Presidente e proprietário do clube, Jaider Moreira, fala de seus objetivos à frente da instituição, de sua vivência no meio do futebol e destaca sua vontade de fazer as coisas acontecerem
DA REDAÇÃO – O certame da Liga Caratinguense de Desportos (LCD) chegou a sua fase semifinal. Antes mesmo da primeira rodada, no dia 27 de agosto, um time ainda desconhecido na cidade de nome Juping já era apontado como um dos prováveis favoritos. O responsável por esse favoritismo atribuído ao time atende pelo nome de Jaider Moreira. Nascido em Passa Dez, distrito de Bom Jesus do Galho, criado em Pingo D’água, porém com residência no Rio de Janeiro.
O multiempresário, que também teve passagem como jogador, na década de 80, pelo futebol amador da região vestindo a camisa da ASBJ; ironicamente o adversário do Juping em partida que será realizada hoje em Bom Jesus do Galho pelas semifinais do Regional, conta um pouco de sua trajetória ao Diário de Caratinga.
Como e quando nasceu o Juping? E porque desse nome?
Quando eu tinha 15 anos, morava em Pingo D’água e jogando uma partida de futebol amador num domingo à tarde, me quebraram a perna. Fui socorrido, engessaram
minha perna e fiquei 60 dias deitado sem poder andar. Nesse período fiquei de cama. Eu era o único que comecei já com 15 anos a ser aproveitado no time amador da cidade, mas aquilo era um fato inédito, porque eles não deixavam garotos jovens jogarem no time principal. Tinha uma coisa que era time de homem e time de menino. Daí Juping, que é significa ‘Juventude de Pingo D’água’. Quebrei essa barreira, mas quebraram a minha perna por conta disso (risos). Daí falei para o pessoal: ‘Gente, vamos montar um time’. Quando sai, comecei a usar muleta, fiz uma rifa de uma caixa de bombom, comprei uma bola velha, camisa velha. E os garotos me botavam na garupa de uma bicicleta, me levavam, eu morava a uns 800 metros do campo mais ou menos. E eu ia para dar os treinos. Eu ficava lá de muleta treinando os garotos e nosso jogo inaugural, lembro até hoje, foi contra o time do Quartel do Sacramento (distrito de Bom Jesus do Galho) e a gente com 20 minutos estava perdendo de 3 a 0. Tirei o time do campo, arrumei uma confusão para não tomar uma goleada… Fiquei de treinador até me recuperar, quando pude jogar, arrumei outra pessoa, o Moacir Vovô, que infelizmente já se foi.
Em 1985 você vestiu como atleta a camisa da ASBJ. Como era na época e como é enfrentar a Associação agora numa semifinal com seu Juping?
Realmente em 1985 vesti a camisa da ASBJ e hoje estou nesse campeonato com o Juping. Foi um grato prazer jogar pela ASBJ e disputar o campeonato de regional da Liga Caratinguense de Desportos. Foi um campeonato bem
disputado, cerca de 15 times participaram, tinha o América, Bairro das Graças, Anápolis, Rodoviário, Bela Vista de Piedade, time conta o qual eu fiz cinco gols. Meu time amador sempre foi a ASBJ e enfrentá-lo hoje é um orgulho muito grande. No campeonato de 1985 eu fui o vice-artilheiro com 16 gols e jogando somente o segundo turno. O Índio (América) foi o goleador. Sou filho de Bom Jesus do Galho, nasci no distrito de Passa Dez, morei em Quartel do Sacramento, depois em Pingo D’água, vivi e estudei em Bom Jesus e enfim, vesti a camisa da ASBJ. Hoje sou presidente do Juping e me sinto orgulhoso por fazer o time enfrentar todos os grandes da região. Isso reforça o que aprendi na minha infância: nunca fazer coisas pequenas. Sempre quis coisas grandes em minha vida e o Juping é minha apresentação para quem não me conhecia. Gosto e vou fazer o Juping ser grande e ganhar esse primeiro jogo da Associação foi, com todo o respeito, motivo de orgulho. Caso o Juping não passe pela Associação, vou torcer por ela, afinal é o time amador que torço desde criança.
Como se deu sua ida para o Rio de Janeiro?
No dia 16 de abril de 1986, depois de insistentemente um tio, que é empresário, me convidar para trabalhar com ele no Rio de Janeiro, eu tomei a decisão de me mudar. Joguei no domingo pela Associação contra o Botafogo (Inhapim) e na segunda-feira, tomei o ônibus e fui para o Rio. Estava assim traçado o meu destino. Moro há 31 anos no Rio e com prazer muito grande. Formei minha família. Tenho esposa e três filhas. Passado todo esse tempo, me vi em
condições de ir devagarzinho voltando e fazendo coisas na minha terra.
