Presidente da Câmara em 1995, ele relembra fatos daquela época e fala o porquê não se candidatou mais a um cargo político
CARATINGA- Darcy da Silveira, 78 anos, foi o presidente da Câmara em 1995. Naquele ano, grande parte dos assuntos em debate no legislativo estavam em torno da possibilidade de anexação do distrito de Cordeiro de Minas a Ipatinga. Apesar de muitas discussões em torno desta questão, o projeto não se efetivou e até os dias de hoje o distrito se mantém em Caratinga.
A Reportagem esteve com o ex-presidente do legislativo. Em sua casa, no distrito de Patrocínio, ele afirma que optou pelo sossego e leva uma vida de tranquilidade. Pouco barulho se ouve ao redor e ali, Darcy cuida de criações e plantações. Toma sucos naturais com frutas diretamente do pé. Ele afirma que a vida simples e em meio a natureza é o que lhe faz bem.
Nesta entrevista ao DIÁRIO, Darcy relembra os principais fatos da época, como era a política na década de 90 e o porquê não quis mais se candidatar a um cargo político.
Como era a campanha na década de 90?
Naquele tempo gente tinha uma liberdade muito grande. Podia fazer tudo de propaganda, podia até comprar o eleitor. Infelizmente, o eleitor faz o político corrupto, porque ele pede, o político acaba dando aquilo que ele quer e fica corrompendo. Aquele tempo era livre, podia fazer a campanha de qualquer maneira, não tinha problema. Era bem aberto, tinha comício, showmícios, hoje isso é tudo proibido. Na época do sô Dário, ele com muito dinheiro, fez uma campanha milionária vamos dizer assim. Qualquer artista que ele queria na comunidade pagava. Aquilo juntava gente, mandava 10, 15 ônibus, para empresa dele carregar o pessoal do município praticamente inteiro. E ali fazia a campanha livre e independente.
Naquela época os distritos eram bem representados na Câmara?
Do Dr. Eduardo pra cá é que os distritos começaram a ser mais bem representados, porque elegeu bastante vereadores dos distritos. Até então, a eleição era mais da sede. Aí começou a ser mais valorizado, aqui por exemplo nunca teve vereador, posso dizer que fui o primeiro vereador eleito aqui.
Quando o senhor foi presidente da Câmara, qual foi o principal projeto?
Foi um ano só de presidência e não deu muito tempo para projetos. Agora, o que não sei se foi bom pra Caratinga ou ruim foi aquela briga com Ipatinga, que eles queriam anexar Cordeiro e São Cândido. Achei aquilo absurdo, apesar de Caratinga na época, não sei hoje como que está aquela situação lá, muitos anos que não passo por lá; tinha uma dívida muito grande com esses distritos. E o meu sonho era que a gente pudesse segurar o Cordeiro e o São Cândido, realizar algumas coisas para lá. Mas, infelizmente, os vereadores tinham uma dificuldade muito grande com os prefeitos de conseguir às vezes realizar alguns projetos no distrito, porque prefeito não gosta de vereador, a verdade é essa. Nem o sô Dário que foi meu companheiro gostava de fazer as coisas pra mim.

Darcy da Silveira afirma que não se decepcionou com a política, porém, não desejou mais ser candidato
Como era a relação da Câmara com a Prefeitura?
A relação era boa, não era ruim, só que eles não atendiam a gente. Tem a história de uma ponte, que caiu e as vigas que estão nela o sô Dário tinha comprado em Ipatinga e estavam jogadas lá na faculdade. Eu fui lá medir a extensão da ponte, conversei com ele, eu era presidente da Câmara, para ele mandar as vigas para cá para colocar na ponte, não quis de jeito nenhum. O Salatiel era o secretário, fui lá e falei com ele, que disse: “Vou contratar um caminhão para levar. Vão levar esse trem escondido, isso tá jogado lá”. Aí o Salatiel me atendeu, trouxemos as vigas e de tarde, a ponte tava pronta, o Salatiel trouxe o sô Dário e ele inaugurou a ponte. Eram muitas as dificuldades e até hoje são muitas as dificuldades que o Poder Legislativo tem com o Poder Executivo.
E com os deputados, tinha muito acesso a eles?
Com deputados a gente tinha. Por exemplo, primeiro mandato meu na época do Dr. Eduardo, eu tinha o deputado federal Octávio Elísio que me ajudava muito; depois no mandato do sô Dário veio o Mauro Lobo, deputado estadual. Então, tínhamos um contato mais aberto com os deputados.
Como era o contato com a população, a procura pelos vereadores era intensa?
Tinha um contato mais direto com os vereadores. Vereador vivia aqui no campo né, mais no mato aí, principalmente os dos distritos. O sô Dário visitava as comunidades com a gente, comia pão com salame, às vezes tinha dia que a gente não ganhava almoço. Então, o povo tinha um contato mais aberto.
O senhor acha que hoje está diferente daquela época a relação político-população?
Mudou muito, às vezes até mudou para melhor acredito. São novos tempos, novos rumos.

Diário de 22 de novembro de 1995 trazia reportagem sobre expectativa de Cordeiro de Minas em torno de anexação
Como o senhor avalia a evolução da cidade ao longo dos anos?
Antes do sô Dário, Caratinga era um marasmo, paradeira total. Ele mudou alguma coisa, mas tivemos já o Zé de Assis que para mim foi uma negação, meu companheiro, mas para mim foi uma negação na política, deixou o poder subir à cabeça dele e abandonou o município. Foi um fracasso muito grande. Depois veio o Ernani, que foi bom prefeito, fez um bom trabalho, inclusive foi reeleito. Depois dele, vieram os outros, João Bosco, Marco Antônio, que eu acho também que foi um atraso para Caratinga. Agora, esse prefeito é meu conterrâneo, nasceu aqui na virada do morro, na Fazenda da DPC; não tenho contato com ele. Quando ele foi candidato, falei: “Vai ser o pior prefeito que Caratinga já teve”. Mas, ele tá me decepcionando, tem feito alguma coisa aqui na nossa região, tem feito algum trabalho que eu fiquei mentiroso, falei que ele ia ser ruim e ele está até bom. Ele resolveu muitas questões, meu sonho era tirar aquelas pessoas que não trabalhavam na prefeitura, aqueles funcionários que viviam encostados e recebiam o salário e ele olhou por esse problema. Não voto nele, a verdade gosto de falar, não votei nele na primeira e não voto na segunda vez, mas ele está fazendo um bom trabalho.
O senhor não se candidatou mais a nenhum cargo político. Se decepcionou?
É porque eu achei que já tinha cumprido minha missão. Não decepcionei com política, mexo com política até hoje, inclusive eu fui outro dia recadastrar meu título, porque quero votar ainda. Tenho 78 anos e quero votar. Não procuro contato com político nenhum porque não quero mexer com política. Mas, eu vejo pessoas da minha comunidade ter facilidade de contato, de resolver alguns problemas junto com os políticos. Eu optei pelo sossego, não quis mais mexer. E minha esposa, já faleceu, lutou comigo para eu parar, então fiz uma promessa pra ela à época: “Se eu perder a eleição, eu paro”. Eu perdi, eu cumpri a promessa com ela.