O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, venceu com fortes discursos contra a imigração, prometendo mesmo a deportação em massa de milhões de estrangeiros morando ilegalmente no país — entre eles, brasileiros.
O que aconteceu
Brasileiros ilegais nos Estados Unidos são 230 mil, segundo pesquisa. Um levantamento do Pew Research Center publicado em julho deste ano aponta que 230 mil brasileiros estavam vivendo ilegalmente no país, em 2022. O número inclui um aumento de 30 mil em relação ao ano anterior.
EUA é país com o maior número de migrantes do Brasil. Dados do Ministério das Relações Exteriores apontam que vivem 1,9 milhão de brasileiros no país. O segundo destino mais procurado é Portugal, onde vivem 360 mil, e o Paraguai, com 254 mil imigrantes brasileiros.
Especialista defende que brasileiros estarão seguros nos EUA se mantiverem o status válido. Rodrigo Costa, CEO da Viva América e especialista em imigração, entende que os brasileiros vivendo nos EUA não precisam se preocupar com deportação enquanto puderem provar que exercem o visto que receberam, seja de trabalho ou de estudo. “O grande desafio da imigração é manter seu status válido”, complementa.
“Imigrantes não documentados vão sofrer pressão real”, diz especialista. Costa indica que estão sob risco aquelas pessoas que estão morando nos Estados Unidos sem documentos. Exemplos são estrangeiros que entraram no país com visto de turista ou de maneira ilegal, mas estabeleceram residência.
Costa defende que “imigrante qualificado” será bem-vindo nos Estados Unidos. “Hoje há um número de vagas de trabalho disponíveis aqui nos Estados Unidos que não conseguem ser preenchidas por americanos. E a única maneira de se preencher essas vagas de trabalho é através do imigrante qualificado”, diz Rodrigo Costa, CEO da Viva América, empresa especializada em imigração de brasileiros aos Estados Unidos.
Em quais áreas os EUA precisam do trabalho de imigrantes? Tecnologia e Informação, engenharia, energia, logística e saúde são as áreas em que os brasileiros devem ser mais procurados, de acordo com a Viva América.
Plataforma republicana pode aumentar presença de brasileiros no país. Embora republicanos tenham criticado a presença de imigrantes no país durante a campanha, Costa vê que com a vitória generalizada do partido nas urnas, deve crescer o número de vagas de emprego.
Donald Trump prometeu “green card” a estudantes estrangeiros do país no primeiro dia como presidente. Em junho deste ano, Trump a um podcast disse que estudantes universitários estrangeiros deveriam receber um green card, ou um cartão de residência permanente, com o diploma. “Se isso vai acontecer ou não é outra história, mas isso é um discurso de campanha”, diz Rodrigo Costa.
Green card não representa cidadania. O cartão comprova que uma pessoa reside nos Estados Unidos de maneira permanente e para acessar alguns direitos, como educação pública e previdência social. Entretanto, o portador do documento não é cidadão americano. “O Green Card é a etapa anterior à cidadania”, explica Costa.
Em 2023, Brasil foi 10° país que mais recebeu green cards. Dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA apontam que 28.050 documentos foram emitidos no último ano, o número mais alto na história.
Trump quer deportação em massa de imigrantes
Trump prometeu a “maior operação de deportação doméstica na história americana”. O objetivo seria expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais, estima artigo da revista Time. O método será encurtar os processos de deportação, realizando as expulsões sem a realização de audiências, exigidas por lei atualmente.
Republicano diz que a medida vai melhorar os salários de americanos, mas o resultado pode ser desastroso. A remoção abrupta de milhões de imigrantes provavelmente levaria à instabilidade econômica, particularmente em indústrias fortemente dependentes de mão de obra dos ilegais, como agricultura e turismo.
Para cumprir a promessa, Trump gastaria bilhões de dólares. O custo para deportar um milhão de imigrantes ilegais por ano custaria mais de US$ 88 bilhões (R$ 502,3 bilhões em valores de hoje), totalizando US$ 967,9 bilhões (R$ 5,5 trilhões) ao longo de mais de 10 anos, de acordo com relatório do Conselho Americano de Imigração.
Presidente eleito quer usar o exército para expulsar imigrantes sem documentos. As tropas federais no exterior rumariam para a fronteira sul do país, que dá acesso à América Latina, onde os militares teriam autorização para prender imigrantes.
A intenção é criar uma presença militar sem precedentes na fronteira. A Guarda Nacional e polícia local de estados liderados pelos republicanos reforçariam a vigilância.
Trump também quer construir novos campos de detenção de imigrantes irregulares. A campanha de Trump disse que a medida acelerará o processo de expulsão, que também contará com a ajuda dos militares.
Em 2021, os Estados Unidos tinham centros de detenção que abrigavam mais de 20 mil crianças. Em uma reportagem, a BBC descobriu que esses menores enfrentavam baixas temperaturas, doenças, negligência, piolhos e sujeira.
Trump planeja invadir locais de trabalho para identificar e prender imigrantes ilegais. A estratégia desestimularia indústrias a contratarem essa mão de obra e beneficiaria trabalhadores americanos. A medida, porém, afetaria economias locais e resultariam em caos social, com a separação de famílias e piora da vulnerabilidade de populações inteiras de imigrantes.
Outra prioridade do presidente eleito é expandir o muro na fronteira com o México. Durante seu primeiro mandato, Trump construiu 804 km na fronteira de 3,1 mil km com o país vizinho. “Nós completaremos o muro da fronteira”, diz seu programa de governo, que pretende usar dinheiro militar para levantar a barreira.
Verdade ou retórica?
Embora Trump possa dificultar a vida de imigrantes, seu governo não deve cumprir todas as promessas. “Eu vejo muito mais uma retórica do Trump para conseguir voto na campanha”, diz Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM. “É logistica e economicamente impossível deportar 11 milhões de pessoas.”
Apesar de maior “perseguição ao imigrante indocumentado”, Trump não pode prejudicar a economia do país. “Os republicanos sabem que boa parte do motor da economia dos Estados Unidos e dos estados onde ele ganhou é baseado na economia do imigrante, seja ele irregular ou não”, diz o professor.
Os principais alvos devem ser os imigrantes que tentam cruzar a fronteira. “Ele vai endurecer a política de combate à imigração irregular, por meio de coiotes, o que os governos anteriores sempre fizeram.”
“A gente vai ver um aumento de deportações dos imigrantes que já estão presos nos Estados Unidos, mas eu não vejo uma espécie de caça às bruxas, não pelo menos nesse primeiro ano de governo, porque ele sabe que o imigrante é fundamental para a economia dos Estados Unidos.” Roberto Uebel, da ESPM
Fonte: UOL