Naturalmente teologizamos. Toda vez que pensamos na vida além do feijão com arroz, quando incluímos o sonho, os ideais, é teologia que estamos fazendo.
Contudo, de onde vem o feijão, o arroz, os sonhos, os ideais? Por isso, Gênesis 1.1 “No princípio criou Deus os céus e a terra” é o texto mais importante da Bíblia. Pois, Deus está em tudo, e tudo criou!
Há temas mais amplos, mais cativantes, e há aqueles que exigem uma reflexão maior. E a morte?
Desde o início da humanidade sempre tem havido considerações a respeito do nosso fim nesta terra. Mas, mais do que pensamentos e opiniões, a Teologia nos conduz para pensar, também, e com zelo, nos próprios mortos.
Sim, nosso cuidado com a pessoa morta reflete muito sobre nossa forma de respeitar o próximo. Afinal, se essa pessoa só merecia nosso respeito enquanto viva, então nosso interesse por ela era extremamente egoísta. Não era zelo, não era amor…
Em seu livro As Obras do Amor, Algumas considerações cristãs em forma de discursos o teólogo dinamarquês Soren Kierkegaard do século XIX separa um capítulo muito especial: O trabalho do amor em lembrar-se dos mortos. Longe de ser uma obra fictícia, é uma reflexão séria sobre os mortos, com base no conhecimento do Criador da vida, na preciosidade que cada ser humano detém, independente de suas conquistas ou sucessos.
Mas no nosso mundo de hoje tal consciência do inestimável valor mesmo de um ente querido que partiu pode provocar uma profunda agitação dentro de nós.
Pois diariamente somos bombardeados por narrações frias, detalhadas de crimes, acidentes, enfim, mortes a granel. (E nem levando em conta a realidade virtual, na qual matar, morrer são os verbos principais.)
Assim, ao invés de nos tornar conscientes da suprema riqueza de uma vida só, somos levados à beira do horripilante perigo de menosprezar a vítima, e de certa forma contribuindo para a continuidade do maldito ciclo de violência que nos rodeia.
Sinceramente, você se sente mais disposto a viver, e mais cheio de energia e alegria após emprestar seus olhos ou ouvidos a notícias que são, sobretudo, descrições minuciosas de tragédias humanas?
– Às vezes penso que estou no meio de uma guerra não declarada, aguardando a iminente proclamação do estado de guerra. Talvez no próximo bloco…
Meu desejo hoje é de impactar sua imaginação com uma forma diferente de falar da morte. Para mim Steven Spielberg conseguiu fazer isso em seu filme A Lista de Schindler – um dos mais impactantes que já tenho visto.
Na semana passada pude assistir mais uma vez aquela cena no final, quando uma fila interminável de pessoas vai andando solenemente até o túmulo de Schindler, e cada um deixa uma pedra, flor ou uma lembrança como sinal de respeito e gratidão àquele que já partiu desta vida.
Oscar Schindler, correndo o risco da própria vida, pôde salvar milhares de vidas de serem exterminadas.
O script, desenvolvido em 1980 pelo australiano Keneally, teve uma origem singular. Por acaso este escritor entrou numa certa loja e quando o dono soube quem tinha chegado, disse-lhe que possuía “a maior história de verdadeira humanidade entre seres humanos.” Era a história sobre como ele e sua mulher, e milhares de outros judeus tinham sido salvos durante a Segunda Guerra Mundial através do artifício de uma fábrica nazista cujo dono era Oskar Schindler.
O filme se refere às duas primeiras listas criadas em 1944, conhecidas como “As Listas da Vida.” As cinco listas subsequentes eram atualizações destas duas primeiras, que incluíam o nome de mais de mil judeus salvos por terem sido empregados na fábrica.
E é muito interessante que Spielberg não aceitou salário algum para fazer este filme!
A cena final à qual nos referimos acima parece tediosa a primeira vista. Não há discurso, não há cartazes com dizeres, nem roupas elegantes. O homenageado está morto, no túmulo; vivo, porém, muito vivo na grata e resplandecente memória de cada um deles, e de seus familiares que muitas vezes os ouviram relatar a coragem e o amor pelo próximo deste alemão em meio ao nazismo fratricida.
O filme foi um sucesso e ganhou muitos prêmios na Academy Awards de número 66. Foram 7 Oscars, inclusive de Melhor Filme e de Melhor Diretor para Spielberg.
Que dinâmica impressionante aquele ritual tão simples, mas de profunda intensidade!
Um homem consequente que usou suas melhores capacidades e que fez as melhores escolhas com sua liberdade!
Cada dia temos a oportunidade de imaginar situações e de tomar decisões em prol delas.
Viver não é simplesmente acordar, tomar o cafezinho e sair correndo para chegar na hora ao trabalho. Ou ao cabeleireiro, ou na loja para fazer compras. Ou comprar o jornal…
Viver também é deixar marcas, é ajudar a influenciar para o bem, é arriscar ser do bem quando tudo e todos tendem para o mal. Ou mesmo, quando o bem não nos traz nenhuma boa fama; talvez traga condenação, ou coisa pior.
Muito obrigado por ler e pensar nisso. Queremos o bem, e para todos. Sem discriminação, e não importa o passado.
A Teologia aprende do passado, e olha confiante para o amanhã. Vamos juntos!
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