Axel Reinaud visitou a cidade para apresentar proposta aos produtores do Centro de Excelência de Café
CARATINGA- Caratinga deu mais um passo rumo ao projeto de sediar a primeira planta de biocarvão brasileira da NetZero. Trata-se de uma empresa francesa, que busca uma parceria com os produtores do Centro de Excelência do Café, no distrito de Santa Luzia, local que abrigaria a planta e um centro de pesquisa. A intenção é produzir o chamado “biochar”, a partir da palha ou casca de café, que se tornará carvão vegetal.
Para isso, a cidade recebeu a visita de Axel Reinaud, que é o presidente da empresa. Pela manhã, ele se reuniu com produtores no Centro de Excelência e à tarde concedeu entrevista coletiva à imprensa. Axel respondeu aos questionamentos dos jornalistas em espanhol, os quais o DIÁRIO apresenta nesta reportagem de forma traduzida.
Axel fez questão de destacar a recepção muito positiva recebida na cidade e a expectativa em torno da implantação do projeto. “Com muito entusiasmo por parte dos agricultores. Isso nos dá muita esperança que possamos abrir, em breve, a primeira planta de biochar do Brasil aqui em Caratinga”.
Ele ainda frisou o potencial de Caratinga, considerado um centro muito importante de produção de café. “Nós estamos desenvolvendo uma primeira planta na África, em Camarões, à base de café, pelo qual vir ao Brasil produzir biochar à base de café tem muita racionalidade. Brasil é o primeiro produtor mundial de café e por isso decidimos vir muito rapidamente abrir uma entidade aqui no Brasil. O estado de Minas Gerais é muito relevante para a produção de café e em Caratinga, temos encontrado um retorno muito positivo com pessoas muito motivadas por este projeto, que para nós é uma assimilação de que não há um projeto que vem de cima, mas, há pessoas que querem e veem como positiva a produção de biochar, que se pode utilizar localmente”.
Axel ainda acrescentou os benefícios da produção de biochar, dentre elas, a melhoria da produtividade do solo e a produção em quantidade e qualidade. Outro benefício é reduzir a utilização de fertilizantes. “Hoje em dia todo mundo se dá conta que o modelo de importação de fertilizantes, que têm um preço cada vez mais alto, é algo que necessita mudança. E o biochar permite isso”.
Já o terceiro benefício está ligado à produção de eletricidade renovável. “Por isso, é um modelo muito local. Um modelo que recicla, neste caso, a palha de café e, a partir deste resíduo, que hoje em dia tem pouco valor, se fazem produtos de valor agregado local, que permite melhorar o nível de vida e de renda dos agricultores. Ademais, a construção de plantas industriais permite criar empregos locais, industriais, qualificados e isso também é um benefício local”.
Outra informação repassada por Axel é de que uma planta típica pode empregar em torno de 25 pessoas, funcionando 24 horas por dia. “Não estamos falando de plantas muito grandes, estamos falando de plantas pequenas, que podem estar localizadas próximas a fontes de biomassa. Em Caratinga há um potencial para abrir múltiplas plantas. Vamos abrir uma primeira e logo esperamos que haja mais, à medida que nos dermos conta do interesse do biochar localmente, nos permitir recuperar mais palhas de café e, então, abrir mais plantas”.
O presidente da NetZero ainda comentou sobre a estrutura do Centro de Excelência. “Uma área muito boa para implantação da primeira fábrica, porque já há centralização de café, a infraestrutura, o espaço. Nos parece que há também muita vontade de atrair esta fábrica aqui. E nosso processo funciona quando as pessoas locais querem”.
DA PALHA AO BIOCHAR
Pedro Figueiredo, diretor técnico da empresa, explica que inicialmente a empresa buscou verificar como era o uso da palha em Caratinga. “Ela tem diversos usos, há a queima de palha, se utiliza palha para cobrir o terreno e às vezes fazer compostagem. Mas, vias de regra, é mais um problema do que uma solução. E a queima também é um problema ambiental. Diante dessa pesquisa, verificamos a quantidade de palha disponível para utilizar em nossa planta, conseguimos esse volume e o que realmente é o benefício para o produtor, na minha opinião vai ficar livre de um problema. Vai ter um custo associado a manejo e distribuição dessa palha dentro de sua propriedade, mas, dentro especificamente da planta vamos produzir o biochar e também a energia elétrica”.
