* Inês A. S. Azevedo
Vivemos uma época coroada pela riqueza em tecnologia digital. É inegável as vantagens que essa tecnologia nos trouxe, rompendo fronteiras de tempo e espaço, coroando de facilidades algumas atividades cotidianas que desenvolvemos. São tantos aplicativos úteis que de maneira quase “mágica” facilitam o nosso dia a dia, que chega a ser inacreditável.
É fácil perceber o quanto existe de bom em tudo isso. Mas, eu não quero apresentar o lado bom desta história. Quero mesmo é problematizar, refletir sobre a noção de limite no uso dessa tecnologia digital a nosso dispor. Será que estamos preparados para tantas facilidades? Usamos de maneira sensata, no lugar certo, com a finalidade certa, toda essa tecnologia que nos rodeia? Nossas crianças e jovens fazem uso sensato, adequado e com limite das tecnologias digitais que os cercam?
Não posso ouvir a resposta de vocês, mas, gostaria de lhes apresentar resultados de pesquisa realizada sobre o uso excessivo de tecnologias digitais para que possam comparar com o que responderam e possam tirar suas conclusões, por favor.
Uma pesquisa realizada pela AVG Technologies (2015) com famílias de todo o mundo, mostrou que 66% das crianças entre 3 e 5 anos de idade conseguia usar jogos de computador, 47% sabia como usar um smartphone, mas apenas 14% era capaz de amarrar os sapatos sozinha. No caso das crianças brasileiras, o levantamento apontou que 97% das crianças entre 6 e 9 anos usam a internet e 54% têm perfil no Facebook.
A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria (http://pediatrics.aappublications.org/content) realizaram uma pesquisa sobre o uso excessivo de tecnologias digitais e afirmam que crianças de 0 a 2 anos não devem ter nenhuma exposição à tecnologia; crianças de 3 a 5 anos devem ser limitadas à uma hora de exposição por dia e crianças e adolescentes de 6 a 18 anos devem ser restritas a duas horas por dia. Os pesquisadores listaram dez razões, todas apoiadas em pesquisas, para justificar a “proibição” desse acesso exagerado a tecnologias digitais pelas crianças até 12 anos de idade:
- Crescimento cerebral acelerado: Entre 0 e 2 anos de idade, o cérebro da criança triplica de tamanho, e ele continua em estado de desenvolvimento acelerado até os 21 anos de idade (Christakis 2011). O desenvolvimento cerebral infantil é determinado pelos estímulos do ambiente ou a ausência deles. Já foi comprovado que o estímulo a um cérebro em desenvolvimentocausado por superexposição a tecnologias (celulares, internet, iPad, TV) é associado ao déficit de funcionamento executivo e atenção, atrasos cognitivos, prejuízo da aprendizagem, aumento da impulsividade e diminuição da capacidade de se autorregular, por exemplo, acessos de raiva (Small 2008, Pagini 2010).
- Atraso no desenvolvimento: O uso de tecnologia restringe os movimentos, o que pode resultar em atraso no desenvolvimento. Hoje uma em cada três crianças ingressa na escola com atraso no desenvolvimento, o que provoca impacto negativo sobre a alfabetização e o aproveitamento escolar (HELP EDI Maps 2013). A movimentação reforça a capacidade de atenção e aprendizado (Ratey 2008). O uso de tecnologia por menores de 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento e aprendizado infantis (Rowan 2010).
- Obesidade epidêmica: Existe uma correlação entre o uso de televisão e videogames e o aumento da obesidade (Tremblay 2005). Crianças às quais se permite que usem um aparelho digital no quarto têm incidência 30%mais alta de obesidade (Feng, 2011). Em grande medida devido à obesidade, as crianças do século 21 talvez formem a primeira geração da qual muitos integrantes não terão vida mais longa que seus pais (Professor Andrew Prentice, BBC News 2002).
