Maioria dos alunos será matriculada na Escola Estadual Ludgero Alves
CARATINGA – No período da Ditadura Militar (1964/1985), os colégios polivalentes começaram a ser edificados, por meio de assinatura de acordos em que recursos financeiros vindos dos Estados Unidos foram destinados à educação brasileira. A criação destas escolas cumpria a chamada Reforma Educacional, prevista na Lei nº 5.692/71, com objetivo de reformular os ensinos de 1º e 2º graus, introduzindo ao último, cursos profissionalizantes, tais como práticas agrícolas, comercial, industrial, e educação para o lar.
Com o final dos acordos, toda aquela estrutura começou a se perder aos poucos. Era tarefa
difícil manter o funcionamento dos laboratórios de práticas e logo esse modelo de escola foi desaparecendo. Mas, durante o tempo em que funcionou marcou época em muitas cidades mineiras e Caratinga foi uma das contempladas. Porém, assim como nos outros casos, a estrutura foi se perdendo e o Polivalente deu lugar à Escola Estadual Maria Isabel Vieira, com as disciplinas básicas de uma escola comum.
Os anos se passaram e a escola, que apesar de não abrigar mais os moldes daquele ginásio, continuou a ser chamada de Polivalente. No entanto, o número de alunos foi reduzindo ano a ano, fazendo com que este ano surgissem os primeiros rumores sobre o seu fechamento. A sede 62° Batalhão da Polícia Militar, que será construída em Caratinga, precisava de um espaço adequado e que oferecesse estrutura suficiente para abrigá-la. Os militares fizeram pesquisa de qual prédio público estaria perdendo a sua finalidade.
Com a decadência que se refletia em baixo número de alunos e estrutura bastante deteriorada, o local mostrava não ter mais condições de abrigar uma escola. No dia 6 de outubro de 2015 foi anunciado que o imóvel, localizado à Rua Professor Colombo Ettienne Arreguy, Bairro Nossa Senhora Aparecida, daria lugar ao batalhão.
O DIÁRIO DE CARATINGA esteve novamente onde ainda funciona a escola. Funcionários trabalham resolvendo pendências na parte de documentação. As salas de aula estão vazias. Algumas, com poucos alunos. Nesta reportagem especial, falamos sobre o destino dos alunos e conversamos com pessoas que já passaram pelo Polivalente.
A Lei n° 61/70 que autorizava doação de área para construção do Ginásio Polivalente em Caratinga, data de 26 de novembro de 1970.
De acordo com o prefeito da época, Antônio de Araújo Côrtes, a construção seria de grande importância, considerando que “a CAPRE estava construindo em todo o estado de Minas Gerais ginásios Polivalentes e que, para Caratinga, este seria mais um passo no combate ao analfabetismo”.
Para concretizar o projeto, a administração firmou convênio com a CAPRE, fazendo-se
necessária a doação de um terreno ao estado.
A Câmara Municipal de Caratinga autorizou a Prefeitura a doar uma área na zona “suburbana da cidade, medindo 20.000 m², entre o Bairro Limoeiro e a Rua Professor Olinto, confrontando com terrenos de patrimônio e herdeiros de Francisco Pena”.
Nascia assim, o Ginásio Polivalente de Caratinga. Bons tempos e de ensino de qualidade, como relembra Maria Helena Rosa Pena, que trabalhou 17 anos na escola, nos anos de 1982 a 1999 e já foi diretora. “O Polivalente era uma escola grande, tinha 33 turmas. Funcionava de manhã, de tarde e a noite, com cursos de 5ª a 8ª e segundo grau em técnico em contabilidade e científico, que é o ensino médio hoje. Era uma escola que tinha laboratório, práticas industriais, práticas comerciais. O aluno colocava a mão no material para construir. Era uma escola muito dinâmica, gostava muito de competir no esporte. E dentro do Polivalente saíram muitos alunos que hoje são referência na nossa cidade e outros estados, médicos, engenheiros, contadores e muitos trabalhadores do comércio que são orgulho da escola”.
Ao longo dos 17 anos de serviços prestados ao Polivalente, Maria Helena trabalhou como auxiliar de biblioteca; foi vice-diretora por muitos anos e diretora por dois anos. Para ela, um lugar que marcou a sua trajetória profissional. “O aluno tinha base, bons professores e era uma escola de nome, de peso para Caratinga. O meu filho estudou lá só um ano, mas fala que foi o ano que marcou a vida dele”.
Muitas são as teorias em torno do motivo da escola ter se perdido e tendo que fechar as suas portas. “Foi diminuindo a clientela, foram fazendo outras escolas perto também. Mas, não sei o que levou, o porquê dessa decadência de ter que fechar. Assim que aposentei não voltei lá mais. Mas, é muito triste. Acabou a escola, mas o Polivalente não sai da história, ficou marcado”.
Para alguns, o fechamento da escola é um processo natural, que acompanha a realidade de cada época. É o que pensa, Pedro José da Silva, de 82 anos, professor aposentado, que lecionou no Polivalente por 13 anos. “A gente não pode criticar, é questão de época, é preciso se adaptar. É preciso acompanhar o mundo. Acompanhar época não significa que vai se misturar com aquilo que está ali, tem que ter sua maneira de ser para ajudar alguém, mas não adianta criticar deputado, senador, presidente. Se quer ajudar alguém olhe para você primeiro. Crítica não adiantará nada”.
