Vivemos numa sociedade que parece não saber para onde ir, vivemos sem rumo, sem direção. A polarização política e ideológica na qual nos encontramos fez com que perdêssemos o norte. Assim, não há certo ou errado, mas simplesmente posições que defendem seus interesses, independentemente de qualquer coisa ou situação.
Sem norte, vamos perdendo também o senso de justiça, pois sempre defendemos um lado e atacamos o outro, seja qual for a situação. Sem norte, sempre surgem as mesmas desculpas ou acusações, basta apenas saber de qual lado a pessoa está, para entender suas convicções. Sem norte, dificilmente as opiniões são imparciais, pois elas sempre existem para defender o que melhor lhe convém. Sem norte, não acreditamos que existem pessoas que sejam imparciais; que procuram analisar o fato, tentando ao máximo, provocar a reflexão. Geralmente as pessoas imparciais são atacadas por aqueles que pensam pelo viés da polaridade.
Assim é o Brasil. Queremos saber quem matou Marielle, mas ainda não sabemos quem matou Celso Daniel; queremos desvendar crimes de corrupção, mas vivemos fazendo opção por um ou outro, ainda não temos conta que todos, sem exceção, deveriam ser investigados e comprovados os atos ilícitos, punidos: portanto, dos mensalões, passando pelo petrolão, pelo laranjal do PSL e dos demais partidos que fazem a mesma coisa, até chegar às falcatruas do Queiroz e companhia limitada. São tantos os casos que fica até difícil citar. Mas o fato é que nossa bandeira deveria ser o que é correto, o certo, o justo, independente de quem cometeu o ilícito.
Mas não, como vivemos sem rumo, e enquanto nação não decidimos o que queremos, sempre acusamos um e defendemos o outro mesmo que tenha feito a mesmíssima coisa.
O resultado do julgamento sobre a prisão em 2ª instância ocorrido no STF é a maior prova deste cenário. Afinal qual foi o melhor voto? Se nossa Constituição proíbe a prisão antes do trânsito em julgado, por que até então a decisão era outra? E se daqui uns meses, caso este tema volte para a pauta do supremo, qual será a nova decisão? E para engrossar ainda mais a sensação de que estamos perdidos, sem rumo, por que o Congresso Nacional não assume de fato o protagonismo que lhe cabe?
Mas vivemos, “empurrando as coisas com a barriga”, pois na verdade o que interessa aos nossos representantes é a verdadeira bagunça, com ares de que está tudo fluindo bem e organizado. Em tudo no Brasil fica uma brechinha para ser interpretada conforme a conveniência, basta ver, como exemplo, a Lei da Ficha Limpa e da Responsabilidade Fiscal.
Precisamos urgentemente ter um norte, ter de fato uma segurança jurídica. Saber e agir, concretamente, no que pode e no que não pode. Cumpramos o que está na Lei, mas se elas não nos atendem mais que tenhamos a coragem de propor alterações. O que não dá mais é ficar à mercê desse vai e volta sem fim.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.