*Rafael Luiz da Silva Neves
A utilização de plantas com fins medicinais para prevenção, tratamento e cura de doenças é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade, sendo seu emprego uma das primeiras manifestações do esforço do homem em compreender e utilizar a natureza.
Desde as civilizações antigas, qualquer vegetal produtor de substância biologicamente ativa era, na fitoterapia, utilizado como sendo o único recurso terapêutico de muitas comunidades para o se tratar os males do corpo e da alma.
O conhecimento tradicional sobre o uso e eficácia de chás e outras preparações de plantas contribui de forma relevante para a divulgação de suas ações terapêuticas, fazendo com que estas sejam prescritas com frequência em diversas localidades.
Apesar de muitas plantas medicinais não terem seus constituintes químicos conhecidos, sua utilização acumula o conhecimento popular que vem sendo adquirido pelas comunidades ao longo de muitos anos e transmitido entre gerações.
Contudo, observa-se que atualmente a utilização de plantas medicinais tem sido resgatada, por diversas razões, entre as quais se destacam o aparecimento de efeitos colaterais após o uso frequente de medicamentos sintéticos, a possibilidade de descobertas de novos princípios ativos nas plantas e a forma mais acessível da população de baixa renda curar suas enfermidades.
Aproximadamente 80% da população mundial dependem da medicina tradicional para atender às suas necessidades básicas de tratamento contra alguma enfermidade. Para esse fim são utilizadas espécies nativas, bem como espécies exóticas de plantas medicinais trazidas por diferentes correntes migratórias ao redor do mundo.
Nos países desenvolvidos a demanda por medicamentos à base de plantas medicinais vem aumentando, como alternativa mais saudável, ou menos danosa, de tratamento. Entretanto, nos países em desenvolvimento, a utilização de plantas medicinais como alternativa terapêutica resulta do não acesso e ao alto custo dos medicamentos sintéticos, associado ao seu baixo efeito colateral.
Aproximadamente 25% das drogas prescritas mundialmente provêm de plantas, havendo 121 compostos ativos em uso corrente. Neste contexto, o Brasil ganha destaque, pois apresenta grande biodiversidade de espécies vegetais, o que constitui uma de suas maiores riquezas e uma possível fonte para obtenção de novas substâncias com finalidades terapêuticas. Entretanto, menos de 10% dessa diversidade foi avaliada em relação as suas características biológicas e pouco menos de 5% foi submetida a análises para comprovar sua eficácia.
No Brasil, a fitoterapia significa uma prática terapêutica, incentivada pelo Ministério da Saúde, devido a sua comprovada eficiência e baixo custo. Algumas estatísticas mostram que no período de novembro de 2003 a outubro de 2006, o Brasil lucrou R$ 1,8 bilhão com a venda de fitoterápicos. Em 2006, o comércio de fitoterápicos alcançou 2,51% do mercado farmacêutico, lucrando o equivalente a R$ 543 milhões.
Consequentemente, a segurança e a qualidade das plantas medicinais utilizadas popularmente se tornaram uma grande preocupação para as autoridades de saúde, indústrias farmacêuticas e para o público.
O emprego correto para fins terapêuticos requer o uso de plantas medicinais selecionadas por sua eficácia e segurança, já que a qualidade do fitoterápico é influenciada pela qualidade do material obtido.
Com a evolução da ciência intensificaram-se os estudos sobre as plantas medicinais utilizadas popularmente, relacionando sua composição química com seus efeitos, sendo indispensável à validação cientifica para a aceitação da sua utilização.
A qualidade das plantas medicinais tem início na identificação correta da espécie e, posteriormente, no seu plantio, colheita e preparo dos medicamentos ou extratos vegetais. Diversos fatores influenciam na qualidade final do produto, como características genéticas, variações climáticas, solo, época de plantio, condições de secagem, tempo de armazenamento, entre outros.
No entanto, pouco se sabe sobre o modo de ação ou qual a substância química é realmente eficaz. A validação científica de plantas medicinais não pode ser desmotivada, portanto é fundamental que novos estudos, químicos e biológicos, com estas e com outras espécies de plantas sejam realizados, buscando identificar novos compostos químicos com atividades diversas que possam servir como alternativa para o tratamento das doenças, principalmente para o crescente número de patologias as quais a população está exposta.
*Rafael Luiz da Silva Neves é biólogo e enfermeiro, professor do Curso de Enfermagem e Nutrição do UNEC- Centro Universitário de Caratinga.
-Mais informações sobre o autor: http://lattes.cnpq.br/2929919224378232.