- Eugênio Maria Gomes
Impressionante como o embate político, às vezes, se desenvolve em cidades do interior, principalmente em uma cidade como Caratinga. Aliás, em alguns casos, nem sei se podemos denominar ao que acontece por estas bandas de Política, posto que está mais para “politicazinha” ou, politicagem. Para algumas pessoas, o processo é tão importante e, a disputa para elas é tão acirrada, que elas passam a evitar até os amigos e parentes, caso esses sejam do partido oposto ao delas.
Alguns candidatos – os mais sérios – costumam passar muito aperto. É um tal de “preciso de um exame”, “pague a minha conta de luz” e “apresente-me à empresa x”, que o candidato costuma se arrepender por ter entrado no jogo. Sem falar do fato de que o candidato transforma a sua vida e a de seus familiares em vidraça, assim que resolve se candidatar. O que não faltam são pedidos de favores – como se o voto pudesse ser uma moeda de troca – e xingamentos quando o resultado é a negativa ao pedido.
Outra curiosidade da nossa “Política” é a maneira de pensar e de fazer Política de alguns caciques – de alguns “coronéis” também. Sim, nós ainda os temos por aqui -, e de como eles influenciam parte do eleitorado. Não consigo conceber a ideia de que alguém possa determinar em quem o eleitor deva votar, apenas porque ele é o seu “líder” ou, o “mandachuva” do partido A ou B. E nós temos visto isto por aqui, pessoas declarando voto em candidato em que ele jamais votaria, apenas porque o seu “líder” assim o determinou. O voto precisa ser consciente, limpo, honesto, fruto de uma profunda verificação acerca do candidato e de suas propostas. Onde está o Plano de Governo? O que o candidato pretende fazer pela Saúde, pela Educação, pela Segurança? Como ele conseguirá governar diante da grave crise por que passa o país e que se reflete na redução dos valores dos recursos enviados aos municípios?
Essas são questões que precisam ser respondidas por cada eleitor, responsável que é por influenciar, através da escolha de seus representantes, a qualidade de vida que ele, a sua família, os seus amigos e os demais cidadãos terão nos próximos quatro anos. São perguntas que não podem ser respondidas por determinações recebidas dos “caciques”, do tipo: “vote no fulano”, “vote no sicrano”. Também não podem ser respondidas porque o fulano não lhe deu um emprego ou porque o sicrano não pagou a sua conta de água, ou não ajudou-o na compra dos remédios. O voto tem um significado muito maior do que o de ser, apenas, o agradecimento a um pedido pessoal não atendido. Ele precisa ser o resultado de uma profunda pesquisa sobre aqueles que conduzirão os destinos da cidade e, por conseguinte, os de seus cidadãos, nos próximos quatro anos.
Outro ponto que chama a atenção em alguns casos dessa nossa maneira de pensar e fazer Política é como os adeptos de determinado grupo, partido ou liderança passam a agir nesse período de eleição. Primeiro porque eles praticamente se esquecem de suas individualidades e atuam nesse período como se fossem o próprio “líder”. Eles incorporam o personagem. Se o tal “líder” for uma pessoa que desconfia de tudo e de todos, eles também agem assim. Desconfiam de tudo, não acreditam na boa fé de ninguém e começam a pensar que as pessoas que se posicionam de outra forma em relação ao seu candidato – inclusive aquelas com quem convivem há muito tempo – estão sempre prontos a criar uma “casa de caboclo” para eles. Depois, passam a evitar os amigos e, em alguns casos, são capazes de fazer coisas, não apenas proibidas pela Lei Eleitoral, mas que vão em sentido contrário à Moral e à Ética.
De todas as mudanças ocorridas na Lei Eleitoral para esse Pleito, algumas merecem destaque especial: a redução do tempo de campanha, a redução do número de comícios, a determinação do valor a ser gasto – assim como a sua origem -e, claro, a drástica redução da poluição visual. É claro que não poderíamos deixar de pensar que uma redução do tempo de campanha significará menor tempo para avaliar os candidatos. Nada que um pequeno esforço na busca de informações sobre a vida pregressa do candidato, sobre as suas competências e sobre o seu Plano de Governo, não resolva.
Por falar em Plano de Governo, em uma cidade próxima – que já foi distrito de Caratinga -, um candidato tomou uma atitude exemplar: com antecedência reuniu representantes de vários segmentos da cidade, levantou e elencou as necessidades das comunidades, discutiu com eles as principais ações a serem tomadas e elaborou, com eles, o seu Plano de Governo. E mais: com o orçamento reduzido pela Lei Eleitoral, o candidato priorizou os gastos e mandou confeccionar exemplares do Plano e tem feito a sua campanha entregando-os aos eleitores, discutindo com eles a sua plataforma de governo. Uma atitude, sem dúvida alguma, nota 10!
E você, caro leitor, se por acaso se desentendeu com alguém, se tem evitado os seus amigos, se anda desconfiado de tudo e de todos por conta da Política local, pare com isso. Há de ter coisa mais importante para você fazer nesse momento crucial da nossa cidade, como por exemplo, pensar em dar um voto consciente, um voto decisivo para o bem estar de todos. Sem rancor. Sem ódio. Sem baseá-lo em questões pessoais e nessa “politicazinha” que só perpetua o atraso para todos. Ademais, o processo político passa, os caciques adversários – todos eles – se abraçam e é bem possível que você fique aí, de carão.
- Eugênio Maria Gomes é professor e pró-reitor de Administração da Unec. É membro da ACL – Academia Caratinguense de Letras e da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni. É Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG, membro da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga, do Lions Itaúna e do MAC – Movimento Amigos de Caratinga.