- Eugênio Maria Gomes
Sabem aquela terrível sensação que temos quanto estamos tendo um pesadelo? De certa forma, sabemos que se trata de um sonho mau, que logo vamos acordar, mas ao mesmo tempo, não conseguimos e nos sentimos meio que “presos”, agarrados naquele tormento, naquela angustia, naquele terror!
Sinto a mesma coisa ao olhar ao redor e ver a situação por que passa nosso País, nos últimos nove anos, desde o início do mandato da ex-presidente Dilma. A partir daí, por uma série de razões, o País entrou em uma espécie de pântano tenebroso, colecionando crises após crises, recessão, violência, empobrecimento, revolta, violência, radicalismos.
A breve era Temer, não foi diferente. Foi aquela parte do pesadelo onde parece que vamos acordar, mas novamente, recomeçam as imagens terríveis, os sobressaltos, o aperto na garganta. O início do novo Governo deu continuidade ao meu pesadelo. Continuamos no pântano, e ao que parece, infelizmente, afundamos ainda mais.
Até o presente, nenhuma nova proposta foi apresentada. Nada de nada. Com exceção da proposta da reforma da previdência, que na verdade já estava em gestação há tempos, o novo Governo não apresentou nada de novo. Pode-se até dizer, que parece que não há novo Governo. Vemos uma sucessão de atropelos, de improvisos, de discussões inúteis, de embates pueris, de clichês medíocres, de metáforas empobrecidas embaladas em uma dicção e uma entonação irritantes.
Nunca foi tão necessária a lembrança da lição de Sócrates ao dizer “Sei que nada Sei”! É melhor assumir que não se tem conhecimento sobre alguma coisa, do que falar sem saber. Quem pensa que sabe muita coisa, normalmente tem pouca disponibilidade ou vontade de aprender mais. Em contraposição, quem sabe que não sabe, muitas vezes quer mudar essa situação, mostrando desejo de aprender.
Associe-se essa arrogância, essa tentativa de dar explicações simplistas a questões extremamente complexas, a uma Fé cega, ao apego irracional a uma pretensa Revelação Divina, a um Moralismo prepotente e pronto: estamos nos encaminhando mais rapidamente para o fundo do pântano. Parece que estamos diante do Deus do Antigo Testamento, o dos trovões e raios, o vingador, o do “olho por olho e dente por dente”, e nos afastando cada vez mais do Deus do Novo Testamento, o reino do diálogo, da dialética e do paradoxo, da mansidão, do perdão, da compreensão e da Paz!
A insistência do Presidente em transferir a Embaixada do Brasil em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, demonstra claramente que a condução da política externa do Brasil não está sendo feita em benefício dos interesses do Brasil ou do conjunto de cidadãos brasileiros, mas sim, em atendimento a uma opção personalista do Presidente e de parte da sociedade que o apoia.
A disputa pela posse integral da cidade de Jerusalém se arrasta há décadas. Trata-se na verdade de um problema milenar, de extrema dificuldade, que envolve controvérsias político-religiosas centenárias. A “cidade santa”, há séculos vem sendo objeto de guerras, invasões, destruições. Cristãos, judeus e muçulmanos se matam mutuamente pela posse daquilo que imaginam ser de sua propriedade, sem solução aparente, num problema geopolítico de dificílima solução.
Justificar a transferência da embaixada com o argumento de que “cabe a Israel definir sua capital” é de um simplismo pueril demais e envergonha profundamente qualquer conhecedor mediano de História Universal. Este evento, lamentável e de repercussões imprevisíveis, faz lembrar a lição do jornalista americano Henry L. Mencken, “para cada problema complexo existe uma resposta clara, simples e absolutamente errada”.
O mesmo se diga a alegação de que Nazismo e Fascismo são facções políticas de Esquerda. Trata-se de uma deturpação tão elementar dos conceitos mais elementares de Ciência Política que nem vale a pena contra-argumentar. Mais recentemente ainda, outra polêmica absolutamente desnecessária: a discussão de que o movimento militar de 1964 foi ou não um golpe militar, ou se o Brasil viveu ou não uma Ditadura. Uma tentativa de impor um revisionismo sem qualquer fundamento científico. Um absurdo. Um ultraje a tudo que se entende sobre golpes, ditaduras e política.
Porém, pior do que o vexame intelectual, ou os estragos comerciais e à imagem do País no exterior, é a falta de resposta a uma pergunta bem objetiva: o que todas essas discussões sobre mudança de embaixada, nazismo, golpe de 64, azul e rosa e demais insignificâncias têm a ver com os reais problemas brasileiros? Nosso povo está empobrecendo, nossas barragens estão se rompendo, nossos hospitais estão fechando, nossas escolas estão ruindo, nossos filhos estão sendo mortos cotidianamente pela violência sem fim…
Enquanto o novo Governo gasta energia para estimular discussões que só alimentam as divisões internas, acirram os ânimos e dissipam a discórdia, os reais problemas nacionais só fazem aumentar. Ataca-se constantemente os ex-governos, mas estão cometendo os mesmos erros: nunca estivemos tão divididos entre “nós e eles”!
Uma pena que uma grande parte dos brasileiros religiosos parece ter escolhido o Deus da vingança e do Castigo e não o Deus do Amor e da Paz! No verdadeiro Cristianismo – que mudou a vingança pelo perdão -, deveria caber justos e pecadores, crentes e ateus, ricos e pobres, sábios e ignorantes, reis e vassalos, negros e brancos, prostitutas e virtuosas. Nele há espaço para todos, ainda que com preferência aos mais despossuídos e esquecidos pelo poder.
E assim, continuo nesse pesadelo sem fim. A cada imagem terrível, tento acordar. A cada vislumbre do futuro que se delineia à frente, o pavor toma forma. A cada lampejo do passado, deturpado pela ignorância do presente, a história chora… Porém, ainda padeço de um temor maior do que o meu pesadelo: o de que, ao acordar, ainda entorpecido pela noite mal dormida, me depare com a realidade, e perceba que infelizmente, meu pesadelo ainda não acabou!
- Eugênio Maria Gomes é professor e escritor. Membro da ALB- Academia de Letras do Brasil -, da Alto – Academia de Letras de Teófilo Otoni -, da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – e presidente da ACL – Academia Caratinguense de Letras do Leste de Minas. É Pró-reitor e professor do Unec, membro da Lions Clube Caratinga Itaúna, do MAC – Movimento Amigos de Caratinga – e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.