Conforme Pedro, a proposta é prover o produtor de biochar a um custo “baixíssimo”, além da proposta ambiental. “Hoje, por exemplo, o biochar no mercado nacional é vendido a R$ 25 a R$ 35, o quilo. Pretendemos vender ou disponibilizar esse produto num valor bem abaixo. E vem muito a agregar na questão da redução de fertilizantes, um problema atual, que não tem uma solução de curto prazo, tem que ser construída e o biochar é uma solução sustentável para a agricultura local. Além da disponibilidade da energia gerada nessa planta, limpa, renovável. Com isso todos ganham não só na questão do produtor, mas, a melhora da condição de vida humana, não só local, mas, mundial”.
Na planta, uma tonelada de palha será capaz de produzir entre 25% a 35% de biochar, ou seja, 250 a 350 quilos. “A planta hoje trabalha com o consumo de uma tonelada por hora. Isso quer dizer que ao ano vai consumir cerca de 8 mil toneladas de resíduo, no caso palha de café, para produção de aproximadamente 2.200 a toneladas de biochar por ano”.
A intenção ainda é montar um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, fazendo Caratinga como referência nesta área. “É bem provável que a região também se favoreça com essa questão, não só na parte da tecnologia da produção, mas, a questão agronômica. O que tem por vir, não temos nem a dimensão, dos ganhos que essa visibilidade terá. Deve ser a primeira planta na América Latina de produção de biochar em alta escala”.
EXPECTATIVAS
O diretor de Agronegócio José Corintho acompanhou a visita dos representantes da NetZero e frisou as expectativas de implantação do projeto. “É muito importante para a Secretaria de Agricultura, muito importante para a cidade de Caratinga. Sabemos que esse projeto vai elevar o nome da cidade, do distrito, da nossa produção cafeeira. Reconhecemos o esforço do Alcides e do prefeito Dr. Welington, que já vêm trabalhando há uns seis meses com essa empresa, conversando a parte burocrática. Primeiro é a vontade, conhecer o projeto, que é ambientalmente correto, preza também pelo social, pelas famílias aqui da região. A cidade vai ficar como referência na tecnologia nova. Os produtores estão pegando confiança, um investimento considerável em torno de 10 a 12 milhões. E pelas etapas sendo cumpridas, conversado com o produtor, vai ser uma coisa muito boa para a região”.
José Ferreira Mol, presidente da Associação dos Cafeicultores do Centro de Excelência do Café explica como está o diálogo com os 140 produtores associados, em relação à proposta da empresa. “É uma coisa nova que está chegando para nosso distrito, nossa cidade. E às vezes o produtor tem medo das mudanças, fica um pouco receoso. Mas, com o trabalho que está sendo feito, as informações da empresa e a importância, estamos com uma aceitação boa. A visita dele foi muito importante, porque nesse tempo fizemos esse trabalho na expectativa dessa visita para termos uma resposta da nossa caminhada, nosso trabalho. Senti que foi muito positivo para essa parceria. Tem algumas coisas para acabar de ajustar, mas, tenho certeza que Deus está abençoando e vamos conseguir essa parceria”.
Dois vereadores também estiveram no local e demonstraram apoio ao investimento. João Levindo, o “João Catita”, enfatiza a valorização do distrito. “Para nós é um privilégio muito grande receber esse benefício na região de Santa Luzia. Primeiramente queremos agradecer ao nosso prefeito Dr. Welington e nosso secretário Alcides por essa parceria. Isso acredito que vai dar pra nós um resultado muito grande e na preocupação também do meio ambiente, saber como vai ser escoada essa palha de café. Vai ser muito importante. Vai valorizar muito os produtores da nossa região. É um investimento alto e será um privilégio para nós”.
Giuliane Quintino acrescenta que se trata de uma conquista para as famílias rurais. “É um momento de muita alegria, principalmente, neste Dia Internacional da Mulher, sabemos que na região têm muitas mulheres que trabalham na Agricultura Familiar, pais de família e famílias inteiras. Para a região é um projeto muito importante, agradecemos a todos os envolvidos. Para Caratinga é um orgulho muito grande, o distrito de Santa Luzia traz muitos benefícios não só para a região, mas, para toda a cidade”.