*Eugênio Maria Gomes
Hoje, resolvi não falar de corrupção, de desgoverno, de descontrole econômico. É que, não obstante serem estes os assuntos do momento, a maior parte dos meus textos versou sobre eles neste início de ano. Quero aproveitar as comemorações do 450º aniversário da nossa antiga capital federal para compartilhar com o leitor algumas impressões minhas sobre a Cidade Maravilhosa e, de quebra, comentar alguns pontos sobre as outras duas principais cidades do Sudeste: Belo Horizonte e São Paulo.
É claro que, mesmo não querendo falar do tema mais importante dos últimos meses, não podemos nos esquecer que, quando o assunto é a corrupção, o mau uso da coisa pública e a atuação de políticos inescrupulosos, as três cidades têm muito em comum, até porque abrigam Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores, sempre recheadas de bons e de maus representantes. Ademais, a operação Lava jato, em maior ou menor escala, atingiu empresários e agentes públicos nas três capitais.
Mas, vamos ao que se propõe este texto…
O Rio de Janeiro é, sem dúvida, a mais bonita das três cidades. Também, a mais bem sinalizada, tornando praticamente impossível ao motorista, mesmo na condição de “marinheiro de primeira viagem”, não encontrar o endereço que procura. As placas são visíveis e a informação precisa. No entanto, quando o assunto é o atendimento ao cliente, a situação beira ao ridículo. Como pode uma cidade que representa o país quando se fala do Brasil, vocacionada, naturalmente, ao turismo, atender tão mal a população na maioria de seus pontos comerciais, sejam eles ligados à venda de produtos ou à prestação de serviços?
São Paulo, certamente é a menos bonita das três. Fria, também é a mais complicada para se viver, até por conta de sua vocação para o trabalho. Mas, é justamente esta vocação que propiciou à megalópole tornar-se uma das melhores prestadoras de serviço do mundo. Em São Paulo, seja na Rua 25 de Março, seja na Avenida Paulista, não existe a figura do freguês, mas, a do cliente. “Pois não senhor”, “Em que posso ajudar”, “Espero que esteja satisfeito” e “Esperamos recebê-lo de volta” são frases costumeiramente ouvidas pelos que frequentam a maioria dos pontos comerciais da cidade.
Belo Horizonte, quando o assunto é a beleza e a qualidade da prestação de serviços, encontra-se na média da maioria das grandes cidades brasileiras, excetuando-se Rio e São Paulo. Mas, duas coisas chamam a atenção sobre a capital mineira: o acolhimento e a sinalização. As pessoas, em Belo Horizonte, são educadas, prestativas, procuram fazer o melhor, não obstante haja visível falta de qualificação para o serviço. Já a sinalização… Poucas vezes vi uma cidade tão mal sinalizada, com placas mal distribuídas, instaladas embaixo de árvores e, quase sempre, em cima ou após o ponto que pretende indicar. Sem falar na quantidade de placas indicando “Assembleia”, como se todo mundo quisesse ir à Casa Legislativa, desconsiderando-se o fato de que, quem o deseja fazê-lo, já está cansado de saber onde ela fica.
O carioca que se preza, além de dizer que “te ligo depois” – sem jamais fazer tal ligação -, e convidar um amigo para ir à sua casa – sem qualquer desejo de que ele apareça -, sempre debita aos nordestinos a péssima qualidade da prestação de serviços, alegando que “eles não são cariocas, são paraibanos”. Acontece que, em todo o Hemisfério Sul, não existe nenhuma cidade mais nordestina do que São Paulo, demonstrando claramente que a questão é o treinamento e não a procedência do agente prestador de serviços.
Já Belo Horizonte, vive a síndrome das cidades que cresceram, mas não perderam o seu “jeitão” de cidade do interior. Parece que a sinalização e os serviços visam atender, exclusivamente, aos próprios habitantes da cidade e aos políticos, desconsiderando o grande fluxo de pessoas do interior do estado que procuram a capital para cuidar dos mais diferentes assuntos, de maneira especial os ligados à saúde e à educação.
Já pensou se o Rio de Janeiro, com toda a sua exuberância natural oferecesse a prestação de serviços de São Paulo e o acolhimento do mineiro? Seria uma cidade perfeita. É bem possível que a sua população dobrasse de tamanho, que o turismo triplicasse, que a Capital Federal retornasse para lá, que os mensaleiros comprassem coberturas na Avenida Vieira Souto, que… Não! Já basta a sede da Petrobrás estar localizada na cidade!
Deixe assim, como está. Parabéns Rio de Janeiro, a cidade que propicia a cada um que a visita a gostosa sensação de se sentir carioca, a ponto de não se acostumar, jamais, com tanta beleza e de aceitar, com estranha complacência, o péssimo atendimento de seus prestadores de serviço.
* Eugênio Maria Gomes é escritor e professor.