Pais tentam saber os motivos para a má formação física do filho de apenas um ano e dez meses, já que nenhum médico conseguiu dar o diagnóstico
CARATINGA – César Augusto Moreira Gonçalves, de apenas um ano e dez meses, é o personagem da nossa história de hoje. Um garoto lindo, simpático, alegre, que recebeu o nome em razão do imperador romano, que tinha a determinação como uma das principais características. Filho de Leila Moreira da Silva, estudante de Direito, e do policial militar Hermínio Moreira da Silva, irmão de Júlio Cesar Moreira, de sete anos; o pequeno Cesar nasceu com uma má formação física e não possui os antebraços, apenas os braços, com dois dedos no direito e um no esquerdo.
Quando a reportagem chegou à casa de Leila, foi recebida com um lindo sorriso do César, sendo impossível notar primeiramente a deficiência física, pois o seu carisma é algo impressionante para uma criança ainda tão pequena e com muitas limitações. A grande vontade dos pais é saber o que causou a má formação do garoto para saber como garantir a ele melhor qualidade de vida possível. Os médicos ainda não deram o diagnóstico e os pais almejam por essa resposta.
Conheça um pouco da história dos pais dedicados e do pequeno guerreiro César.
Você foi mãe a primeira vez com quantos anos?
Com 32 anos, do meu filho mais velho, Júlio César Moreira, que hoje tem sete anos.
A primeira gravidez foi planejada? Você teve algum problema?
Sou casada há 15 anos e meu sonho sempre foi ser mãe. Meu filho foi muito desejado, eu tive dificuldades para engravidar, mas fiquei grávida quando começaria o tratamento.
O Júlio nasceu com algum problema?
Nenhum e minha gravidez foi muito tranquila.
E quando aconteceu a segunda gravidez? Também foi planejada?
Aos 38 anos, planejamos tudo novamente, mas perdi meu bebê com três meses de gestação.
E quando aconteceu a terceira gravidez, a do César?
Um ano depois, estava com 39 anos.
Muito tranquila novamente. Fiz todos os exames, inclusive vários ultrassons, tenho todos guardados e nenhum demonstrava má formação. No final que as coisas complicaram um pouco, fiz um ultrassom rotineiro e a médica descobriu que estava sem nenhum líquido amniótico e foi preciso tirar o César com 36,6 semanas, quando o normal é de 39 a 40. Ele estava em sofrimento fetal. Achei até bom não ficar sabendo da má formação durante a gravidez para não ficar muito preocupada.
Você ficou sabendo da má formação assim que ele nasceu?
Não. O Hermínio, meu esposo, estava fazendo curso em Manhuaçu. Estava sozinha, ninguém me falava nada, perguntei se ele tinha tido alguma sequela pela falta do líquido e disseram que não. Fiquei três dias no hospital, depois do parto precisei ser sedada por conta de uma reação que tive a morfina. O César não “pegava peito” porque tinha uma má formação no queixo.
Quanto a má formação nos braços, quando soube?
Apenas quando tive alta e o Hermínio estava comigo. Nos dias que fiquei internada não deixavam meu filho comigo, até porque ele não conseguia mamar em mim. Os médicos contaram ao meu esposo sobre a má formação dos bracinhos, mas não sabiam o que era. O César não tem os antebraços e no direito, apenas dois dedinhos que são chamados de “pinça”, que são os que usamos para escrever e pegar as coisas. No esquerdo apenas um dedo. Ele usa os pés para cantar parabéns e para coçar, acredito que muitas coisas ele fará com os pés.
Foram feitos exames mais aprofundados?
Disseram que era viável fazer o cariótipo, visando ao diagnóstico de anomalias genéticas relacionadas ao número ou à morfologia de cromossomos. Houve a desconfiança de ser a síndrome de Nager que causa a má formação no queixo, mas não deu nada e ele já melhorou muito essa parte. O médico de Belo Horizonte disse apenas que pode ser uma má formação casual
Então vocês não têm um diagnóstico fechado?
Não. E isso nos deixa muito tristes, gostaríamos de ter uma resposta até para saber o que mais pode acontecer para tratarmos. O César já está desenvolvendo uma escoliose, encurvamento anormal da coluna vertebral, recentemente do nada teve uma insuficiência respiratória e ficou internado por três dias. Acredito que apenas um geneticista poderá falar algo.
Ele faz fisioterapia, terapia para entender a falta das mãos e fonoaudiologia para ajudar na fala, três vezes por semana na APAE. Ele já começou a falar, fica em pé, mas ainda não anda pela falta de equilíbrio por não ter os antebraços. Mas como muita fisioterapia ele andará. Mas o César é um menino muito alegre e simpático, se não descobrirem o que ele tem, será aceito da mesma forma, nos o amamos muito.
Como é a relação dele com o irmão mais velho?
Excelente. Quando cheguei com César do hospital fiquei imaginando como contar ao Júlio, que tinha cinco anos, que o irmãozinho não tinha os bracinhos, estava triste, deprimida e fui surpreendida com esse cartaz e o seguinte versinho “Se um dia meu irmão precisar de uma mãozinha, eu empresto a minha” (Muitas lágrimas). Acabou me dando a força que eu precisaria passar para ele.
O César sofre algum tipo de preconceito? Você tem alguma chateação quando sai com ele?
Ele é muito simpático, então as pessoas olham a deficiência e esquecem, porque ele chama a atenção pelo carisma. O que me deixa muito magoada é que algumas pessoas e até profissionais médicos já me perguntaram qual remédio tomei para ele ter essa deficiência. Um deles chegou a dizer que eu teria tomado um medicamento abortivo. Isso me dói. Tomei apenas vitaminas e se isso faz mal, gostaria que alguém me explicasse.
E o que pretendem fazer daqui pra frente?
Vamos embora da cidade, queremos uma explicação para essa má formação, queremos uma qualidade de vida melhor para o César. Eu mereço uma resposta, mas se não tiver, repito que aceito meu filho assim, porque ele é muito especial e amado.
Por Paula Lanes (texto) e Adenilson Geraldo (fotos)