RETA FINAL
As últimas turmas terão aulas até o dia 22 de dezembro. A maior parte dos alunos será matriculada na Escola Estadual Ludgero Alves. Alguns alunos já haviam pedido transferência logo que surgiram as primeiras informações de que a escola seria fechada e absorveram vagas disponíveis em outras escolas, tais como, a Escola Estadual Engenheiro Caldas e a Escola Estadual José Augusto Ferreira, o “Estadual”.
De acordo com a diretora, Elenice Pereira, aqueles encontraram vagas em outras escolas, tiveram respeitado o seu critério de escolha, mas a maior parte deles já tem destino certo. Não é o caso dos professores efetivos, que já pediram remoção, mas ainda não sabem onde serão lotados.
A diretora destaca que toda a documentação dos alunos que irão para o Ludgero já está sendo encaminhada e os históricos escolares também estão disponíveis para que possam realizar suas matrículas. “O aluno leva seu histórico, pois sua pasta na escola já vai ficar no arquivo morto”, explica.
Em relação à Escola Estadual Ludgero Alves, a diretora Silvana Cristina de Souza, garante que há condições de atender os alunos, tanto em relação à rede física, quanto de funcionários e professores. “Entendo que se aumentar o número de alunos, com certeza a Secretaria vai aumentar também o número de funcionários para atender aos alunos. Então a escola já sabe, foi informada pela Superintendência de Ensino que irá receber esses alunos do Polivalente e tem toda estrutura, como uma quadra poliesportiva recentemente construída e carteiras novas que recebemos esse ano”.
Hoje o Ludgero está com 320 alunos, distribuídos nos turnos matutino e vespertino, entre ensino fundamental e médio. Não há aulas no noturno. Porém, com a chegada dos alunos do Polivalente, há a possibilidade de abertura de novas turmas. “Só depois que a gente tiver os alunos matriculados vamos ver as necessidades. Mas, o estado já deixou claro que se for necessário vamos abrir novas turmas, porque a escola tem disponibilidade de sala de aula para atender”.
DIAGNÓSTICO DA ESCOLA
Com base nos resultados da Prova Brasil 2013, é possível calcular a proporção de alunos com aprendizado adequado à sua etapa escolar na Escola Estadual Maria Isabel Vieira. De acordo com os dados, ambos para o 9º ano, em Português, quesito “Competência de leitura e interpretação de textos”, dos 36 alunos, 10 demonstraram o aprendizado adequado.
No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb 2013) anos finais, a escola atingiu a meta e cresceu, mas não alcançou 6,0. O resultado da escola foi 3,8.
Já em relação à matemática, na “Competência de resolução de problemas”, dos 36 alunos, 7 demonstraram o aprendizado adequado.
Com base no Censo Escolar 2014, o número de matrículas registradas foi de 119 nos Anos finais (5ª a 8ª série ou 6º ao 9º ano)-, 130 no Ensino Médio e 16 para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Distribuídos por série esses números são de 24 matrículas para o 6º ano do Ensino Fundamental, 33 para o 7º ano do Ensino Fundamental, 36 para o 8º ano do Ensino Fundamental, 26 para o 9º ano Ensino Fundamental, 27 para o 1º ano do Ensino Médio, 28 para o 2º ano do Ensino Médio e 29 para o 3º ano do Ensino Médio.
Os dados de acessibilidade apontaram que a escola não é acessível aos portadores de deficiência, assim como suas dependências, incluindo os sanitários. Em relação à infraestrutura, possui sanitário, biblioteca, cozinha, laboratório de informática, quadra de esportes, sala da diretoria e dos professores. Mas, não possui laboratório de Ciências, sala de leitura e sala de atendimento especial.
Se tratando de saneamento básico, o abastecimento de água e de energia é realizado por meio da rede pública, assim como o destino do esgoto. O local também conta com coleta periódica do lixo.
A escola possui internet banda larga, sendo 18 computadores para uso dos alunos e quatro para uso administrativo.
Os dados de infraestrutura e matrículas representam a realidade informada pela rede de ensino e suas escolas no Censo Escolar 2014 até a última quarta-feira do mês de maio. Os dados são públicos e oficializados pelo Ministério da Educação.
3 Comentários
Cleinide
Eu Cleinide Antunes Barbosa tenho muito a agradecer a esta escola ,principalmente ao meu amado professor Pedro.Foi ele quem me inspirou a ser a professora que sou hoje .Tenho 39 anos e aos 13 tive o privilégio de ser aluna desse grande professor.
Flávio
Sou Flávio Furtado e estudei nesta escola a anos atrás, e agora preciso de um comprovante que realmente estudei na escola Polivalente. Onde devo recorrer para conseguir este documento?
Márcia de Lourdes Martins Lopes
Estudei nesta escola a anos atrás, e agora preciso de uma declaração de escolaridade da escola Polivalente. Onde devo recorrer para conseguir este documento?
E fico muito triste pelo fechamento da escola