Vinícius Caram, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, explica tecnologia que proporcionará mais velocidade à internet
DA REDAÇÃO- Mais velocidade na internet. O 5G é o mais recente padrão tecnológico para serviços móveis. Devido às suas características, que incluem altas taxas de transmissão de dados e baixa latência (tempo de resposta), a tecnologia oferece uma variedade de novas de possibilidades, ainda a serem exploradas.
A primeira cidade a receber a tecnologia foi Brasília, no dia 6 de julho, seguida por Porto Alegre, João Pessoa, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba, Salvador e Goiânia.
Em Caratinga, a liberação da faixa de 3,5 GHZ está prevista para até junho de 2025. Já a ativação da rede 5G tem previsão até dezembro de 2029.
Nesta entrevista, Vinícius Oliveira Caram Guimarães, superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) explica sobre o 5G e os efeitos para o consumidor final.
Vinícius é Mestre em Engenharia de Telecomunicações e pós-graduado em Gestão de Telecomunicações pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em Governança e Controle da Regulação pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). Consultor de Redes de Telecomunicações entre 1998 e 2011. Professor em cursos de Engenharia Elétrica em universidades privadas de Brasília. Servidor da Agência desde 2011, tendo atuado na área de regulamentação, na área de Gestão de Infraestruturas Críticas e gerente de Controle de Obrigações de Qualidade.
O que é a tecnologia 5G?
O 5G é a nova geração de sistemas celulares e arquitetura de rede que fornecerá conectividade de banda larga, ultra robusta, com baixa latência, e massiva para pessoas e coisas. Trata-se de uma infraestrutura que possibilitará a criação de novos serviços e casos de uso.
A grande diferença do 5G está na diversidade de uso que a rede deve suportar, quando comparada às atuais, desenvolvidas essencialmente para disponibilizar banda larga móvel. O 5G permite a conexão de pessoas e objetos, se dividindo em três categorias de aplicações e serviços:
• eMBB (enhanced Mobile Broad Band) – banda larga móvel com taxas superiores a 1 Gbps, sob demanda;
• mMTC (massive Machine Type Communications) – comunicação com alta densidade e eficiência energética de sensores, dispositivos e máquinas;
• URLLC (Ultra Reliable Low Latency Communications) – comunicação ultra confiável e com baixa latência.
A confiabilidade é um fator chave para as aplicações 5G.
A integração de diferentes componentes de diferentes tecnologias levará as redes 5G além da arquitetura de banda larga móvel de melhor esforço, na direção de comunicações bem mais confiáveis e com ultraconectividade.
Já se vislumbram tendências, não somente da indústria de telecomunicações, mas também nas indústrias automobilística, agropecuária, de saúde e bem-estar, manufatureira e logística no sentido da elevada digitalização, viabilizando os conceitos de indústria 4.0 e agro 4.0.
Quais são as características dessa tecnologia?
Para que uma rede possa ser considerada 5G, a tecnologia deve atender os seguintes requisitos, conforme recomendação da União Internacional de Telecomunicações (UIT – Rec ITU-R M.2083-0):
• Velocidade máxima de 20 Gbit/s (Estação Rádio Base – ERB), em aplicações eMBB;
• Velocidade típica do usuário 100 Mbit/s, em aplicações eMBB;
• Eficiência espectral três vezes melhor, em aplicações eMBB;
• Densidade de tráfego de 10 Mbit/s/m2, em aplicações eMBB;
• Mobilidade de até 500 km/h;
• Latência de 1 ms, em aplicações URLLC;
• Conexão de 1 milhão de dispositivos por km2, em aplicações mMTC;
Eficiência energética 100 vezes melhor, em aplicações mMTC;
Ressaltamos a definição de diferentes requisitos respectivamente adequados para as diferentes aplicações e necessidades.
Como avalia a chegada do 5G ao Brasil e os impactos já causados?
De acordo com o Edital do 5G, as 3 prestadoras de telefonia móvel vencedoras dos lotes de 3,5 GHz em âmbito nacional, Claro Tim e Vivo, deveriam ativar, até julho de 2023 3.783 estações nas 27 capitais. O número de estações licenciadas nas capitais, entretanto, já é mais de três vezes maior, chegando a 11.664 estações. A quantidade de estações atualmente licenciadas já ultrapassa os compromissos de adensamento definidos para julho de 2024.
