Na dimensão da vida comunitária, principalmente entre os cristãos, as palavras e os gestos das pessoas precisam ter poder transformador na prática de partilha. Essa atitude está muito visível na forma de agir de Jesus. Suas palavras eram motivadoras de unidade e de convivência fraterna entre os apóstolos e os discípulos de seu tempo. As mesmas formas de agir devem acontecer hoje.
Convivemos com uma cultura destruidora da unidade, que incensa o egoísmo e exalta o individualismo, a ponto de colocar em risco a identidade de cada pessoa. Provoca uma prática que não ajuda na caminhada saudável da sociedade. Parece que as pessoas perdem a capacidade de partilhar as riquezas existenciais que cada uma tem recebidas do Criador como dom para sua vida.
Na expressão “partilhar a mesa” deve estar contido o dom da solidariedade, da capacidade de reconhecer e colocar em prática a partilha das riquezas da natureza. Tudo que exista deve estar em função do bem do ser humano. Isto significa que a pessoa humana está acima de qualquer outra criatura, inclusive dos animais, tão endeusados pela cultura dos últimos tempos.
As atitudes de Jesus influenciaram na mudança de postura do povo de seu tempo. Em tempo de mudança de época do terceiro milênio, muitas posturas são preocupantes para o hoje e para o futuro. Sem uma transformação corajosa e radical do aqui e agora, principalmente em relação à violência, à casa comum, ao egoísmo acumulador, teremos um futuro incerto e preocupante.
Diante da mesa de refeição, as pessoas devem se portar como iguais. Não é salutar uns ficarem apenas com as migalhas, ou com as sobras que caem dali. É um momento de unidade e não de grupos sociais separados com privilégios infecundos, de diferença entre ricos e pobres ou de classes sociais divergentes. Para Jesus, a mesa é espaço das pessoas vivenciarem a gratuidade fraterna.
A mesa não pode ser lugar de espertezas e conveniências egoístas. Os pobres também merecem o sustento necessário para sua sobrevivência. Torna-se até pertinente dizer que é na vida dos desqualificados da comunidade que acontece o banquete do Reino de Deus. Não fazem bem as divisões sociais, porque causam valores diferentes entre as pessoas e incentiva as desigualdades.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.