- Eugênio Maria Gomes
Após seis meses de ausência da coluna, aqui estou, de volta aos meus escritos. No final de 2019, ao completar 500 textos publicados no DIÁRIO DE CARATINGA, decidi que seria bom dar uma “parada”, mas, nem de longe, eu poderia imaginar que ela viria envolta por uma pandemia, alterando a rotina da humanidade e ceivando milhares de vidas em todo o mundo.
No começo, logo após a interrupção das atividades laborais, loucura total: compra de vários litros de álcool 70; retirada de dinheiro, em espécie, para eventuais emergências; compra de alimentos, em maior quantidade, para estocar; confecção de muitas máscaras, para substituir frequentemente; suspensão provisória da diarista e, até, o isolamento total. Aos poucos, fomos percebendo que os cartões e cheques continuavam valendo; que alguns alimentos venceram a validade sem que pudessem ser usados; que no máximo, duas ou três máscaras eram suficientes para o rodizio; que estocar litros e mais de litros de álcool é perigoso; que a diarista poderia trabalhar, desde de que observados pequenos cuidados com a segurança e que o isolamento total da família, sem encontrar, mesmo que de longe, com filhos e netos, era praticamente impossível de ser efetivado.
Muitos migraram do isolamento para o distanciamento social, outros sequer se preocuparam com isso ou não puderam manter tal distanciamento, enquanto alguns simplesmente não acreditaram na virulência do covid-19. Aconteceu, e ainda acontece, de tudo: isolamentos inadequados levaram alguns aos hospitais, assim como o fez a descrença na própria existência do vírus, não obstante as milhares de vidas perdidas, noticiadas diariamente. Para alguns, a ficha somente caiu quando a tristeza rondou o seu entorno. Hoje, podemos afirmar, sem qualquer medo de errar, que cada brasileiro teve notícias de alguém conhecido que tenha perecido ou sofrido muito por conta do tal coronavírus.
A pandemia ainda persiste e os que se encontram no “grupo de risco” continuam em isolamento ou, então, mantendo o mais cuidadoso distanciamento social. O que, às vezes, nos parece sem sentido, já que muitas pessoas idosas e portadoras de doenças pré-existentes tornaram-se imunes sem a apresentação de sintomas mais sérios, enquanto outros, jovens, sofreram horrores nas diversas UTIs espalhadas pelo país. Mas, como a maioria dos que morreram, encontravam-se na faixa etária acima dos sessenta anos e, ainda, apresentavam comorbidades, a turma tem acreditado na máxima de que “o seguro morreu de velho”. De certo, o que temos, é que milhares de pessoas passaram ou estão passando, pelos mais tristes momentos de suas vidas.
Permaneci por exatos cento e setenta dias em isolamento social. Reformei a minha casa, passei, lavei, cozinhei. Gravei vídeos diariamente, como forma de interagir com as pessoas, de desabafar, de motivar a mim e aos outros. Valeu a pena. Nesse período, arranjei assunto para alguns novos livros: “Reflexões de Uma Quarentena”, em parceria com o sobrinho e psicólogo Caio César; “170 dias de devaneios”, este autoral e “Sons do Silêncio”, projeto literário a ser desenvolvido em parceria com Alim Rocha e Almir Morgado.
Como aprendi neste período! Sim, penso mesmo que cresci, que amadureci ainda mais, ratificando os meus cabelos grisalhos e as rugas que teimam em sobressair quando sorrio ou franzo a testa. Prossigo no isolamento social moderado, mas rígido no distanciamento social, até que alguma coisa boa chegue, de vez, para dar o cartão vermelho à esta pandemia. Domingo que vem nos encontraremos aqui, se Deus quiser!
… Quero lá, lá, lá, ia, porque eu tô voltando!
- Escritor e funcionário da Funec