5G StandAlone SA, que é o 5G em sua maior potencialidade, completou um ano de sua ativação em 6 de julho de 2023 e já é uma realidade na vida de grande parte dos brasileiros. A quinta geração do serviço móvel já está em operação em 282 municípios, que incluem todas as capitais.
Para usufruir da tecnologia, entretanto, o usuário deve possuir aparelho com suporte à quinta geração e possuir plano de serviço que inclua o 5G. Atualmente, existem 17,6 milhões de consumidores que utilizam a tecnologia 5G.
A Anatel tem verificado uma evolução rápida na homologação dos dispositivos com suporte ao 5G a cada ano, possuindo no último registro mais 125 diferentes modelos de telefones celulares com suporte ao 5G atualmente homologados se distribuem entre 15 fabricantes.
Como as empresas e os diversos setores podem se preparar para a revolução do 5G?
As Redes Privativas são redes de telecomunicação destinadas à implementação de soluções específicas, para uso próprio ou de determinado grupo de usuários, para o desenvolvimento de aplicações sem fio ponto-multiponto ou ponto-área. Essas redes são projetadas, principalmente, para uso no setor industrial, de utilities, agropecuário, saúde, educação, negócios, entre outras aplicações privadas, cujos requisitos de rede podem divergir daqueles ofertados por redes de telecomunicações comerciais.
A regulamentação da Anatel permite o uso de diferentes tecnologias e faixas de radiofrequências para a implementação das Redes Privativas. Para uso das faixas de radiofrequências no Brasil, deve-se observar se a faixa de interesse possui atribuição e destinação a serviços compatíveis com a aplicação que se pretende desenvolver.
No contexto dos serviços de telecomunicações regulamentados pela Anatel, as Redes Privativas estão comumente associadas ao Serviço Limitado Privado (SLP), que é o serviço de interesse restrito, que possibilita a comunicação entre estações fixas ou móveis para o desenvolvimento de múltiplas aplicações, dentre elas a transmissão de dados, de sinais de vídeo, de voz e de texto.
A escolha da faixa de radiofrequências a ser utilizada para implementação da Rede depende das características da aplicação que se pretende desenvolver. Estações operando em faixas de radiofrequências abaixo de 1 GHz possuem maior cobertura em relação às estações operando em faixas acima de 1 GHz, por exemplo. Por outro lado, quando há maior necessidade de altas taxas de transmissão de dados do que de capacidade de cobertura, o uso de faixas de radiofrequências acima de 1 GHz seria mais apropriado.
Para o setor industrial, por exemplo, considerando aplicações que demandem maiores taxas de dados e possibilidade de uso de sistemas com tecnologia 5G, a faixa de 3.700 MHz a 3.800 MHz se caracteriza como um dos recursos espectrais que está mais aderente à aplicação pretendida. Esta faixa também pode ser utilizada em Redes Privativas para a área de educação e saúde, por exemplo, considerando um cenário em que se exige altas taxas de transmissão de dados e altos índices de disponibilidade.
Por outro lado, para aplicações do setor de agro e de utilities, que exigem maior capacidade de cobertura, as faixas de 450 MHz, 410 MHz e 225 MHz, por exemplo, estão mais aderentes a estas aplicações.
De toda forma, a escolha das faixas de radiofrequências para implementação da Rede Privativa depende das especificidades da aplicação e das circunstâncias do caso concreto.
Quais são os benefícios efetivamente sentidos pelo consumidor final?
As redes 5G oferecerão taxas de transmissão superiores a 1 Gbps com latência muito baixa, possibilitando evolução dos processos produtivos em diversos segmentos da indústria, como automobilístico, entretenimento, agricultura e manufatura.
Espera-se que aplicações comerciais e industriais críticas utilizem a infraestrutura 5G como suporte para seus negócios, a partir dos requisitos de alta densidade com baixa latência e ultra confiabilidade, aplicações de comunicação ultra confiável e com baixa latência (URLLC, do inglês Ultra Reliable Low latency Communications).