- Privação de sono: 60%dos pais não supervisionam o uso que seus filhos fazem de tecnologia, e 75% das crianças são autorizadas a usar tecnologia no quarto de dormir (Fundação Kaiser 2010). 75% das crianças de 9 e 10 anos têm déficit de sono em grau tão alto que suas notas escolares sofrem impacto negativo (Boston College 2012).
- Doença mental: O uso excessivo de tecnologia é um dos fatores responsáveis pelas incidências crescentes de depressão infantil, ansiedade, transtorno do apego, déficit de atenção, autismo, transtorno bipolar, psicose e comportamento infantil problemático (Bristol University 2010, Mentzoni 2011, Shin 2011, Liberatore 2011, Robinson 2008).
- Agressividade: Conteúdos de mídia violentos podem causaragressividade infantil (Anderson, 2007). A mídia de hoje expõe crianças pequenas cada vez mais a violência física e sexual. O game “Grand Theft Auto V” retrata sexo explícito, assassinato, estupros, tortura e mutilação; muitos filmes e programas de TV fazem o mesmo. Os EUA classificaram a violência na mídia como Risco à Saúde Pública, devido a seu impacto causal sobre a agressividade infantil (Huesmann 2007).
- Demência digital: O conteúdo de mídia que passa em alta velocidade pode contribuir para o déficit de atençãoe também para a redução de concentração e memória, devido ao fato de o cérebro “podar” os caminhos neurais até o córtex frontal (Christakis 2004, Small 2008). Crianças que não conseguem prestar atenção não conseguem aprender.
- Criação de dependência: À medida que os pais se apegam mais e mais à tecnologia, eles se desapegam de seus filhos. Na ausência de apego parental, as crianças podem apegar-se aos aparelhos digitais, e isso pode resultar em dependência (Rowan 2010). Uma em cada 11crianças e jovens de 8 a 18 anos é viciada em tecnologia (Gentile 2009).
- Emissão de radiação: Em maio de 2011 a Organização Mundial de Saúde classificou os telefones celulares (e outros aparelhos sem fios) comorisco de categoria 2B (possivelmente carcinogênico), devido à emissão de radiação (OMS 2011). Em outubro de 2011, James McNamee, da Health Canada, lançou um aviso cautelar dizendo: “As crianças são mais sensíveis que os adultos a uma série de agentes, porque seus cérebros e sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento.” (Globe and Mail 2011). Em dezembro de 2013, o Dr. Anthony Miller, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Toronto, recomendou que, com base em pesquisas novas, a exposição a frequências de rádio seja reclassificada como risco de categoria 2A (provavelmente carcinogênico), não 2B (possivelmente carcinogênico). A Academia Americana de Pediatria pediu uma revisão das emissões de radiação de campo eletromagnético de aparelhos de tecnologia, citando três razões relativas ao impacto sobre as crianças (AAP 2013).
- Insustentável: O modo em que as crianças são criadas e educadas com a tecnologia deixou de ser sustentável (Rowan 2010). As crianças são nosso futuro, mas não há futuro para crianças que fazem uso excessivo de tecnologia. É necessária e urgente uma abordagem de equipe para reduzir o uso de tecnologia pelas crianças.
Portanto, vocês, pais, educadores, adultos responsáveis por nossas crianças, estão convocados a fazer parte dessa equipe que irá orientar o uso adequado dessa tecnologia digital. Lembrando que a criança é observadora e sabe exatamente o que passa na mente dos pais e educadores, é capaz de confrontar o que falam com o que fazem. Não adianta um belo discurso verbal do que não se deve fazer se não houver “exemplo”. Entenderam???
O que vai ser transmitido para os filhos não é o que se origina de um discurso verbal, mas sim “o que se é e como se age”. Fica a dica! Embora ainda não haja consenso entre os especialistas, muitos apontam consequências sombrias do contato excessivo das crianças com as novas tecnologias digitais. Eu aposto no limite para tudo!!!
Prof. MSc. Inês A. S. Azevedo
Professora do Centro Universitário de Caratinga – UNEC
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=apresentar
Um comentário
lucas silva
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