Não é novidade alguma que o trânsito de Caratinga está um caos, não obstante as tentativas de melhoria propostas pelo poder público e, como se sabe, sobram veículos e nossas ruas já não comportam mais o fluxo intenso, uma vez que não foram devidamente projetadas para tanto.
Não sou especialista no assunto e não estou aqui para apontar soluções, deixando tal mister para os entendidos. No entanto, como morador da cidade, irei expor parte do que tenho visto e vivenciado, o que certamente já deve ter sido visto e vivenciado também por você, caro leitor.
A sociedade brasileira, muito antes daquela antiga campanha publicitária que ensinou aos brasileiros que “o importante era levar vantagem em tudo”, já era adepta do jeitinho e do vantagismo. Basta pesquisar que você, caro leitor, chegará a esta infeliz conclusão.
E no trânsito de nossa cidade, a todo momento e não somente nos horários de pico, vemos o jeitinho, a falta de educação e o vantagismo se exteriorizando, sempre contribuindo para aumentar o caos no trânsito.
É claro que não são todos os motoristas que assim agem, mas, com certeza, os péssimos exemplos vêm sempre das mesmas pessoas, independentemente da classe social. Basta uma observação mais atenta e você chegará a esta mesma conclusão. Observe bem, por exemplo, nas portas de bancos, lojas e escolas e se tiver um veículo parado em fila dupla num dia, observe o dia seguinte e você verá que são sempre as mesmas pessoas que entendem que apenas acionando o pisca alerta recebem um salvo conduto para atrapalhar o trânsito e a vida dos demais motoristas.
Aliás, parece que o pisca alerta para alguns motoristas é o “pisca da invisibilidade”, razão pela qual depois de acioná-lo não estão nem aí para o que acontece no trânsito, ora escondendo-se atrás de óculos escuros, ora fechando os vidros, mas sempre fazendo cara de paisagem, isto quando ficam dentro dos veículos, pois costumam também acionar o pisca e sair do veículo para fazer o que bem entendem; outro dia mesmo, na parte da noite, observei na porta de uma agência bancária no centro da cidade um veículo parado em fila dupla, pisca acionado e o motorista na fila do caixa eletrônico, e o que é pior, logo na frente, menos de 10 metros, existia estacionamento disponível, mas certamente a falta de educação produz cegueira.
Parece que não conhecem estacionamentos pagos ou a hipótese de se estacionar um pouco mais longe e fazer parte do deslocamento a pé, sem atrapalhar o trânsito e cometer infração. E se algum motorista ou até mesmo a polícia chama a atenção de tais pessoas, inúmeras são as desculpas, mas na primeira oportunidade farão tudo novamente, pois não tem vergonha de tumultuar o trânsito.
Esse tipo de motorista não consegue utilizar a tecnologia a seu favor avisando a um filho, parente ou amigo que estará estacionado mais à frente ou atrás para que ele o encontre; também não consegue dar uma volta no quarteirão enquanto aguarda, pois para eles “o importante é levar vantagem em tudo, certo?”
E com esse tipo de gente o trânsito nosso de cada dia vai ficando cada vez pior. E se reclamamos, somos taxados de intolerantes e impacientes, como se tivessem o direito de infringir a lei e tumultuar o trânsito. Com esse tipo de gente, só mesmo uma fiscalização eficiente e constante, principalmente nos locais de reiteradas infrações, é que esse quadro se reverterá ou então sonhemos para que a tecnologia atinja o ponto do pisca alerta tornar o veículo invisível, facilitando o estacionamento em fila dupla.
Enquanto isso não acontece, o melhor é ter paciência ou evitar o uso do veículo em determinadas horas do dia, fazendo os deslocamentos a pé, pois, a curto prazo, não vejo solução para esse problema que, antes de tudo, é uma questão cultural e de educação.
* MARCOS ALVES BARBOSA NETO é Advogado e Vice Presidente da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – AMLM