* Denise Souza
Suculentas, espinhosas, carnívoras, arbóreas, rasteiras, ornamentais, perfumadas ou exuberantes são alguns dos muitos atributos utilizados para caracterizar-se os integrantes do reino dos vegetais. Assim como nos encantam pela beleza, às vezes exótica, as plantas também merecem destaque por uma peculiaridade fantástica: o metabolismo secundário – o grande responsável pelos efeitos farmacológicos apresentados por inúmeras espécies vegetais.
Além de sintetizar e metabolizar macromoléculas, responsáveis diretamente por sua sobrevivência, as diversas espécies vegetais também apresentam estruturas celulares que possibilitam a produção de micromoléculas responsáveis pela adaptação do ser ao meio e, portanto, atuam de forma imprescindível em processos como a defesa de predadores, alelopatia, polinização e outros.
A seleção de plantas para alimentação e utilização como remédios, em diversas formas farmacêuticas, evoluiu juntamente com a humanidade, bem como com as formas de organização da sociedade. Tentativa e erro é o método mais aceito para que tantas espécies de plantas tenham sido “domesticadas” pelos homens em épocas mais remotas das sociedades de Homo sapiens.
Com a evolução das ciências, a química, a farmácia, biologia, medicina e demais segmentos da saúde, interessadas em elevar com qualidade a longevidade humana, inseriram, em espaço relativamente central, os vegetais em suas pesquisas. Atualmente, muito se sabe sobre o uso medicinal de muitas espécies vegetais que podem ser utilizadas como remédios de fácil acesso, principalmente pelas camadas economicamente menos favorecidas da população. Porém há informações que não acompanham a evolução da utilização popular das plantas, tão importantes quanto o próprio fato de se preparar uma infusão caseira, ou um simples chá de erva cidreira em casa! Trata-se, por exemplo, da origem das substâncias com ação farmacológica em determinada espécie vegetal e, também, da não exclusividade e exatidão dessa produção natural em um espécime.
Uma planta é um ser vivo, sujeito a variações intensas do meio ambiente no qual está inserida. Determinada espécie vegetal pode ser notoriamente produtora de um certo metabólito secundário, mas, sob condições de estresse hídrico, apresentar produção deficiente desse metabólito. O que deve ser considerado em qualquer nível de discussão é que os metabólitos secundários, produzidos, por uma espécie vegetal apresentam funções importantes para ele como ser vivo e bem adaptado ao meio, sendo que, para os seres humanos, esses mesmos metabólitos podem apresentar ação farmacológica de interesse ímpar, o que viabiliza o uso de espécies vegetais como remédios ou mesmo como matéria-prima na indústria farmacêutica para produção de medicamentos.
A Fitoterapia surge como alternativa a tratamentos baseados em fármacos convencionais, com grande expectativa de diminuição de efeitos colaterais advindos do uso intenso daqueles medicamentos. Recentemente, o SUS reconheceu, através de portaria do Ministério da Saúde, o uso de alguns medicamentos fitoterápicos, que poderão ser indicados para tratamentos específicos, por profissionais atuantes na rede pública de saúde. Notoriamente os tratamentos ditos naturais ou alternativos entram em evidência e ganham crédito no censo comum, com valor inestimável a toda sociedade e esperança de que um espectro maior de males sejam vencidos pela natureza.
A comunidade científica partilha a comoção de vivenciar a disseminação das pesquisas que apresentam como ponto de partida matéria-prima vegetal, porém, partilha também a responsabilidade de informar à população que existem possíveis efeitos toxicológicos associados ao uso de plantas como remédios, bem como ao uso sem orientação de produção ou cultivo de espécies vegetais para esse fim. Destaca-se, ainda, a importância de sistematização do conhecimento empírico sobre o uso de plantas que curam, para que os efeitos benéficos não sejam deturpados pela falta de informação ou o uso de má fé por profissionais não capacitados para o exercício de determinadas terapias.
Anseia-se que o uso de plantas em pesquisas e curas de muitas doenças seja ampliado e toda a diversidade natural que nos cerca seja de maneira ambientalmente sustentável, explorada. A saúde pode brotar da natureza e muitas plantas podem curar. O importante é que as informações sejam divulgadas a fim de que a toxicologia seja minimizada, a ação farmacológica potencializada e que nenhum cidadão seja vítima de um determinado remédio!
* Denise Souza, Licenciada em Química pelo UNEC, possui mestrado em Ciências Naturais e da Saúde, concluído em 2010, também pelo UNEC, é doutoranda pela PUC-MG em Geografia: Tratamento da Informação Espacial. Atua há mais de dez anos como professora na FUNEC, sendo que atualmente se dedica aos cursos de graduação em Química, Pedagogia, Ciências Biológicas e Bacharelado em Farmácia.
Mais informações sobre a autora, acesse: http://lattes.cnpq.br/4446789164079416