem caminhado positivamente, dando espaço a todos. A questão do livro veio somando, os trabalhos nas finais, as estratégias foram produção escrita, trabalharam o livro e construíram poesias, em prosas; nos nonos anos e nos oitavos em formas de cartazes que trabalha a essência do livro de aceitar e aceitar o outro”.
De acordo com a diretora, a aproximação do judiciário com a escola proporcionou reflexão e um espaço para tirar dúvidas. “A esposa do juiz teve a mesma impressão que eu, os meninos ficaram muitos deslumbrados de ver uma pessoa que foi criada na floresta amazônica, com certeza enfrentou várias adversidades, e chegou à posição de juiz. Eles fizeram perguntas, onde que estudou, a sua trajetória e ele foi respondendo, foi muito bacana nesse sentido, já são adolescentes e essa visão de futuro, o que a gente tanto conversa com eles. Na produção escrita que foi lida para ele, a menina disse: ‘Não é porque sou pobre que tenho que me conformar com minha situação, tenho que agarrar as oportunidades que a vida me oferece e através dos estudos posso ser médica, advogada, o que eu quiser’”.
Rogéria finaliza destacando que o juiz diretor do foro chegou à Escola Estadual Sinfrônio Fernandes com “uma presença viva de que é possível”. “Nossa escola está numa comunidade carente, a figura do juiz é vista como alguém que julga, condena, coloca as pessoas na cadeia, então quebrou, ou deu o primeiro passo. Viram que o objetivo dele é buscar prevenir, cuidar, para não chegar nesse ponto. Nossa realidade social é bem complicada, a figura do juiz até então é muito distante e ele falou que tem essa função sim, mas quer ir além dela. Acho que ele se surpreendeu pela manhã, quando viu os trabalhos disse que a essência do que queria falar, as professoras entenderam e estavam nos cartazes”.
O LIVRO
A História do Macaco Vermelho, de autoria do juiz Anderson Fábio, segue sucesso de vendas na cidade e é uma fonte de renda para duas casas de acolhimento da comarca – o Lar das Meninas e a Amigos dos Meninos Assistidos de Caratinga (Amac). Exemplares estão disponíveis na Livraria Caratinga e na Seed English School de Caratinga.
O livro tem como objetivo promover a reflexão sobre a aceitação da individualidade de cada sujeito, ao narrar a história de um macaco de pelo vermelho que acaba mudando sua aparência e conclui, em seguida, com a ajuda dos amigos, que o melhor é voltar à sua cor original. Os desenhos são de autoria de Camilo Lucas e a obra foi organizada pelo professor Eugênio Maria Gomes, com edição da Fundação Educacional de Caratinga.