Walber Gonçalves de Souza
Acredito que um dos maiores desejos de qualquer um de nós é ser livres, por isso buscamos tanto a nossa independência, pois associamos a ela a sensação de liberdade. Ser livre torna-se uma necessidade da própria existência.
Muitos autores já se debruçaram sobre este tema, filósofos com suas reflexões, poetas com suas inquietações, músicos com suas provocações… todos de alguma forma tentam expressar a importância da liberdade para a qualidade da própria vida. Para muitos uma vida sem liberdade não é digna de ser vivida.
Ao longo da história nos deparamos com várias situações de privação da liberdade, principalmente quando se trata da liberdade do outro. Indizíveis são os casos de povos escravizando outros povos, de pessoas manipulando outras pessoas, de mentiras acorrentando a verdade.
Tornamo-nos mestres na opressão. Tentamos controlar tudo e dominar na mesma intensidade. Passamos a acreditar que o controle sobre as outras pessoas é o melhor caminho para a nossa sobrevivência. Triste engano! Pois pela opressão nascem sentimentos tão horríveis que aos poucos vai transformando a vida humana em um verdadeiro inferno.
Um dia desses estava em um determinado lugar e observei que se encontravam penduradas na parede duas gaiolas, cada uma com um passarinho dentro. Fiquei neste lugar por cerca de quarenta minutos, tempo mais que suficiente para ver que as gaiolas estavam todas impecáveis, vistosas, brilhantes, com um potinho cheio de ração, parecia alpiste, e outro em formato cilíndrico com uma água cristalina, limpinha. Mas uma coisa me chamou ainda mais atenção, durante o tempo dito em nenhum momento vi nenhuma reação do pássaro. Durante o tempo que fiquei observando ele estava lá parado como uma estátua, empinado sobre aquele poleiro.
Mas o que isto tem a ver com o assunto em questão? Fiquei pensando duas coisas: primeiro como parecemos com o passarinho e segundo como gostamos de privar tudo e todos.
Sem que percebamos aos poucos vamos nos acostumando com as gaiolas que a rotina da vida nos impõe. Sem que percebamos vamos acostumando com o potinho de ração, com a água potável em outro. Sem que percebamos vamos aprendendo a cantarolar somente para a alegria dos outros. Sem que percebamos vamos aprendendo a olhar a vida pelas frestas das taquaras que traçam os limites da gaiola. Sem que percebamos vamos perdendo as habilidades com as asas… sem que percebamos vamos desaprendendo a voar… sem que percebamos vamos nos acostumando a ficar parados, inanimados, sem ação. Sem que percebamos vamos ficando bonitos por fora e frágeis por dentro. Sem que percebamos vamos deixando de ser livres.
E a segunda coisa que me veio à cabeça naquele lugar: qual o sentido, qual o prazer em ver um ser vivo preso? Com todo respeito aos amantes dos pássaros, ou melhor, aos amantes dos pássaros engaiolados. É uma tristeza ver aquela situação! Ver aquele bicho ali, inerte.
Gosto muito de roça, sempre que tenho tempo procuro um cantinho rural para passar umas horas. É tão gostoso ver os pássaros voando e cantando livremente. Conheço algumas pessoas que tratam dos pássaros, colocando canjiquinha em locais de livre acesso. Aos poucos eles vão chegando, posando, tornam-se muitos, enfeitando o ambiente, deixando o espaço mais alegre, mais vistoso. Um colírio natural para os olhos, uma sinfonia ao ar livre. Sendo bem cuidados eles nunca ficam longe. Estão sempre lá para serem apreciados.
Temos que aprender a ver a vida com outros olhos. A liberdade não deve ser vista como uma conquista, mas sim como algo da própria natureza de todos os seres vivos que habitam este planeta, sendo eles racionais ou não.
Mas para este dia chegar teremos primeiramente que nos libertar de nós mesmos, deste nosso jeito dominador de ser. Só assim conseguiremos ver as coisas além de um objeto que pode ser apropriado segundo as nossas vontades individuais. Que reine a liberdade, que tenhamos a coragem de abrir as portas das gaiolas!! De permitir o pássaro voar!! Pois ele nasceu para ser livre, para bater as suas asas, para ver o mundo do alto. Mas lembre-se este pássaro pode ter penas, mas pode ser também eu ou você!
Walber Gonçalves de Souza é professor.