O túmulo está vazio

12573749_870648186389138_5575032889268060264_nWalber Gonçalves de Souza

        Eram cinco horas da manhã, ouvia-se o cantar de alguns galos que perambulavam pelo terreiro e ao mesmo tempo o som que vinha do despertador. Depois de alguns bocejos e espreguiçadas era hora de levantar e começar a lida de mais um dia.

O banheiro seria o primeiro destino do dia, onde a higiene corporal aconteceria. Depois com passos firmes chegaria à cozinha, onde seria feito um forte e delicioso café. Para melhorar ainda mais a refeição matinal, montado em cima de uma bicicleta, dirigiu-se rumo à padaria do bairro, que ficava a alguns quarteirões do sua moradia.

Com pedaladas mais apressadas no retorno, rapidamente chegou em casa. Ao adentrar seu lar deparou-se com os demais membros da sua família também acordados e apetitosos à espera daquele pão quentinho.

De barriga cheia e apetite satisfeito cada um tomou o seu destino, alguns seguiam rumo a escola para mais uma manhã de aula e outros para mais uma jornada de trabalho. A escola ficava próxima da casa, por isso as crianças iam a pé. O trabalho da mamãe também, pois era professora na mesma escola. Agora ele deveria atravessar toda a cidade de ônibus, pois o seu trabalho era realizado do outro lado da cidade. De segunda a sexta, nas idas e vindas, ele passava por uma grande ponte, cerca de 150 metros de comprimento, e de tanto percorrer o mesmo caminho percebia que naquela ponte aconteciam vários acidentes, pois as barreiras laterais viviam quebradas.

As crianças e a mãe conviviam com tantas outras crianças e pessoas que fazem parte de um ambiente escolar. Já ele trabalhava em uma usina nuclear onde a tensão, o cuidado, o perigo estão presentes em todos os cantos.

E assim os dias passam e se repetem na dinâmica da sobrevivência. E nem percebemos que a todo o instante o túmulo se torna vazio à nossa frente. Pois acreditar no túmulo vazio é acreditar na vida, é ter fé.

Domingo passado milhões de pessoas mundo afora comemoram a páscoa, pois acreditam que o túmulo está vazio, acreditam que a esperança se renova, acreditam na vida, acreditam que a fé é real.

Como assim, a fé é real? Por que nem sempre percebemos que a todo o instante o túmulo se torna vazio à nossa frente? Basta olhar a nossa própria existência, nossa vida é guiada pela fé, pela fé que devemos e depositamos todos os dias nas pessoas que nos rodeiam.

Pense bem, você vai à padaria, compra e come o pão na certeza que ele não está envenenado; você toma o café feito por outra pessoa sem saber que se há algo nele que possa te fazer mal; você frequenta lugares sem se preocupar se pode estar correndo perigo, pois alguém pode estar ali para cometer algum atentado; você anda de transporte público na certeza que o motorista não vai jogar o ônibus pela ponte ou ribanceira; você caminha pelas calçadas das cidades, cruza os olhares com tantas pessoas e acredita piamente que chegará em casa no fim do dia.

O túmulo está vazio todos os dias na manifestação de fé que depositamos uns nos outros. Por isso a fé não pode morrer, pois ela é a estrela invisível, a essência que conduz o ser nas trilhas da vida. Imagine que caos seria se algum dia as pessoas de fato não puderem confiar umas nas outras.

Mas alguém poderia estar se perguntando: mas não são todas as pessoas que acreditam que o túmulo está vazio? Portanto, podemos afirmar que esta pessoa não tem fé? Talvez esteja aí o grande sentido de se comemorar a páscoa todos os anos, alertar para a fé. Não acreditar que o túmulo está vazio significa também não acreditar na vida, nas pessoas.  E como isto tem acontecido na nossa sociedade. Estamos perdendo a fé em nós, nos outros. Quando isto acontece a vida perde o brilho, as manifestações de morte se manifestam e se espalham.

O túmulo está vazio todos os dias, mas sem fé não conseguiremos enxergá-lo jamais. Fé esta que se manifesta de todas as formas e jeitos em cada lugar e ação que executamos ou que de alguma forma estamos envolvidos.

O túmulo está vazio, acredite!

 

Walber Gonçalves de Souza é professor.

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