A civilização atual tem sido disparadamente a que mais coloca o meio ambiente “contra a parede”. De todas as formas em qualquer lugar do mundo a natureza tem sido atacada de forma voraz em sua essência. Materiais que natureza leva milhões de anos construindo, “nós” fazemos seu beneficiamento e jogamos de uma vez só no meio ambiente, muitas vezes de forma irresponsável e descontrolada.
A forma mais simples de identificarmos esse processo é com relação aos resíduos sólido urbanos, mais conhecido como lixo doméstico. O crescimento da industrialização em escala mundial, a intensificação das atividades humanas e o aumento populacional das sociedades urbanas produzem quantidades excessivas de resíduos sólidos urbanos (RSU). O acúmulo desses materiais em áreas inapropriadas tem sido uma das grandes preocupações ambientais.
Atualmente a melhor solução seria destiná-los aos Aterros Sanitários, onde o lixo é soterrado e compactado para diminuição do impacto ambiental. No entanto, além dos custos de manutenção serem cada vez maiores, os aterros não conseguem gerenciar o atual volume de detritos produzido. Esta deficiência implica na deposição dos RSU em lixões a céu aberto.
Sem os cuidados necessários, o lixo nestes locais produz o chorume – um líquido com odor desagradável e coloração escura que infiltra e polui lençóis freáticos, lagos e rios e contamina o solo, atrai agentes causadores de doenças, eleva o risco de fogo e explosões, e gera problemas de âmbito social, muitas famílias deslocam-se para esses lugares em busca de materiais para vender ou mesmo alimentos para seu consumo, restos de alimentos geralmente estragados e contaminados.
O que vemos nos municípios de nossa região é uma mescla de aterro controlado, onde o lixo continua sendo disposta de forma inadequada e aterrados sem as devidas proteções e lixões onde muitas vezes ocorre a queima dos resíduos que contém polietinelo (plásticos) gerando assim dioxinas e furanos, que além de serem poluentes orgânicos persistentes (POP) são substâncias deletérias consideradas uma das mais tóxicas do mundo com poder cancerígeno altíssimo, onde os mais abordados são a formação de tumores em vários locais do organismo, deformação de fetos e deficiência no sistema imunológico. Ou seja, viu queima em lixões ou qualquer tipo de queima que envolve plásticos de forma geral, saia do local. A “fumaça de cor escura é característico desse tipo e combustão, e totalmente contraindicado para qualquer ser humano, principalmente crianças e idosos. Melhor prevenir que remediar. Não queime ou incentive a queima de resíduos sólidos. A contaminação é brutal e sem volta.
O maior desafio está na mudança de comportamento dos consumidores e também nas formas de produção. Exemplos mostram que aproximar a sustentabilidade do negócio traz muito mais benefícios para as empresas, porém, ainda é necessário aprender como ensinar e motivar para a mudança de cultura, em um processo socialmente, economicamente e ambientalmente recompensador.
Política Nacional de Resíduos Sólidos levou 21 anos desde sua elaboração até sua regulamentação e foi promulgada no apagar das luzes do ano de 2010. Estudos, audiências públicas, processos de articulação entre os setores, foram realizados na busca por soluções dos problemas gerados pelos resíduos sólidos.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) contempla a problemática dos diversos tipos de resíduos gerados, as alternativas de gestão e gerenciamento passíveis para implementação, metas, programas, projetos e ações correspondentes. Foi discutido em um processo participativo e é um documento para referência aos diversos planos estaduais e municipais.
O Brasil ainda caminha lentamente nos aspectos que envolvem a redução, reuso e reciclagem. Enquanto o crescimento populacional decresceu, conforme a última pesquisa IBGE, a geração de resíduos sólidos aumentou. O número de lixões ou disposição inadequada a céu aberto, ainda representa quase a metade de tudo que é descartado pela população, causando impactos inimagináveis.
