O nosso organismo tem um relógio interno, chamado relógio biológico, que corresponde a um grupo de neurônios localizados no hipotálamo, região cerebral responsável por funções autônomas e vitais do organismo. Esses neurônios são conectados à retina que, por meio de um pigmento especial – melanopsina – percebe a luz, ajustando o relógio cada vez que se inicia um novo dia. Esses neurônios se conectam também à glândula pineal que é ativada pelo escuro, produzindo um hormônio chamado melatonina (MARKUS e CECON, 2013).
A glândula pineal recebeu este nome devido a sua semelhança com uma pinha. Ela apresenta uma intensa irrigação sanguínea, sendo, após o rim, o segundo órgão com maior fluxo de sangue em relação à massa de tecido. René Descartes, filósofo francês, a designou como a sede da alma, de forma semelhante à filosofia hindu, na qual se postula que o homem possui um terceiro olho, como se fosse um órgão místico de ligação com a vida espiritual. A funcionalidade dessa glândula ainda não está totalmente definida, mas destaca-se como o locus privilegiado de produção do hormônio melatonina (PACHECO, OLIVEIRA, RODRIGUES e ROCHA, 2013), que informa as horas e as estações do ano para todo o organismo (MARKUS e CECON, 2013).
A produção desse hormônio acontece somente à noite, dependendo da duração do período de escuro na alternância claro/escuro, ou seja: é variável conforme as estações, de acordo com noites mais longas ou curtas (HISSA, LIMA, SIMÕES e NUNES, 2008).
Conceitualmente, a melatonina é um composto orgânico, lipossolúvel, transportada no plasma, ligada à proteínas, especialmente a albumina. É derivada de um neurotransmissor; a serotonina, que no decorrer do dia apresenta níveis elevados nos mamíferos, decaindo durante a noite, momento no qual ocorre o aumento da melatonina, pela conversão de serotonina (MAGANHIN, 2008).
A serotonina, considerada como responsável pelo bom humor, é um neurotransmissor que está presente no sistema nervoso central, nas plaquetas e no trato gastrintestinal. Atua nos processos de controle do apetite, sono, alucinações, comportamento estereotipado e percepção da dor (MARTINS, SILVA e GLORIA, 2010). O seu nível adequado depende da ingestão alimentar de triptofano e de carboidratos.
O triptofano, por sua vez, é um aminoácido essencial, não produzido pelo organismo. É fornecido através da ingestão dietética, sendo passível de modulação via dieta. Sua obtenção também se dá por meio da degradação das proteínas cerebrais ou da circulação plasmática que depende, em grande parte, de uma proteína de transporte que é a albumina. É considerado essencial pela sua contribuição no crescimento normal e síntese protéica. Entre suas funções sublinha-se o fato de ser precursor da serotonina, e também ter influência sobre o sono, comportamento, fadiga, ingestão alimentar. Além disso, é um dos aminoácidos que estimula a secreção da insulina e do hormônio do crescimento (ROSSI e TIRAPEGUI, 2004).
Para além desse caminho traçado sobre o sono, que parte do triptofano, passando pela serotonina até chegar à melatonina, e da ênfase atribuída à glândula pineal nesse trajeto; sabe-se que outros fatores, psicológicos e sociais, estão presentes nos distúrbios do sono, bem como outras glândulas e mecanismos fisiológicos interferem na sua qualidade.
Maria do Rosário Rodrigues é terapeuta homeopática