* Celso Simões Caldeira Júnior
Há algum tempo um texto na internet nos chamou a atenção falando sobre um morador de rua que havia sido preso e seu cão sem entender o que estava acontecendo o acompanhou dentro da viatura. Não sabemos por que o indivíduo foi preso e nem qual foi o final da história, mas esse texto chamou a atenção por causa do cão e da fidelidade pelo seu dono. Pois é, eles são assim mesmo.
Esses seres peludos de quatro patas há anos acompanham o homem, sejam no campo, ou como guias, sejam em casa como companhia, ou como cães de guarda. Eles vêm conquistando cada vez mais as pessoas mundo afora. Hoje nossos amigos trabalham até mesmo como reabilitadores de pacientes com diversas patologias – a chamada Pet terapia. Sabidamente sabe-se que o mundo pet tem crescido exponencialmente por conta desses seres. Mas por quê? Entendemos que por razões óbvias: amizade, companheirismo, doação, lealdade, fidelidade.
Certa vez nosso pai – sogro nos disse que amigos verdadeiros não preenchem cinco dedos de uma mão. Mas será que isso vale para os cães? Esses sim são amigos incondicionais, não cobram nada além de um cafuné no pé do ouvido, ou na barriga. E mesmo que o repreendamos por alguma traquinagem, eles sempre estão por perto, com aquele olhar pedindo clemência, abanando o rabo, esperando que lhe façamos algum agrado.
Ao adquirir um cãozinho, de raça ou “vira-lata” temos que ter em mente a necessidade e responsabilidade imposta por tal fato. É muito comum que enquanto filhote o mesmo seja tratado como “rei” pelos donos: Ah! Ele é tão pequeno e fofinho… E à medida que crescem alguns donos acabam perdendo o interesse – “já está velho”, “dá muito trabalho”, abandonando-o. Uma coisa é certa: após a chegada dele em sua casa o ambiente NUNCA mais será o mesmo, principalmente se forem criados dentro de casa como membros da família. Mas e quando morrem??? Repito: sua vida nunca mais será a mesma!!!
Eles chegam em nossas vidas de uma maneira suave, sorrateira, como quem não quer nada, muitas vezes desconfiados e outras atrevidos, verdadeiros furacões. Logo nas primeiras semanas TUDO se transforma em nossa casa: por vezes você acorda com aquele bafo de biscoito na sua cara; outrora fazendo graça chamando para brincar; “Opa!!! Tem xixi no sofá”, “Ai meu Deus, ele roeu o pé da mesa! Acabaram com as cadeiras!”. Mas aos poucos, e nem com tanta demora assim, eles vão se adaptando às rotinas do lar, dos donos, de tudo… e com a nossa ajuda eles vão aprendendo a fazer suas necessidades nos devidos lugares, trazem sorrisos aos nossos dias, fazem companhia ímpar, enchem nossos corações com amor – e amor mesmo! Basta que tenhamos paciência, dedicação – sim eles precisam de nosso tempo, precisam ser orientados e devidamente cuidados, assistidos (banhos, vacinas, alimentação, água fresca). Muitos falam sobre cães agressivos, violentos, que atacam e mordem – uma coisa é certa, eles se moldam conforme o que recebem. São dóceis aqueles que recebem bons tratos! Seres humanos são assim, eles também.
Uns peludos, outros enrugados, corpo comprido, cabeça quadrada, nariz de hipopótamo ou focinhos delicados, muitas vezes babões – são capazes de tornar uma casa alegre, cheia, como “crianças” correndo, pulando, com brinquedos espalhados para todo lado, assim são os cães! “Crianças” ativas, curiosas, exploradoras do ambiente em que vivem e à medida que crescem. Como um passe de mágica, passam a fazer parte de nosso convívio social; se tornam parte integrante de nossa família. Lembramos de quantas vezes precisamos mudar nossos planos por conta deles. Adiando viagens, passeios e saídas noturnas – não nos arrependemos disso. Quando você se dá conta eles invadem sua vida e você já se vê incluindo eles em seus planos, se vê no pet shop escolhendo o melhor brinquedo ou biscoito, procurando um bom veterinário, o melhor tratamento… E investe não só o dinheiro – e bastante – para aquele que é especial pra você, mas investe atenção, coração, doação! Talvez algumas pessoas não consigam pensar assim – tudo bem! Respeitamos isso também. Mas quem já sentiu e sente sabe exatamente do que estamos falando: amor e lealdade são coisas mútuas! Você sente falta da presença, você conta as horas para chegar em casa porque sabe que ali estarão te esperando na porta, para recebê-lo como se você fosse o melhor presente do mundo, e assim pularão em você ou em volta deles mesmos, latirão como quem quer dar as boas vindas, correrão atrás do brinquedo preferido para te agradar. A cauda sempre abanando, o chafariz do focinho molhado, as orelhas sempre atentas parecendo um radar, as lambidas inesperadas, o jogo de empurra-empurra por um espaço na ponta do colchão junto ao seu pé… e acredite quando isso não acontece por algum motivo, você sente falta.
Posses materiais somente a que recebem de você! Quando morrem deixam de herança um osso de plástico todo ruído, uma meia bola de borracha, a coleira toda rasgada em uma das extremidades, brinquedos com apitos que eles adoravam mordiscar só para ouvir o barulho. Comer coisas simples, como uma banana nunca mais terá a mesma graça sem eles. No final de tudo deixam uma imensa saudade e a certeza de que valeu à pena. Temos muito a aprender com eles – seres espirituais numa jornada canina. A missão deles é somente uma: ensinar-nos a sermos melhores, mais humildes, mais humanos ou mais caninos. Deixamos como registro a frase de um autor desconhecido: “Eles vivem menos porque já nascem sabendo amar de uma forma que levamos a vida inteira para aprender”.
* Celso Simões Caldeira Júnior, Fisioterapeuta, Professor do Curso de Fisioterapia da UNEC – Centro Universitário de Caratinga.
Mais informações sobre o autor: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4234051J6