A meta para acabar com esses lixões, prevista pela PNRS, terminou em agosto de 2014. Aos catadores de materiais recicláveis, os maiores responsáveis pela recuperação dos resíduos para reciclagem e ocupando uma posição importante no reprocessamento de materiais pós-consumo, ainda falta maior estrutura e gestão. Proposto como instrumento da PNRS, o modelo de responsabilidade compartilhada é inovador e ao mesmo tempo desafiador, pois dependerá de muita inovação e disposição de todos os atores para a necessária mudança no caminho da economia verde.
Os planos municipais de saneamento básico (PMSB) vem trazer luz a esse cenário de ingerência e ilegalidade, levando essa discussão para fins de resolução. Como diz o ditado: “Antes tarde do que nunca.” Os planos municipais de saneamento básico executados em nossa região englobou também o Plano Municipal Integrado de Resíduos sólidos. Neles estão propostos os passos que cada cidade deve dar para se alcançar a gestão correta dos resíduos pelos próximos 20 anos.
Os resíduos sólidos urbanos são caracterizados por sua condição de geração e a forma como é gerido até a disposição final. Nesses grandes grupos se destacam os Resíduos de demolição Construção civil (RDC) e resíduo de serviços de saúde (RSS). Os RDC’s se caracterizam por ser quase que completamente reaproveitável se bem geridos. Já os RCC’s se caracterizam por conter uma forte presença de contaminantes que faz sua natureza ser de reaproveitamento muito pequena.
Já os resíduos provenientes dos domicílios são basicamente orgânicos. No Brasil, mais de 50% dos resíduos produzidos pelos cidadãos são parcelas orgânicas da matéria. Já 30% dos resíduos são considerados recicláveis e somente em torno de 20% são considerados rejeitos. Esses sim devem ser encaminhados a locais para disposição final adequada (incineradores ou aterros sanitários).
Isso nos leva a uma conta que países desenvolvidos como a Alemanha, (onde os aterros sanitários estão sendo desativados) fizeram anos atrás: Se de cada 100% de resíduos produzidos, 80% eu posso reaproveitar, porque então descartar ou aterrar? E dessa pergunta surge uma resposta que nos leva a sustentabilidade. Na verdade a palavra lixo está em desuso. Démodé. O que nos falta é gestão. Mas agora com os planos que se não ainda não foram votados nas câmaras municipais de seu município, será em breve votado e se transformará em lei. Aí sim, com poderes que sem dúvida transformarão de uma vez por todas a forma que o saneamento básico é feito em nossa região. Principalmente o panorama de resíduos sólidos, que é um dos grandes desafios da microrregião de Caratinga, mudará de um vez por todas. Assim esperamos com esperança de dias melhores.
Mas isso não será possível se você que está lendo essa matéria não mudar seu comportamento em relação à problemática de resíduos sólidos em sua vida. Que cada cidadão possa fazer a sua parte em cobrar das autoridades competentes o que está descrito nos planos. Projetos de engenharia, ressocialização de catadores, Educação Ambiental e uma série de outros ingredientes permeiam os planos que tem data e orçamento para execução. Basta saber onde e como procurar os recursos necessários para sua realização.
É sempre importante lembrar que não adianta cobrar das autoridades se nós não mudarmos nosso comportamento. Queremos um meio ambiente melhor, mas “o quintal do vizinho é sempre mais sujo que o nosso”. Teremos um meio ambiente mais justo e equilibrado quando todos assumirem suas responsabilidades. Que tal começarmos agora?
Então pra começarmos, que tal não jogar esse exemplar de jornal no “lixo”! Use-o em algo que possa tornar esses resíduos produzido para sua informação em algo útil. Assim começamos a mudar esse paradigma que tem dia e hora pra acabar, senão ele acaba conosco.
Heverton Ferreira Rocha
Engenheiro Ambiental e Sanitarista
Engenheiro de Segurança do Trabalho