“Estou muito ocupado fazendo coisas que eu não preciso para evitar fazer o que eu preciso de verdade”, autor: procrastinador anônimo
Procrastinar, apesar de ter esse nome feio e complicado, é algo que faz parte da natureza humana e que cometemos com frequência. É o ato de postergar ou adiar algo, fazer mais tarde. Entretanto existem pessoas que adiam tanto a maioria das coisas que elas precisam fazer que são consideradas procrastinadoras. E dependendo do volume ou da natureza das coisas que são procrastinadas esse comportamento passa a ser um problema. A maioria dos procrastinadores sabe que são assim, alguns apenas não sabem que existe um nome para isso.
Em nosso cérebro impera a tentativa constante de a todo o momento encontrar reforço positivo nas tarefas e atividades que estamos envolvidos. Dentro do nosso cérebro racional guiado pela lógica e pela razão, existe um cérebro primitivo guiado pelos extintos, desejos e sentimentos fazendo com que as atividades básicas de comer, dormir e se divertir sejam as atividades mais recompensadoras na maioria dos momentos. Normalmente somos contemplados com descargas prazerosas ao fazermos tais atividades e seguimos em busca da próxima atividade que irá nos proporcionar a mesma sensação.
O que leva ao procrastinador a adiar a maioria das tarefas muitas vezes se encontra no fato de que essa tarefa específica não vai lhe causar a sensação prazerosa imediata que mecanicamente ele está procurando. Os procrastinadores vivem constantemente o duelo entre o reforço positivo imediato versus o reforço negativo imediato de fazer algo que você simplesmente não está a fim de fazer nesse momento, nem no momento seguinte, nem no próximo, nem no… ops preciso entregar essa coluna hoje as 17hs!
Temos o seguinte esquema acontecendo em nossa área de trabalho mental: Escrever essa coluna pode ser tanto um Reforço Negativo para uma pessoa (escrever essa coluna agora não é exatamente o que eu gostaria de estar fazendo, preferia estar conferindo meu facebook) ou um Reforço Positivo para outra (quero logo escrever essa coluna e saber como ela vai ficar). Se você interpreta da segunda maneira como sendo um reforço positivo as obrigações que você precisa fazer no seu dia-a-dia, parabéns você provavelmente não deve ser considerado um procrastinador.
O procrastinador apesar de saber que precisa fazer aquela determinada atividade ele a interpreta como algo que não vai lhe gerar o prazer que ele está buscando agora e então ele adia para fazer depois, essa decisão por si só já é prazerosa o suficiente por lhe poupar do reforço negativo que ele estava prestes a sofrer. Na luta entre o reforço positivo e o reforço negativo, frequentemente o reforço positivo vence.
A pessoa que aceitar receber o reforço inicialmente negativo de contrariar a sensação imediata e temporária de não querer fazer a “coluna” e mesmo assim a faz, ao final da “coluna” estará recebendo o reforço positivo e duradouro de estar contente e satisfeito consigo por ter completado sua missão e agora poder fazer outra coisa como conferir seus e-mails e ver seu facebook sem a sensação desagradável de que deveria estar fazendo a “coluna”.
Já a pessoa que se entregou para o reforço incialmente positivo de ir navegar na internet acabou gastando seu tempo fazendo outras atividades, mas sabe que ainda precisa fazer a “coluna”, esse compromisso não deixou de existir, ele foi apenas adiado. Muitas vezes, agora a pessoa para ter tempo de fazer a “coluna” terá que sacrificar outras necessidades, até mesmo outras prioridades. Nesse momento pode ocorrer a procrastinação de outra tarefa que será deixada para depois. Por isso o procrastinador está sempre lutando contra o tempo. E acaba criando uma espiral comportamental difícil de ser quebrada.
Claro que a solução para padrão de comportamento não é fácil, apesar de ser relativamente simples. Antes de qualquer coisa é necessário estabelecer o hábito de criar planejamento das atividades diárias. Para o procrastinador esse planejamento não pode ser apenas mental, ele precisa estar num papel, sendo facilmente acessado e lembrado. O segundo passo é categorizar o planejamento de forma razoável e realista respeitando as prioridades daquele dia e planejando de um numero de tarefas que poderá concluir num só dia. Nesse planejamento deverão constar as tarefas prazerosas que normalmente são usadas para evitar as importantes. No terceiro momento será necessário que o procrastinador perceba a diferença entre uma tarefa importante e uma tarefa urgente. Pois a tendência do procrastinador é de executar as tarefas apenas no momento do prazo final quando elas se tornam urgentes. Mas ele não percebe que uma tarefa que é urgente hoje já foi importante ontem.
Assim, antes de uma coisa ser tornar urgente em dado momento, ela provavelmente já foi importante no momento anterior. O procrastinador precisa alterar seu padrão de comportamento de realizador compulsivo de emergências para aprender a distinguir e focar seus esforços na realização das tarefas importantes antes que elas se tornem urgentes. E eles sabem muito bem quando algo se torna urgente. Pois bate um terror interno do senso de obrigação e de compromisso; do medo da bronca ou do prejuízo que pode sofrer.
Se você é um procrastinador e está lendo esta coluna até aqui, você a está lendo enquanto procrastina alguma tarefa nesse exato momento. Então termino aqui minha coluna para que você retorne para realização do que é realmente importante que você faça agora apesar do reforço inicialmente negativo que você irá passar para evitar que ela se torne urgente. Assim você poderá se beneficiar do reforço positivo tardio e duradouro que essa tarefa vai te propiciar. Boa sorte! Meu nome é Luciana e eu não procrastinei hoje.
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]