* Kleber Ramon Rodrigues
Uma das paisagens mais intrigantes do ponto de vista científico e turístico pertence ao Parque Nacional do Caparaó (onde está localizado o Pico da Bandeira) que apresenta cenários que merecem ser desvendados pela Ciência e admirados pelos turistas (Figura 1).
Figura -1 Vale Suspenso entre Cristas (terreirão) a 2450m com vegetação de Campos de Altitude
O Parque Nacional do Caparaó foi criado pelo decreto Federal no 50.646 de 24/05/1961, o qual definiu a área de abrangência como aquela acima da cota de 1. 300 m. No entanto, pela dificuldade prática de estabelecer estes limites em campo, o decreto datado de 20/11/1997 veio redefini-los. A área do Parque ficou estabelecida em 31.800 ha, estando o mesmo a sudoeste do Espírito Santo e leste de Minas Gerais, localizado nos municípios mineiros de Alto Caparaó, Caparaó, Espera Feliz e Alto Jequitibá, além dos municípios capixabas de Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Ibitirama, Iúna e Irupí (IBAMA, 1997).
Sobre a abrangência, 79% da área do Parque está inserida no Espírito Santo e 21% em Minas Gerais (IBAMA, 1997). A paisagem do Parque Nacional do Caparaó apresenta uma diversidade pedogeomorfológica ainda não devidamente estudada, associada à riqueza e endemismo de fauna e flora. No Parna Caparaó, além da biodiversidade, ocorrem grandes diferenças edafo-climáticas associadas a variações topográficas, definindo tipos de vegetação bem particulares, consideradas genericamente como refúgios ecológicos.
O Parque Nacional do Caparaó encontra-se se no alinhamento montanhoso com direção pronunciada nordeste-sudoeste da Serra da Mantiqueira tendo como base geológica o gnaisse migmatizado, migmatito com ocorrência de diques de anfibolitos (Figura 2).
Figura 2 – Dique de anfibólio profundamente alterado sob vegetação de Campos de Altitude, no Parna Caparaó-MG.
Esta é uma das Unidades de Conservação Federal que representa os ecossistemas altimontanos dominados pelos Campos de Altitude, onde diferem do seu entorno por apresentarem pedoambientes endêmicos, estresse hídrico, oligotrofismo mineral e o acúmulo de matéria orgânica humificada. Em virtude das grandes diferenças edafo-climáticas entre estas áreas e seus entornos, observam-se vegetações particulares, consideradas áreas de refúgio ecológico.
Esta vegetação caracteriza-se por apresentar espécies de alta especialização, o que resulta em elevado grau de endemismo e no surgimento de organismos dotados de estratégias singulares de adaptação à sobrevivência em geoambientes altimontanos, frios, sazonalmente secos ou úmidos, e suscetíveis ao fogo. Estas paisagens de rara beleza cênica, adversas ao desenvolvimento agropecuário, representam ambientes de alta fragilidade, onde os impactos antrópicos podem conduzir a intensa degradação.
A vegetação de dominância arbórea (Floresta Montana e Alto-Montana) está condicionada pela maior profundidade efetiva do solo e disponibilidade de água. Os Campos de Altitude ocorrem nas altitudes mais elevadas no Parna Caparaó-MG (acima de 1950m), sendo desenvolvidos sobre solos rasos, ricos em MO como os Neossolos Litólicos Húmicos ou Organossolos e quimicamente muito pobres.
Todos os solos do Parna Caparaó-MG apresentam níveis baixos de P, Ca e Mg, sendo que em subsuperfície, onde o pré-intemperismo foi muito avançado, os teores são quase nulos ou negligenciáveis. Tal fato confirma a natureza essencialmente oxídica/gibbsítica dos solos do Caparaó.
Os valores de saturação por bases apresentam níveis muito baixos, revelando que a ciclagem da cobertura vegetal, é responsável pela pequena concentração de nutrientes em meio grande aporte de matéria orgânica no horizonte A. Este oligotrofismo é o maior destaque em todos os solos encontrados no Caparaó (MG).
Outro fato importante é o papel desempenhado pela matéria orgânica, refere-se aos mecanismos de ciclagem na continuidade dos ecossistemas altimontanos que guardam paleopaisagens e relíctios de climas pretéritos.
* Kleber Ramon Rodrigues, Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa – CAPES 6 (Solos e Nutrição de plantas com ênfase em Pedogeomorfologia). Pesquisador do CNPq. Possui Mestrado em Meio e Sustentabilidade pelo Centro Universitário de Caratinga com ênfase em Manejo e Gestão de Bacias Hidrográficas, Especialização em Geografia Física-UNEC, graduação em Geografia Bacharelado pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996) e graduação em Geografia Licenciatura pela Fundação Educacional de Caratinga (1998). Atualmente é CONSULTOR AMBIENTAL e docente da Fundação Educacional de Caratinga.
Mais informações sobre o autor: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4757328Z1