Eugênio Maria Gomes
O Brasil lidera o ranking dos países que mais cobram impostos, submetendo a sua população a uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo. Por aqui, trabalhamos praticamente cinco meses durante um ano, apenas, para pagar impostos. Também por isso, nosso país é um dos mais “provedores” de serviços públicos do mundo. Até ai tudo bem, não fosse a péssima qualidade dos serviços que ele presta aos seus cidadãos. E mais: acostumou-nos a oferecer tais serviços como se nos concedesse uma benesse e não um direito, tornando-nos “devedores” de “favores” recebidos de seus agentes públicos.
Assim, já meio que nos acostumamos a receber um pouco mais de “benefícios” em época de eleição. Sabe aquele muro que esperávamos há tempos, cuja ausência ameaçou a nossa integridade física durante anos? Agora está sendo construído, o deputado conseguiu a verba. E aquela pinguela, tão necessária à nossa travessia no córrego, cuja ausência nos fez atravessar, ano após ano, com a água batendo no joelho, quando tínhamos que levar o filho à escola ou a avó ao posto de saúde? Pois é, está sendo construída, com a ajuda do deputado. Sabe aquela canaleta, aquele bueiro e o meio fio da nossa rua? Estão sendo construídos…
Não deixa de ser curioso o que acontece com as cidades – das capitais aos grotões do interior do país -, nesse período de eleição. Assim que se aproxima o momento de colocar o nosso voto na urna, as coisas mudam. É fácil entender isso: os políticos sabem o valor do nosso voto. Nós é que, infelizmente, não o sabemos!
Para as instituições sociais e culturais, a situação não é muito diferente. Para elas, a proximidade das eleições significa, via de regra, a oportunidade de ter acesso a recursos financeiros esperados durante meses, às vezes, durante anos. Deputados – de todos os partidos – fazem chegar aos caixas dessas Entidades, um pouco do que precisam para manterem as portas abertas aos seus usuários. Cada instituição beneficiada anuncia feliz, a recompensa recebida por seu esforço de “correr atrás” dos nossos representantes, meses a fio, de pires na mão. Assim, todos nós tomamos conhecimento do “grande benefício” que o político nos trouxe e, agradecidos, damos-lhe o nosso voto. Sim, um voto de agradecimento! Reduzimos o mais poderoso instrumento democrático, que nos permite escolher quem nos governa e quem nos representa a um mero instrumento de agradecimento…
Esse penoso, triste e cansativo processo tem nome: FALÊNCIA DO ESTADO PROVEDOR. O Estado – e isso ocorre em todo o Brasil –, mercê de um falido sistema político, não cumpre com as suas obrigações diárias de manutenção das instituições, submetendo-as à mendicância e à dependência daqueles, cuja responsabilidade de atuação deveria extrapolar os “favores” e as “benesses” concedidas, apenas, em períodos eleitorais.
O Estado Brasileiro está falido. Falido economicamente e falido em sua função de garantir o acesso aos direitos básicos do cidadão. Falido, também, politicamente, haja vista que a maioria de seus vereadores, deputados e senadores, antes de cumprir o seu papel básico de legislar; de propor, discutir e aprovar leis; de fiscalizar o governo e investigar através das CPIs; de cobrar a devida prestação de contas das diversas autarquias, priorizam a resolução de assuntos pessoais de seus eleitores (até hoje há vereador que fica cuidando de assuntos como receitas, internações, fornecimento de cestas básicas, pagamento de contas de água e luz). Retratos da patética realidade brasileira.
E o que é pior: normalmente, quando o político cumpre o seu papel, priorizando a função maior de seu mandato, parte de nós acaba “achando” que ele não foi um bom vereador, um bom deputado ou um bom senador. Já disse por mais de uma vez que os políticos não são seres de outro planeta. Eles são o resultado de um Estado falido e de um povo que mal sabe para que serve, efetivamente, o seu voto. Somos, não tenho dúvidas, os maiores responsáveis por este estado de coisas.
Infelizmente, somos dependentes de algo que – se não gostamos – no mínimo já nos acostumamos. Ainda bem que já houve um tempo em que gostávamos de coisas que, hoje, não gostamos mais. Tipo calça “boca de sino”, vitrola, gordini, máquina de datilografia, moedor de carne, lamparina, rádio a pilha…
Já mudamos tanto… Talvez, um dia, também mudemos em relação à Política.
“Mude o modo que você olha para as coisas, e as coisas que você olha mudarão.”
- Eugênio Maria Gomes é professor e pró-reitor de Administração da Unec. É membro da ACL – Academia Caratinguense de Letras e da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni. É Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG, membro da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga, do Lions Itaúna e do MAC – Movimento Amigos de Caratinga.