Administração não divulgou o número de profissionais que foram demitidos
DA REDAÇÃO- No decorrer do dia de ontem, funcionários do Pronto Atendimento Microrregional (PAM) de Caratinga, dentre enfermeiros, médicos e técnicos de enfermagem, foram convocados para assinarem aviso prévio indenizado.
A medida pegou de surpresa aos profissionais da unidade de saúde. Ainda não se sabe o número certo de demissões que ocorreram, nem qual fração dos 80 funcionários do PAM será reaproveitada pelo Hospital Nossa Senhora Auxiliadora (HNSA). Eles foram orientados pela coordenação do PAM a procurarem a Justiça para receberem os seus direitos trabalhistas.
O DIÁRIO DE CARATINGA acompanhou toda a movimentação no local e teve acesso à carta demissão de um funcionário. O documento foi assinado pela diretora administrativa do HNSA, Suély Pereira de Souza, e cita que “a partir da data da entrega, não mais serão utilizados os seus serviços pela nossa empresa e, por isso, vimos avisá-lo (a) ”.
‘DEMISSÃO EM MASSA’
Os funcionários classificaram a medida como uma “demissão em massa” e lamentaram as dispensas, que atingem inclusive a funcionários com vasta experiência de trabalho no PAM.
O técnico em enfermagem Washington Roberto da Silva foi um dos demitidos e falou com a imprensa, representando a classe trabalhadora. “A reunião está acontecendo individualmente. Temos uma carta demissão para cada funcionário. Infelizmente é uma demanda de demissão em massa simplesmente. Nós fomos orientados até agora pela coordenadora do PAM, ao 12° dia entrar na justiça para a gente tentar receber os nossos direitos, onde será dividido às parcelas”.

A coordenadora de Gestão da Superintendência Regional de Saúde (SRS), Dayelly Morais, também esteve na reunião
Com a greve dos médicos que já estava em andamento, quem passou pelo PAM ontem viu um cenário diferente, mas que anuncia o destino do imóvel: o silêncio e nenhuma fila para espera de atendimento. Washington comentou o fato considerado atípico para o local que sempre foi conhecido pela superlotação. “No PAM, temos meia dúzia de pacientes que ou vão ser levados para o hospital ou tomar um caminho ao CASU, onde firmaram contrato. Contudo, médicos também foram demitidos, acredito que mais de 90% deles e infelizmente não tem paciente aqui hoje, porque os médicos estão paralisados”.
Sobre as demissões, o técnico de enfermagem comentou que a notícia tem causado diferentes reações aos profissionais, pois alguns tinham aquele emprego como única fonte de renda, além dos laços afetivos gerados ao longo do período de serviços prestados. “De alguns anos pra cá, virou bola de neve, um verdadeiro ‘Titanic’. O Pronto Atendimento acolhe hoje a Caratinga e mais 13 regiões, que fazem parte da microrregião de Caratinga. E ninguém espera ser mandado embora do dia pra noite. É uma derrota total. Somos profissionais, colegas de trabalho há vários anos, têm jovens sendo despedidos e pessoas de 20 anos de profissão também. Ela já sai com o pensamento de ‘O que será de mim amanhã? ’. As portas automaticamente se fecham para as pessoas que têm maior idade. Acho que é um descaso, uma infelicidade pra nós. É algo também que já vem ocorrendo há muitos anos e que agora foi resolvido. Infelizmente dessa forma”.
Com as demissões, os profissionais pretendem se organizar e buscar os meios necessários para que recebam os seus direitos trabalhistas. “A gente ficou sabendo disso muito rápido, dentro de uma semana já ficou tudo resolvido, o prefeito de Caratinga está fechando um contrato com o CASU, o que a gente também não ficou sabendo nada certo, foi feito ‘atrás dos panos’ e o que chegou pra gente de imediato foi que ia acontecer uma demissão em massa, o que realmente foi verdade. Já havíamos conversado nos plantões que a gente trabalhou, em respeito de que se fossemos demitidos, procuraríamos a Justiça. Por coincidência, hoje a própria coordenadora do PAM, nos orientou sobre isso. Vamos fazer um comunicado ao Ministério do Trabalho, ver qual decisão certa a gente deve tomar, com as medidas cabíveis”.
O técnico de enfermagem não soube relatar quantos profissionais teriam sido demitidos, mas, preferiu encarar a situação com bom humor. “Garanto que em cima da mesa ainda tem bastante folha pra ser assinada (risos)”.
REUNIÃO
Na tarde de ontem, representantes da Superintendência Regional de Saúde e dos municípios da microrregião se reuniram com a administração do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora para tratar da situação dos municípios vizinhos, diante do fechamento do PAM.
O primeiro prefeito a chegar para a reunião foi Gilmar de Assis, chefe do executivo de Ubaporanga. Ele relatou suas expectativas sobre o destino dos atendimentos de seu município. “Estava em dia com hospital. Não queremos fechar o hospital, vamos continuar com ele e lutar para que fique de portas abertas. Conversei com alguns prefeitos para fazermos um acordo e continuarmos com o hospital”.
A coordenadora de Gestão da Superintendência Regional de Saúde (SRS), Dayelly Morais, conversou com a imprensa após o encerramento da reunião e relatou que foi definida uma pauta a ser discutida hoje, em uma reunião em Coronel Fabriciano. “Vai acontecer uma reunião com o secretário da Saúde, seus assessores, membros da promotoria e o superintendente regional de Saúde, para definir o repasse para o hospital de Caratinga e a forma com que os municípios farão os seus repasses também”.
De acordo com Dayelly, as expectativas são de que neste encontro seja apontado o destino do HNSA e se defina uma forma de reativar o Pronto Atendimento Microrregional (PAM). “Os pontos discutidos foram os repasses dos municípios, o não atendimento de alguns casos e chegamos num consenso de que todos os municípios irão fazer um repasse, porque temos municípios desses que não fazem o repasse para o hospital e cobram alguns atendimentos. Acreditamos que o PAM vá voltar a funcionar e o mais breve possível, porque ele não fechou totalmente. Só foram estabelecidas algumas prioridades. A nossa intenção é melhorar já que vamos estar perante o secretário da Saúde, a Regional está aqui para defender os direitos dos nossos municípios perante o Estado”.
Sobre a intervenção do Estado no HNSA, a coordenadora de gestão afirmou que o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) já foi assinado e os itens deste documento devem ser apresentados hoje, durante esta reunião. “Agora estamos aguardando a constituição da comissão interventora por parte do Ministério Público, para acontecer a intervenção direta”.
Pacientes começam a ser recebidos hoje pelo CASU
O PAM será fechado oficialmente às 19h de hoje. O secretário de Saúde de Caratinga, Giovanni Corrêa esclareceu a dinâmica de atendimento do município e reiterou que o CASU será utilizado até a finalização da obra da Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “O hospital vai cumprir o papel dele, de ficar na retaguarda para fazer as internações. Normalmente, aquele paciente que chegar lá e for necessário internar, será regulado para o hospital. Esse atendimento do PAM lá no CASU é Caratinga, os municípios vizinhos, pelo recurso que vem da Rede Resposta, certamente deverão optar em continuar com seus atendimentos aqui no hospital. Mas, nós tivemos então que remanejar o nosso atendimento para o CASU, até que inauguremos nossa UPA”.
O secretário de Saúde ainda destacou que Caratinga continua conveniada com o hospital, que é referência e de “uma importância estratégica no município e na microrregião”; mas que foi necessária uma decisão imediata diante do anúncio de que o hospital não administraria mais o Pronto Atendimento. “Nós também fomos pegos de surpresa, até o município de Caratinga. A gente pensava que ia chegar o momento realmente de assumir o PAM e transferi-lo para a UPA, mas a gente sabe que seria coisa para quatro a oito meses. Porém, fomos chamados aqui nessa semana e colocado à nossa disposição o PAM, para que pudéssemos providenciar o início do atendimento via município. Tivemos que tomar nossas providências, pois não podemos deixar os munícipes sem esse atendimento tão essencial”.
Dr. Giovanni ainda relatou que, a Prefeitura de Caratinga tem a chamada “Gestão Plena” da saúde, iria recomendar aos municípios que continuassem conveniados com o HNSA. “A proposta de Caratinga é que eles se organizem no atendimento dos municípios vizinhos aqui no hospital, até mesmo porque eles têm direito através da Rede Resposta. O nosso Rede Resposta que também é colocado no hospital vai continuar, para que, aquele paciente, por exemplo, que for baleado, esfaqueado, politraumatizado, possa ser imediatamente atendido no hospital”.
Em relação à estrutura do CASU, o secretário garantiu que o local possui todo equipamento para urgência e emergência e há logística para transferência de pacientes. “São oito respiradores, ou seja, o paciente que precisou ser entubado vai ser, vai para o respirador, se ele precisar ser transferido para UTI é como qualquer hospital, que quando precisa de uma transferência coloca na UTI móvel e transfere do CASU para aqui. A transferência é feita por regulação, no caso vai ter o RT lá do CASU, que vai ligar para o do hospital. Tem vaga aqui, será feito aqui, se não tiver, cadastra-se aqui no SUS fácil e a partir daqui regula onde surgir a vaga”.