* MONIR ALI SAYGLI
“Madruga e verás, trabalha e terás”!
O provérbio conta a história de nossa cidade, através de uma personagem que muito trabalhou pelo bem de nossa gente humilde – atuando sempre no anonimato.
Com menos de um metro e quarenta centímetros de altura, mas com muitos e muitos metros de capacidade de trabalho, além do grande espírito cristão e a alta vontade de servir sem pensar em remuneração ou mesmo na projeção do seu nome, assim era a nossa homenageada neste momento.
Ainda perto dos 80 anos de idade, com nada menos de 50 empregados em favor dos doentes do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, nossa homenageada foi sempre simples, modesta, por assim dizer, viga mestre daquela casa criada para fazer a caridade.
Hoje, diante da crise por que passa o nosso Hospital, lembramo-nos da figura incrível de Dª Maria Felícia Armond, que deu lições de bem viver, ao contrário dos que pregam e não fazem, que recebem e não trabalham.
Dª Maria Felícia era filha de Caratinga, onde sempre viveu e trabalhou para ver o crescimento da “cidade das palmeiras”. Tudo começou na sua infância, quando recebeu da professora Dª Luíza de Aquino Batista (uma das primeiras professoras de nossa terra) os primeiros ensinamentos – que transmitiu aos seus discípulos quando, durante muitos anos, atuou como professora no Instituto Nossa Senhora Auxiliadora – o Colégio de Dona Isabel Vieira.
No ano de 1947, Dª Maria Felícia abandonou o magistério para dedicar-se totalmente ao serviço do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, onde já era colaboradora.
Apesar de sua infinita bondade nossa servidora também teve sua parte de sofrimento, quando, aos 20 anos de idade, seu sistema nervoso, tremendamente abalado, provocou-lhe uma paralisia – por seis anos -, levando-a a uma cadeira de rodas.
Mas Deus já havia traçado os planos para a nossa boa amiga, e ela se refez da doença e continuou sua obra de amor ao próximo.
Dª Maria Felícia nunca se casou porque sempre quis servir a um só Senhor, servindo à coletividade.
Ocupou o cargo de Secretária da Irmandade das Filhas de Maria, onde deixou exemplos de perfeição e honestidade, fazendo a escrita do Hospital – além de seguir saindo pelas ruas para angariar fundos para a manutenção da referida casa. Ia de porta em porta, arrecadando centavos, conseguindo quantias suficientes para garantir o prosseguimento dos atendimentos aos mais pobres.
Quando de sua chegada ao Hospital, ele representava uma partícula minúscula do que é hoje, tendo seu grande prédio sido construído graças ao esforço da nossa homenageada.
Naquele tempo, o DNER construiu, com muito sacrifício, uma pequena parte do atual nosocômio e Dª Maria Felícia colaborou para seu crescimento gigantesco.
Reafirmamos que, no seu meio século de bons serviços prestados à nossa comunidade, Dª Maria Felícia sempre mostrou seu contentamento, com um sorriso nos lábios, dando provas de sua vocação.
Voltando ao provérbio, asseguramos que Dª Maria Felícia sempre trabalhou com afinco, pelo que tem e terá eternamente seu nome registrado na heroica história da abandonada Cidade Esperança.
Ela foi exemplo do divino ensinamento “Amai-vos uns aos outros”.
Vejam os senhores e as senhoras que, enquanto falsos cristãos usam os mais modernos veículos para a prática do “bem”, Dª Maria usou suas frágeis pernas para levar sua “cruz”.
Que sua existência fique como um exemplo para os benfeitores de hoje e que sua peregrinação seja seguida e o seu monumental trabalho jamais esquecido.
Dª Maria Felícia Armond, onde quer que esteja, aceite estas linhas como uma simples homenagem dos filhos de Caratinga – que jamais a esquecerão.
Está consumado o provérbio: “Madruga e verás, trabalha e terás”!
*MONIR ALI SAYGLI Professor do Centro Universitário de Caratinga e Assessor Jurídico da FUNEC