Desde os tempos da antiguidade o processo de escravização de pessoas faz parte da história da humanidade. Infelizmente, essa prática desumana e cruel tornou-se de forma absurda, aceita e compactuada por diversos povos, durante centenas de séculos.
Os motivos para a escravização sempre foram diversos, alguns se tornavam escravizados por terem perdido uma guerra, outros por dívidas, e tantos outros por serem vistos como uma forma de força de trabalho de baixo custo.
Essa última modalidade, como forma de trabalho, gerou um sistema de escravização em que várias pessoas saiam lucrando, pois, as pessoas além de escravizadas, eram consideradas um objeto de valor econômico. Assim, desde quem os capturavam, nas suas terras de origem, quem os transportavam para as mais variadas regiões, passando pelos pontos de venda, pois haviam comerciantes de escravizados, até o destino final, a utilização como força produtiva, muitos lucravam e fizeram de tudo para manter a “cultura da escravização” sempre presente na sociedade com o decorrer do tempo.
E em Caratinga não foi diferente. Nossa história é repleta de casos que descrevem a escravização ou a presença de escravizados na região de Caratinga. Mesmo o Brasil passando por um movimento pró-abolicionista, a prática de escravização durou por muitas décadas. Lembrando que, a História de Caratinga, oficialmente contada, começa na década de 40 do século XIX e a abolição, também oficialmente, através da Lei Áurea, somente na década de 80, do mesmo século, portanto, praticamente 40 anos depois.
Um dos exemplos, remete-se à chegada de Domingos Lana, que acompanhado de escravizados, companheiros e índios que haviam sidos catequizados, arriscou a sorte nas terras do Sertão do Leste à procura de uma planta medicinal, a poaia. Logrando êxito, permaneceu nas terras que se tornariam caratinguenses até 1847.
Entre outros relatos da presença de escravizados na região de Caratinga, notamos a presença nos atuais distritos de Santo Antônio do Manhuaçu e Sapucaia quando foram utilizados no processo de desmatamento das respectivas áreas para a ocupação, iniciando os primeiros povoados, e implantação de uma nova atividade econômica ligada ao extrativismo da madeira e pecuária.
Neste período, quando se iniciava o processo de colonização da região de Caratinga, famílias inteiras se deslocavam, alguns no lombo de burros e mulas, mas a maioria a pé, abrindo caminhos pela mata. Os escravizados eram utilizados na composição destas picadas e demais trabalhos braçais, como o carregamento de mercadorias e objetos diversos.
Como exemplo, desse processo migratório, há uma relação de escravizados de um dos fazendeiros da região de Santo Antônio do Manhuaçu, que apontava só em uma das fazendas, no ano de 1886, a existência de 20 escravizados.
Enfim, o uso de mão-de-obra de escravizados, como constata-se em vários relatos bibliográficos, também foi uma pratica utilizada na região de Caratinga. Algo muito pouco comentado, mas que deixou suas marcas de desigualdade no desenvolvimento da nossa sociedade.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor