Convidado do Diário Entrevista comentou derrota do PMDB na disputa para prefeito em Caratinga
CARATINGA- José Moisés Nacif Júnior, ex-deputado estadual do PMDB na década de 80 e um dos principais nomes do partido na cidade; foi um dos convidados desta semana do Diário Entrevista. Ele falou abertamente sobre os resultados do pleito do dia 2 de outubro de 2016 que foram favoráveis ao Legislativo, mas decepcionaram na disputa pelo Executivo.
José Moisés afirma que prefere manter uma postura sincera e encarar que a chapa majoritária do PMDB não deu certo: “(…) estávamos em uma eleição perdida, nós sabíamos. Tínhamos pesquisas diárias, semanais, de informativos da capital, só que ninguém fala que a guerra está perdida”.
Ele também comentou sobre os rumos do partido daqui pra frente e da atuação dos deputados peemedebistas Mauro Lopes e Adalclever.
O PMDB ganhou várias prefeituras na região, mas perdeu em Caratinga. Qual sua opinião sobre este fato?
Política é a arte de ir e vir. É uma via de mão dupla, a gente não só ganha, mas também perdemos. E apesar de eu achar que o Mauro Lopes foi o grande vitorioso nessas eleições, nós perdemos em Caratinga, por causa de algumas circunstâncias que talvez estivessem até previstas. Os nossos candidatos a vereador tiveram 10 mil votos e o nosso candidato a prefeito teve pouco mais de dois mil votos. Então, se fizermos um comparativo nisso, a gente vê que o PMDB é muito forte, grande e bom. O candidato nosso é que não sei o porquê, se foi uma imposição dele de querer ser candidato a qualquer custo, criou uma antipatia dentro do partido e houve um racha do PMDB. Mas, o racha do PMDB foi só quanto ao candidato a prefeito. Fizemos os três vereadores e mais um na coligação. Então, acho que o Mauro Lopes foi um vencedor. Outro fato interessante é que nas cidades vizinhas ganhamos quase todas. Agora, Caratinga é uma cidade sui generis. Doutor Welington, grande amigo, companheiro, nos acompanhava, eu, Mauro Lopes e outras pessoas em várias cidades perto de Manhuaçu. Ele era o delegado regional de lá, sempre junto conosco. Doutor Welington depois veio para Caratinga até pelas mãos do Mauro Lopes, inclusive participou do diretório do PMDB, mas a gente não é o dono da verdade. Não pode falar o que aconteceu. Não sei, talvez algum motivo tirou doutor Welington do PMDB e ele veio a ser candidato a prefeito e ganhar as eleições. Acho até que esse fato tenha acontecido em várias outras cidades. É a novidade, o que não é político profissional. Você vê isso em São Paulo, agora o Kalil em Belo Horizonte, está o Trump nos Estados Unidos sujeito a ganhar uma eleição do maior país do mundo. Então, a gente não pode falar porque que aconteceu isso. Acontece.
Então, o que pode ter dado errado na articulação da chapa majoritária do PMDB em Caratinga?
Um ditado popular diz o seguinte: “Filho feio não tem pai”. Hoje, faço parte do diretório, mas sou delegado do PMDB e já fui vice-presidente. Nós do PMDB fizemos várias reuniões, não na véspera da eleição, mas anteriormente e toda reunião que nós fazíamos a voz era unânime: “Nós não podemos mais ser carona. Temos que ser cabeça de chapa”. Você não é dono da política, você faz parte da política. Por isso, tem que escutar o número maior de companheiros. Escutei isso várias vezes, o deputado estava presente em várias reuniões. Foram falando isso e o partido não quis voltar atrás. Então veio o questionamento: “Quem será o candidato?”. Esse foi o nosso problema. Odiel se lançou: “Eu sou o candidato do PMDB. Eu sou vice-prefeito, a vez é minha e eu quero ser candidato a prefeito”. Criou, blindou dentro do partido o nome dele. Talvez outras lideranças que pudessem surgir afastaram-se. O Odiel já tinha se lançado, era o vice-prefeito. Foi isso que aconteceu e infelizmente o nome do Odiel não empolgou. Foi um candidato sem sal.
E como foi a atuação do deputado-federal Mauro Lopes diante dessa situação?
O Mauro como sempre muito leal, sincero e amigo, secretário nacional do PMDB, como ia deixar de apoiar um candidato do partido? Quando você é amigo, não vê defeito, só virtude. Esse é o papel do amigo. E eu sou realmente amigo do Mauro Lopes. Não sou funcionário do Mauro, não recebo nada dele; nós criamos uma amizade fraterna, verdadeira, somos quase que irmãos. Não interesse nenhum nisso, por isso sempre defendo o Mauro, porque só vejo nele virtudes, não vejo defeitos. E a grande virtude que vejo no Mauro é essa, ser companheiro. Ele é de Caratinga, quantas coisas trouxe pra cidade, essa avenida que leva para a faculdade, a própria faculdade de medicina de Caratinga, o asfalto da cidade na época do sô Dário Grossi, a ajuda que ele dá para a Asadom, Núcleo do Câncer e as pessoas que ele ajuda. As máquinas, ambulâncias, o dinheiro que ele manda para o hospital e às vezes as pessoas falam que ele não faz nada para Caratinga. Quem é que faz então?