Qual sua relação com o Juping?
Juping não é um negócio, é uma paixão, é como se fosse um filho meu, eu o criei aos 15 anos. Ao longo desse tempo, o time foi fundado em 1979, tentaram diversas vezes acabar com o Juping. Mas mesmo morando fora, sempre me preocupei com a equipe. Certa vez quiseram vender o terreno e eu o comprei. Paguei operários que trabalharam no campo. E dentro do meu orçamento sempre procurei ajudar o time. Hoje, graças a Deus, o patrimônio é até maior, tudo meu. Sou o dono do time e pelo estatuto, sou presidente vitalício. Então, além de presidente, sou o proprietário. Patrimônio é todo meu porque comprei e paguei por isso. Não deixei que o time acabasse, mesmo quando as pessoas se desanimavam, eu pegava o meu carro e saía do Rio de Janeiro e ia até Pingo D’água e ajudava. O Juping não é meu negócio, é meu prazer.
Você teve uma campanha vitoriosa à frente do Bonsucesso na segunda divisão em 2011. Conte um pouco dessa experiência?
Na verdade, de 1999 até 2011, o futebol foi minha principal atividade. Trabalhei como empresário de futebol e tive prazer de fazer negócios com todos os grandes clubes do Brasil e até com clubes do exterior. Em 2011, depois de mais de 20 anos de ostracismo, foi uma conquista minha recuperar esse clube, que fez uma parceria onde a gestão de futebol era toda minha. Essa
gestão se iniciou em 2006 e em 2011, voltamos para a Primeira Divisão. Foi um trabalho maravilhoso, experiência muito boa. Hoje quando vejo o time na Primeira Divisão, sei que eu fui fator preponderante para que isso acontecesse. Se não fossem as minhas ações, minha coragem de investir no futebol brasileiro, em um clube pequeno, isso não teria acontecido.
Sua amizade com Itair Machado o levou depois assumir o Ipatinga como presidente. Foi uma experiência positiva? Onde acha que poderia ter feito melhor?
Sobre o Itair, em 2013, ele ficou sabendo das minhas relações fortes com o interior, especificamente na minha região, e que era um cara com possibilidade de investir. Ele também tinha tomada a decisão errada de tirar o time de Ipatinga e levá-lo para Betim. Então não tinha mais clima, dinheiro e apoio. Itair me convidou para eu fazer o que gosto, que algo que fique marcado. Meu grande feito no Ipatinga, costumo dizer que foi trazê-lo de volta para sua cidade de origem. Nessa volta, gastei meu dinheiro e não tive apoio. Gastei muito, fiquei como presidente durante um ano. Preocupava-me muito, tinha que sair do Rio toda hora. Eram muitos problemas, ações na justiça que não eram de minha responsabilidade e que me causam problemas até hoje. Afastei-me, coloquei outro presidente, mas sou um dos 20 conselheiros. Caso amanhã queria me candidatar a presidente, tenho plenas condições, pois continuo como sócio e conselheiro. Foi uma experiência muito boa. E agora com o Ipatinga voltando a Primeira
Divisão do Mineiro, é uma ação graças a mim. Gosto de colocar as pessoas e instituições pra frente.
Itair, depois de dizer que não trabalharia mais com futebol, voltou e assumiu agora o futebol do Cruzeiro. Acredita no sucesso dele? Acredita que a resistência ao nome dele no começo pode atrapalhar?
Agora ele voltou em grande estilo. Espero que dê certo. Não posso falar se o Itair é bom ou ruim administrador. Digo que ele é bem astuto. É um homem muito inteligente e essa ida para o Cruzeiro comprova o que eu digo. Saiu de Ipatinga, quebrou o time, e hoje é o vice-presidente de futebol do Cruzeiro. É uma raposa, poderíamos dizer assim.
Voltando ao Juping, porque disputar o Regional de Caratinga e investir tanto numa competição sem retorno financeiro?
