Walber Gonçalves de Souza
O século XXI para muitos é considerado o século do conhecimento. Nunca na história deste país, acredito que todos já tenham ouvido esta frase, o conhecimento esteve tão acessível. Basta querer conhecer!
Não afirmo isto pensando somente nas possibilidades que a internet nos proporciona; as quais são infinitas, pois sabemos que ela é nos dias atuais um dos meios mais usados pelas pessoas como fonte de conhecimento. Mas refiro-me também à popularização de uma série de outros meios, como os diversos canais de televisão, disponíveis para os mais variados gostos, as bancas de jornal repletas de intermináveis tipos de revistas, e outra coisa que boa parte das pessoas apostaria que iria acabar, mas por incrível que possa parecer, a cada ano está crescendo mais, a publicação de vários livros, que atende também a todos os públicos com gêneros literários de indizíveis estilos e tudo isto com uma característica em comum, a variação de preço que se torna acessível à todos os interessados pelos saberes.
Agora, uma pergunta poderia surgir em meio a esta realidade: por que, na sociedade que vive na era da informação, sentimos uma sensação de estarmos vivendo em uma selva, como diria o filósofo Hobbes, o homem sendo o lobo do próprio homem? Um paradoxo estranho, esquisito e difícil de entender.
Assim percebemos que só conhecer não é o suficiente. Às vezes digo para os meus alunos, o conhecimento deve servir para sermos um profissional melhor, deve servir para vivermos bem, deve servir para termos uma vida financeira saudável, deve servir para adquirimos saberes, deve servir para ampliar nossa cultura, deve servir para tantas coisas… mas elas só terão realmente valor e importância, se o conhecimento, antes de qualquer coisa seja útil para que cada um de nós se torne um ser humano melhor. E é justamente aí que está a espinha dorsal de todas as outras conquistas. Caso contrário poderemos ter tudo, mas nunca seremos nada.
Verificamos neste contexto o desafio do terceiro milênio, continuar ampliando e fornecendo informações, conhecimentos, mas ao mesmo tempo, proporcionar o desenvolvimento da maturidade, dos valores essencialmente humanos que serão as colunas de sustentação dos saberes, do conhecimento.
Os mestres do pensamento, os grandes filósofos da humanidade já alertavam para esta situação há séculos. Sócrates, Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Santo Agostinho… ancoraram todas as suas ideias não somente na construção do conhecimento, mas na forma como ele é empregado, valorizado e vivenciado pelas pessoas.
Eles alertavam também sobre o perigo do conhecimento quando ele é manipulado para atender a interesses escusos de pequenos grupos, levando o indivíduo ao processo de alienação ou defesa cega de ideologias. Identificaram estas pessoas como sofistas, pois usavam do conhecimento, da palavra, para enganar, ludibriar as pessoas.
O conhecimento transforma a vida quando acreditamos e temos consciência dele. Se sei alguma coisa sobre algum assunto, mas não acredito no que sei, não vejo sentido naquilo, portanto o conhecimento adquirido estará simplesmente ocupando uma parte do nosso cérebro e nada mais. Por isso sabemos de tantas coisas e no dia a dia observamos poucas e lentas mudanças. Para ilustrar, cito exemplos banais do nosso cotidiano, sabemos a hora da coleta de lixo, mas continuamos mantendo o hábito de colocar o nosso lixo na calçada a qualquer momento; sabemos que conversas paralelas em sala de aula ou ambiente de conferência atrapalham, mas insistimos nos cochichos com o colega mais perto; sabemos que o mosquito da dengue prolifera em ambientes com água parada, mas deixamos nosso quintal sujo, a calha sem manutenção; sabemos que açúcar e sal em excesso é super danoso à saúde, mas mantemos hábitos alimentares carregados destes ingredientes; sabemos que é preciso fazer exercícios físicos, mas preferimos uma vida mais sedentária… imagine quantos exemplos poderiam ser descritos aqui.
O conhecimento é o caminho que trilhamos para melhorar a nossa vida. Mas acredite no conhecimento que é adquirido, senão o risco de se tornar inócuo será muito provável e assim nenhum esforço valerá a pena, nada adiantará. Lembrando Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”; isto é, de nada adianta se o conhecimento é grande se a alma não se transforma através dele.
Walber Gonçalves de Souza é professor.