A indústria de saúde e bem-estar poderá praticar cirurgias remotas. Sensores no corpo humano poderão, constantemente, monitorar e transmitir suas informações, por meio de uma rede confiável com baixa latência.
Redes 5G possibilitarão a evolução da infraestrutura de transporte em áreas como carros autônomos e vias inteligentes. Aplicações de realidade virtual e realidade aumentada serão possíveis. No mesmo sentido, os setores de agricultura, finanças, comércio, educação e turismo também poderão se beneficiar de uma rede de comunicação que permite a evolução e a criação de diversos serviços digitais.
Ainda há municípios sem legislação e processo de licenciamento favoráveis a receber o 5G. Poderia nos explicar a relevância do poder público municipal aprovar leis baseadas no Projeto de Lei padrão Anatel?
Prefeituras e Câmaras Municipais podem reduzir barreiras à conectividade das cidades brasileiras por meio da atualização da legislação local afeta à infraestrutura de telecomunicações. Esse foi o chamado da Anatel na Carta Aberta às Autoridades Municipais Brasileiras a todas as cidades do Brasil.
Visando apoiar prefeitos, vereadores e gestores municipais diante desse desafio, serão disponibilizados neste espaço dados e informações, e compartilhados, além de casos de sucesso, minuta de Projeto de Lei a subsidiar os legisladores locais na atualização do conjunto de normativos sobre o tema.
A adoção da tecnologia 5G dependerá da implantação de uma maior quantidade de antenas para possibilitar a cobertura e taxas de transmissão esperadas no uso da tecnologia. Dessa forma, a redução dos custos e a simplificação dos procedimentos administrativos, em linha com as premissas da Lei nº 13.116/2015 e do Decreto 10.480/2020, mostra-se medida relevante para favorecer a disponibilização deste serviço à população.
Diante dessa perspectiva, é primordial que os municípios brasileiros estejam com suas legislações atualizadas e harmonizadas à legislação federal sobre o assunto. Importante, portanto, que observem a divisão de competências entre os entes da Federação, estabelecida na Constituição Federal, que lhes atribui a competência de legislar sobre a ocupação do solo urbano, o que abarca as infraestruturas de suporte de telecomunicações, mas não as estações de telecomunicações propriamente ditas.
O que se espera ao final da implantação, com o pleno funcionamento do 5G no Brasil?
Diferentemente das mudanças nas gerações passadas (2G, 3G e 4G), o foco desta tecnologia não está somente no incremento de taxas de transmissão, mas também na especificação de serviços que permitam o atendimento a diferentes aplicações. A exemplo do que ocorreu com o 4G, que introduziu diferentes modelos de negócios e a “era dos aplicativos”, os avanços que virão com o 5G devem ocorrer com o tempo, à medida que diferentes segmentos comerciais encontrarem soluções para atender às suas necessidades e às demandas das pessoas e dos negócios.
A tecnologia 5G promete massificar e diversificar a Internet das Coisas (IoT) em setores como segurança pública, telemedicina, educação à distância, cidades inteligentes, automação industrial e agrícola – entre tantos outros. No decorrer de sua implantação, deverão ser desenvolvidas aplicações inovadoras que aproveitem o potencial tecnológico das novas redes para introduzir serviços que ampliem a eficiência dos mais diversos setores da economia e beneficiem a sociedade.
O 5G vai consolidar e diversificar conceitos como Internet das Coisas e aprendizagem de máquina em tempo real, promovendo uma verdadeira transformação na forma como as pessoas e organizações se relacionam.
Entre os avanços esperados para o 5G, em relação ao 4G, estão: aumento das taxas de transmissão: maior velocidade; baixa latência: redução do tempo entre o estímulo e a resposta da rede de telecomunicações; maior densidade de conexões: aumento da quantidade de dispositivos conectados em uma determinada área; maior eficiência espectral: incremento da quantidade de dados transmitidos por unidade de espectro eletromagnético; e maior eficiência energética dos equipamentos: redução do consumo de energia, com consequente aumento da sustentabilidade.