Meu retorno, colocar o Juping no campeonato e fazer o investimento que estou fazendo é para levantar a autoestima de todos. Vi que o tempo passou e as coisas ao invés de progredirem a favor de futebol de Caratinga, elas regrediram. Eu diria que em 1985, o futebol de Caratinga tinha mais apoio do que tem hoje na questão de empresários, mídia, já que os jogos eram transmitidos pelo rádio. Jornal cobria, tinha programas de rádio voltados para o futebol regional. O Campeonato da LCD era tratado com glamour. Quando vim para Rio, estava disputando pela Associação e ficou aquela coisa inacabada, queria ser campeão. Então, quero ser campeão, se não for agora, que seja em algum dia. Também queria me apresentar para as
pessoas, para a sociedade de Caratinga e região. Como bom mineiro, sou apaixonado pela região e tenho coragem de fazer grandes investimentos, invisto até mesmo no que parece ser sem importância. Mas o que parece ser sem importância para os outros, para mim é de grande importância. E quero mostrar para as pessoas que quando você gosta de alguma coisa, deseja algo, não importa o que é essa coisa, se tem possibilidade de fazê-la, que a faça. Pra mim é um prazer enorme disputar com o Juping, chegar a semifinal, com possibilidade de fazer a final. É isso que eu queria. O investimento que estou fazendo é do tamanho do meu Estado, da minha cidade e da região. O campeonato está mostrando isso. Estou com o time cheio de jogadores profissionais e não está tendo moleza, já que os outros times também estão investindo e contam com jogadores profissionais. O campeonato está sendo muito disputado, mas espero ser campeão.
Com sua experiência, onde acha que nosso futebol amador precisa melhorar pra se fortalecer?
Na verdade eu acho que o futebol amador em Caratinga e região é muito bem organizado. Têm pessoas competentes, o Marcelo Cruz (presidente da LCD) já tem um trabalho invejável e se mostra muito coerente. Não vejo falta de organização, vejo que falta é apoio. Nunca vi uma cidade desse tamanho e o prefeito não valoriza a Liga de Caratinga, que tem tantos filiados. O que não consigo entender é como os administradores não percebem a relação dos outros times com suas cidades, cidades estas que são importantíssimas no desenvolvimento de Caratinga. O campeonato da Liga é um fator agregador e
isso beneficia Caratinga, que o lugar onde temos que buscar as coisas. Então não sei por que não apoiar um negócio tão barato, simples; está dentro da esfera administrativa de um governo apoiar o esporte. Vejo que não tem apoio nenhum, se não é o Marcelo e a gente, que está chegando agora para ajudar isso acontecer, vi que estavam decadentes essas questões do futebol de Caratinga. Mas fomos para aí justamente para levantar essa bandeira e essa bola. Tomara que o campeonato do ano que vem tenha umas 30 equipes e assim ficaria sensacional. Que a mídia nos ajude nesse projeto e o faça acontecer.
De todos os seus negócios, futebol é o que te dar mais prazer?
Futebol também é meu negócio, sou investidor. Tenho contato com o Botafogo, o Paulo Henrique (Ipatinga) que foi artilheiro do Mineiro B, é da empresa da qual eu sou sócio, e tenho jogador fora do Brasil. Mas futebol não é meu maior negócio. Como um amigo estava precisando de um aporte financeiro na empresa dele, eu conheço do assunto e graças a Deus está dando certo. Citei o Paulo Henrique e tem o Lucas Mineiro (Chapecoense) e outros atletas que estão começando a carreira. Mas futebol não é meu maior negócio. No futebol continuo como investidor, mas estou focado em outras coisas.
Tem planos de investir em Caratinga e região com algumas de suas empresas?
Sim, estou usando o Juping para isso, criei a Selnet, que é um provedor de internet e transformei Pingo D’água numa cidade digital. O mundo é digital e os meus investimentos são focados nisso. Tenho empresa de call center e trabalho para a OI no Rio. Credenciei-me em Minas e não tinha a tecnologia, que levei através da Selnet e vejo que as cidades pequenas não são bem assistidas na questão de internet. Pretendo levar a empresa para Caratinga e região. Em Pingo D’água, 40 pessoas trabalham no call center e isso aconteceu em quatro meses. Agora os serviços vão para Córrego Novo e Quartel do Sacramento. Então é criar empregos e criar algo na área social. Isso é algo que pretendo ter forças para continuar fazendo.
Fique à vontade para suas considerações finais
Está sendo um prazer muito grande conviver e reviver os áureos tempos de quando jogava futebol pela ASBJ e disputava o campeonato da Liga de Caratinga. Hoje sou presidente de um time que briga para ser campeão no meu primeiro ano de participação. Isso tem outro lado, que é relembrar, visitar cidades onde o Juping joga; com possibilidade de fazer negócios e ajudar as pessoas a encontrar um caminho no mundo coorporativo. Já criei 40 empregos em Pingo D’água e estou me preparando para criar mais 30. Isso me dá uma alegria muito grande, pois vi a vida inteira as pessoas saindo do interior e migrando para cidades maiores à procura de emprego. Assim acho que tem a possibilidade de manter os filhos pertos dos pais com essa minha ação de empreendedorismo. Vou continuar firme no propósito e pedindo a Deus saúde para dar conta de fazer tudo isso