Diante desse cenário, houve uma fragmentação do partido na cidade. Como foi enfrentar esse impasse?
Nós temos recebido alguns telefonemas e visitas de candidatos a vereadores que ganharam e querem somar conosco. Mas, eles querem somar com Mauro Lopes, pois sabem que ele é o grande líder da região. É deputado federal já no sexto mandato e hoje uma pessoa respeitadíssima no meio político nacional. O Mauro já foi cotado pra ser ministro, não ficou porque não quis. Amigo pessoal do Michel Temer, sei que eles se falam sempre por telefone. Nessa história de Caratinga, o nosso candidato é que não teve a liderança pra levar junto com ele esse grupo grande que é o PMDB. Bené, vice-presidente do partido, não tinha vontade e não acompanhou, professor Antônio Fonseca, Eugênio Maria Gomes, a própria Landinha, nossa delegada de Ensino. Eu inicialmente fui totalmente contra e Odiel sabe disso, não falo nada pelas costas. Mas, eu como Mauro Lopes também sou um cara leal e fiel. Na hora que falou que ele era o candidato, cedi todo o meu movimento ali na Rua Nova, escritório, casa, garagem, armazém. Sou companheiro.
Como Mauro Lopes e Adalclever pretendem se relacionar com o prefeito eleito Dr. Welington (DEM), que foi oposição; em prol de Caratinga?
Tenho certeza absoluta que não vai mudar nada. Eles vão continuar mandando as coisas para Caratinga, porque aqui é a terra deles. Eles vão continuar ajudando o prefeito de Caratinga, porque são políticos. Vão continuar trabalhando por Caratinga, porque tenho certeza que isso aqui é o coração da família Lopes.
O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Adalclever Lopes, também não acompanhou a campanha em Caratinga. Por que ele optou por permanecer distante?
Não posso falar muita coisa por ele. Mas, no meu entendimento, ele também é muito leal e não podia ficar contra o pai dele. Ele não podia deixar de ser PMDB em Caratinga, mas também não queria bater de frente com o Marco Antônio, porque sei que a amizade deles é muito grande. É o prefeito de Caratinga, Adalclever lhe acompanhou desde as primeiras candidaturas. Ele ficou numa camisa de força. Seria uma indelicadeza dele, vir para Caratinga fazer uma campanha assim. Então ele se resguardou, a impressão que tenho é essa. É um grande companheiro, peemedebista mesmo; não tenho dúvida disso, mas não quis, principalmente sabendo que nós estávamos em uma eleição perdida, porque nós sabíamos. Tínhamos pesquisas diárias, semanais, de informativos da capital, só que ninguém fala que a guerra está perdida.
A ALMG recebeu no final do mês passado, a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o governador do Estado, Fernando Pimentel (PT). O que o senhor pensa sobre esse assunto, uma vez que o presidente da Casa é um membro do seu partido?
O Adalclever como o pai é muito leal. E ele foi leal ao Pimentel, ao PT e é até hoje. Ele respeita muito o Pimentel, achamos que o Pimentel é um grande governador. Mas, essas acusações, inalações que existem por aí, a gente não pode afirmar nada. Só acho que o Adalclever é uma pessoa muito sensata e se tiver que tomar alguma decisão vai ser a mais sábia possível.
O que o senhor está achando de Michel Temer como presidente?
Estou sendo surpreendido pela coragem e capacidade do Michel de governar. Ele tem tomado medidas impactantes e antipopulares. Estou falando que me surpreendo, mas no fundo não tenho que me surpreender, porque toda vez que o Brasil precisou de decisões importantes, o PMDB disse sim e estava presente, desde Ulysses Guimarães. Então, acha que Michel vai passar a história do Brasil como um homem que realmente colocou o Brasil nos trilhos novamente.
Como as duas lideranças do PMDB, Mauro Lopes e Adalclever, pretendem se projetar para os próximos anos?
O Adalclever deve se reeleger presidente da Assembleia, vai ter mais dois anos, ou seja, ficar mais quatro anos na presidência. Isso cacifa Adalclever a ser candidato ao que ele quiser; inclusive a governador do estado de Minas Gerais. O Mauro Lopes é sempre consultado para todas as decisões do partido e toda a vida na história de Minas Gerais, quando teve duas vagas para o senado, uma foi do PMDB, a outra do PSDB e sempre foram eleitos candidatos a senadores. Então, Mauro Lopes hoje está cacifado para ser candidato ao Senado da República, pela sua idoneidade, seu passado e pelo que representa no partido em Minas Gerais.