Joaquim Osório Duque-Estrada foi um personagem importante na história de nosso país, mesmo que a maioria absoluta da população brasileira atual talvez nunca tenha lido ou ouvido falar de seu nome. Osório Duque-Estrada, entre outras coisas, foi poeta, ensaísta, professor, crítico literário, escritor, integrante da Academia Brasileira de Letras e, além de tudo isso, Osório Duque-Estrada foi um patriota, um homem que amava a nossa pátria.
Mesmo que a maioria de nossa população não saiba quem foi Joaquim Osório Duque-Estrada, a grande maioria dos brasileiros, conhecem a sua obra mais famosa; Joaquim Osório Duque-Estrada é autor de um poema, escrito em 1909 que, em 6 de setembro de 1922, véspera do Centenário da Independência do Brasil, veio a se tornar, oficialmente, através de um decreto do então presidente, Epitácio Pessoa, a letra do que hoje conhecemos como Hino Nacional Brasileiro, consagrando para sempre o nome de Osório Duque-Estrada.
Para o ouvinte atento, é quase impossível não ser tomado por um sentimento de amor e admiração por nossa pátria ao ouvir o nosso Hino Nacional, ante os versos que expõe, de forma tão bela, as belezas e a história de nosso país, acompanhados pelos sonhos e esperanças que seu autor nutria para o futuro de nossa nação. Tendo uma visão gloriosa do início de nossa pátria, era de se esperar que Osório Duque-Estrada esperasse que tal história de glórias continuasse, e moldasse o futuro da pátria, como ele nos diz em um de seus versos: “És belo, és forte, impávido colosso/ E teu futuro espelha essa grandeza“. Em sua ingenuidade e visão esperançosa e romântica de mundo, típicas de um poeta, Osório Duque-Estrada nunca esteve tão errado como nos sonhos e esperanças que nutria para o futuro do “destemido gigante”, ele não poderia imaginar que o “iluminado” sol do “novo mundo“, se converteria em trevas diante da densa nuvem de corrupção, imoralidade, anti-patriotismo, desrespeito a nação, e tantas coisas mais, que hoje predominam na “pátria amada“.
O “amor“, narrado pelo poeta, que descia à Terra, junto com a esperança, como um “raio vívido”, se converteu em um tipo de ódio, movido por várias formas de preconceito, originários do egoísmo de cada integrante da nação. A “esperança”, foi trocada por incertezas, pairando sobre cada membro de nossa nação a desconfiança de que o pior está sempre por vir, que toda situação ruim pode, e vai, sempre piorar. Tais atitudes decorrem de um sistema político que deseja ser completamente totalitário, que busca reger a nação com “rédeas curtas”, sufocando-a com inúmeros e pesados impostos, para sustentar seus próprios caprichos, e que não dá a sociedade prova alguma de que quer mudar a situação na qual nos encontramos, buscando somente fazer suas próprias vontades e estabelecer seus planos, que “parecem” conspirar contra a nação, deixando a população à deriva, sem poder deslumbrar uma tábua de salvação, sem ter esperanças de um futuro melhor. Acredito que essa realidade não “espelha”a grandeza do Brasil, que o poeta nos propôs.
Em outro verso de nosso Hino Nacional, Duque-Estrada diz: “Fulguras ó Brasil, florão da América”. Com tais palavras, o poeta nos diz que o nosso país estava se “sobressaindo”, com uma “qualidade de grande valor”, como uma “preciosidade” diante dos países da América.
Ao contrário dos versos do poeta, infelizmente, nosso país hoje tem se sobressaído e se destacado diante dos outros países somente por notícias que o denigrem, que sujam sua imagem, que desmoralizam nosso povo e nossa nação. Infelizmente, nosso país tem se destacado pela imoralidade, pelo desrespeito, pela corrupção, pela libertinagem, pelas falcatruas, e tantas coisas mais, que só fazem jogar o nome de nossa nação na lama. Sendo todas essas coisas, em sua grande e quase absoluta maioria, cortesia de nossos políticos, que tanto se esforçam para que nosso país continue com esse status. É incrível que, mesmo diante de toda sujeira que os governantes de nosso país fazem, ainda tenham coragem de cantar o Hino Nacional Brasileiro em suas reuniões e momentos cívicos. Sinceramente, é muita falta de vergonha na cara. Tudo isso fez com que, há muito tempo, o Brasil deixasse de ser o “florão da América”, e a fulgurar como tal.
Entre outras coisas que o poeta nos apresenta como suas esperanças para o futuro da nação, destaco outras três coisas que nos mostram que o Brasil em que nós vivemos hoje não é, nem de longe, o país que o autor de nosso hino esperava que fosse, mostrando como foram esquecidos os ideais de Duque-Estrada, vistos hoje como uma utopia.
O poeta nos diz, nos versos de seu poema:
“Brasil, de amor eterno seja símbolo.”
(…)
“E diga o verde-louro dessa flâmula, paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta…”
Ao olharmos para nosso Brasil, para a sociedade brasileira atual, podemos dizer que nosso país é símbolo de “amor eterno”? Como brasileiros, indivíduos dos quais essa nação é formada, podemos dizer que praticamos o amor a ponto de tal sentimento ser o símbolo de nossa nação? Muito pelo contrário! Nosso país tem se destacado pela violência, pelo desrespeito, pela falta de compaixão e piedade, e tem sido conhecido por isso. Essa falta de amor, pela qual nosso país é reconhecido, é só um reflexo das atitudes e da forma de pensar dos indivíduos que formam nossa nação. Cada um de nós temos responsabilidades diante disso. Esse amor, que o poeta diz que deveria ser o símbolo de nosso país, nos leva à outra de suas esperanças: “paz no futuro”. Nunca haverá a paz sem o amor, sem a compreensão, sem o respeito uns para com os outros, e isso deve ser praticado em todas as escalas da sociedade. A paz depende diretamente do amor e, em um país onde não há o amor, também não haverá a paz.
E por fim, o futuro que Osório Duque-Estrada esperava para a nação era um futuro de justiça: “Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta“. O futuro que o poeta esperava era um futuro de pessoas que lutavam pela justiça, pessoas que não temiam lutar para que a justiça fosse feita, mas, como tudo o que nós vimos até aqui, a nossa realidade é totalmente o contrário: o que mais se vê em nosso país é injustiça. A injustiça impera, sem diferença de raça, cor, credo, classe social, etc. Vale tudo para que uma pessoa se dê bem em cima de outra, mesmo que injustamente.
Ao analisarmos nossa realidade, como povo brasileiro e parte dessa nação, ao cantarmos o hino nacional, deveríamos, no mínimo, sentir vergonha de muitas vezes não estarmos assumindo a nossa responsabilidade como cidadãos dessa “pátria amada“. Vergonha por não praticarmos, nem mesmo apoiarmos, valores mínimos, como o amor e a justiça.
Devemos mudar a forma pela qual nosso país é reconhecido. É preciso que cada um de nós comece a ter princípios que nos leve a ter atitudes louváveis. A nação brasileira é formada por cada um de nós, e nossos princípios e atitudes individuais é que formarão a identidade pela qual a nação será reconhecida.
Que venhamos mudar, e lutar para que nossa nação venha ser realmente digna do Hino que tem, e que o nosso futuro venha refletir o futuro que tal Hino contempla. E isso depende de cada um de nós. Que façamos nossa parte!
Wanderson Reginaldo Monteiro
(São Sebastião do Anta – MG)