Micronésia é país!
Quem não vai lembrar-se daquela lista de estados e capitais que memorizávamos para a prova de geografia? E os questionários? 15, 20 questões, que apareciam nas avaliações com as mesmas vírgulas que escrevíamos no caderno. Eu me lembro de uma professora que ditava as respostas. Pensando em minha própria experiência, daquela época pra cá, pouca coisa da “decoreba” ficou em mim. Hoje eu acertaria alguns estados e suas capitais (especialmente aqueles por onde andei e ando), não tenho a menor ideia dos nomes dos elementos da tabela periódica. Mentira! Eu sei CO2, H2O e O2. Porém, se eu precisar dessas informações, tenho em mim desenvolvidas, habilidades que me fazem chegar até elas. Consigo ler mapas, tabelas, consigo investigar informações, identificar e fazer comparações. Sei selecionar dados. Então o que é importante no processo da aprendizagem escolar? Habilidades ou Conteúdos? Eu respondo com a seguinte frase: “O tesouro mora dentro!” Sem dúvida alguma são as habilidades! As habilidades representam uma mostra do desenvolvimento da criança ou adolescente. O conteúdo por sua vez, é externo e vulnerável.
Quem da minha idade não decorou os 9 planetas do sistema solar? Eu tenho um amigo que errou uma questão decisiva que o confinou a recuperação em geografia porque ele não se lembrou de Plutão. Maldito Plutão que hoje nem planeta é! Então eu pergunto: que medida de saber é essa? Precisamos pensar numa educação que valorize habilidades. Um programa curricular que estimule o desenvolvimento de linguagens, investigação, análise, julgamento, explicação. Habilidades vão muito além do “conteudismo engessado”. A famosa “decoreba”. Os questionários imbecis e no final, uma nota que nada diz.
Coloca os textos na mão do garoto, deixa o mapa, a tabela, o gráfico, as fórmulas a disposição dele. Desafie-o com problemas atuais. Aqueles que temos a mão: rio poluído, crianças abandonadas, recordes olímpicos, seca, devastação das matas, violência e exploração. Faça-o viajar no tempo e a comparar o passado com o presente. Ensine-o a fazer perguntas e a pesquisar possibilidades de respostas. Potencialize o uso de ferramentas da informação. Ensine-os a duvidar. Rastrear erros. Buscar 2, 3 fontes de pesquisa. Incentive a curiosidade! Ensino por habilidades é empoderamento. Autoria. Autogestão do conhecimento.
E porque estou escrevendo sobre isso? Porque no final dessa jornada, o que fica é o talento que cada um tem. E talento não é feito de currículos inchados de informações impostas. Um talento é feito de habilidades bem trabalhadas e de sonhos perseguidos e realizados.
Maurício não decorou plutão e provavelmente tem o mínimo de informações de geografia estocados na memória. Na abertura das Olimpíadas, correu no googlemaps para localizar a Micronésia. Eu nunca sonhei em ser um mestre da química. Canalizei minhas habilidades para desenvolver outros estudos, ler outros assuntos e acompanhar outras informações. Maurício hoje é médico, eu sou neuropsicopedagoga, a Josiane é professora de história, o Júnior é engenheiro, Marcelo é o mestre da química. Nossas habilidades nos trouxeram até aqui. Nosso talento é realizar nossos sonhos e empoderar outras crianças e adolescentes, através do desenvolvimento de suas habilidades e da validação dos seus talentos.
ProfªZilanda Souza – Neuropsicopedagoga