Eugênio Maria Gomes
Não, eu não falarei do impressionante assalto aos caixas da Petrobrás, realizado por funcionários, políticos e empreiteiros, que se apropriaram da maior empresa brasileira para propiciar-lhes um ilícito enriquecimento. Também não falarei de todos os roubos que vêm acontecendo em cada obra do PAC – o Plano de Aceleração do Crescimento -, instituído para alavancar o desenvolvimento do país e que tem servido, infelizmente, para enriquecer um bocado de gente.
Não, não falarei das obras superfaturadas, dos desvios de verbas públicas, da má aplicação dos recursos, da necessidade de se fazer “arranjos” para que uma obra seja realizada.
Não, eu também não falarei das flores, contrariando o desejo de Geraldo Vandré, quando, no título de sua música mais famosa – “Pra não dizer que não falei das flores” -, enganou a censura e falou contra um regime totalitário e seus desmandos.
Não, eu não falarei mal dos políticos corruptos, dos administradores desonestos e dos cidadãos que se deixam corromper ou que corrompem, depredando sem dó e sem piedade o que não lhes pertence e do qual deveriam cuidar, vigiar e aprimorar, posto que foram designados por outrem para serem seus zeladores e guardiões, recebendo para isso a justa remuneração.
Não, eu não quero mesmo falar sobre nada disso. Não quero falar sobre o tamanho do roubo, sobre as empresas roubadas, sobre os governos dilacerados pela corrupção, sobre os governantes e administradores responsáveis por isso… Não quero falar de governos, de desgovernos, de administrações e gerenciamentos.
Eu quero é entender o que tem levado o nosso país a figurar, insistentemente, na lista dos países onde a corrupção mais acontece, sem que nada seja feito para que o quadro se altere… Eu quero é entender o que leva o brasileiro a querer ganhar sempre mais, com ou sem jeitinho, em detrimento do direito e da necessidade dos demais.
O pior é que esta prática vergonhosa, de tomar para si o que não lhe pertence, tem feito com que acreditemos cada vez menos nas pessoas e nas instituições. Em relação aos políticos então nem se fala. Estamos adquirindo uma aversão pela Política que em nada contribui para a melhoria desse estado lastimável em que nos encontramos mergulhados…
Eu quero é entender o porquê desta nossa complacência com a corrupção, o porquê desta nossa tolerância diante de alguns corruptos. Será que tem a ver a com nossa índole? Seria ela má? Não, não posso aceitar isso. Somos um povo generoso sim; temos, ainda, dificuldade em escolher nossos governantes; não nos incomoda ver as pessoas se enriquecendo, a olhos vistos, sem terem remunerações suficientes para isso; não temos o “sangue quente” de outros povos para insurgirmos contra os desmandos e as tiranias… Mas, definitivamente, não temos uma má índole.
Eu preciso entender o porquê de o Brasil não aplicar em seus governos e instituições os mesmos mecanismos utilizados pelos povos mais desenvolvidos do mundo no combate à corrupção.
Acredito que a resposta para todos os meus “porquês” talvez esteja em nós mesmos.
Precisamos parar de aplicar em nosso cotidiano, definitivamente, a absurda “Lei de Gerson”, que nos faz querer levar vantagem em tudo. Precisamos cobrar das instituições públicas e de seus agentes uma prestação de contas clara, precisa, decente.
Precisamos aprender a voltar o troco corretamente e a devolvê-lo quando nos é entregue incorretamente; precisamos aprender a não furar filas, a não querer reutilizar ingressos e a não colar nas provas; precisamos aprender a conferir se a utilização dos impostos que pagamos ao erário está adequada; precisamos aprender a não aceitar subornos e a não subornar os outros; precisamos aprender a não sonegar impostos nem comprar produtos piratas…
Precisamos parar de defender os contraventores; precisamos entender, definitivamente, a força do nosso voto e precisamos apagar de vez de nossas vidas o abominável entendimento de que “ele rouba, mas faz”.
Precisamos tomar gosto pela Pátria, a cantar e respeitar o nosso Hino e lutar, diuturnamente, para tirar o Brasil desta triste condição imposta pela corrupção. Precisamos aprender a ter nojo da apropriação indevida e da má utilização da Coisa Pública.
A mudança do nosso país precisa começar agora!
Mas a mudança que todos queremos, e que pode transformar nosso país, começa com uma mudança nos nossos próprios comportamentos cotidianos.
Precisamos, todos nós, os brasileiros, tomarmos nossa história na mão, e, caminhando e cantando, aprendermos e ensinarmos uma nova lição:
Vem! Vamos embora! Esperar não é saber Não precisamos ser santos! Basta que sejamos honestos!
* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.