Literalmente a nossa cidade já não é mais a mesma, vivemos um tempo estranho, nebuloso, angustiante e cheio de incertezas e medos. Os dilemas da contemporaneidade parecem se enraizar em nossa sociedade em uma velocidade alucinante. Como diria Charles Chaplin, no seu famoso filme “Tempos Modernos”, o ser humano está se desumanizando.
Talvez eu esteja pensando de maneira infantil e/ou inocente, algo que não acredito, mas eu nunca imaginava presenciar em vida o que está acontecendo em nossa cidade, no que aos poucos estamos nos transformando sem que percebamos.
Todos os dias nas redes sociais e/ou nos meios de comunicação nos deparamos com notícias, casos, manchetes, que beiram a mais absurda das condições humanas; ao ponto de compararmos nossos atos aos atos dos animais, sendo que os animais não fariam o que fazemos.
Na nossa terrinha já houve casos de filhos sendo jogados em latas de lixo; de serem mantidos em cativeiros, com fome, sede e sendo maltratados; assaltos em plena luz do dia com a rua movimentada por transeuntes; crianças sendo mortas, dilaceradas e enterradas no quintal de casa; casos de estupros coletivos de crianças e adolescentes; filhos matando pai; filho ateando fogo em mãe; orgias coletivas movidas a sexo, droga e abuso sexual de criança; uma enormidade de jovens, nas altas horas da noite, perambulando pelas ruas e esquinas dominados pelo tráfico e pelas drogas; e inúmeras outras situações que faria desta lista uma listagem interminável.
Pequenos assaltos acontecem todos os dias, na verdade várias vezes ao dia. Nossas casas a cada dia aparentam ser um forte, com direito a muros altos, grades, cercas e em muitos casos nota-se a presença de animais treinados para serem violentos e que ficam soltos nos quintais, sempre à espera de que algo aconteça.
O medo aos poucos está dominando nossa sociedade e nossas relações. Aquilo que acontecia somente nos grandes centros urbanos parece ter chegado em nossa cidade. E pelo visto veio para ficar. Consequentemente saímos de casa e já temos a sensação de que algo pode acontecer a qualquer momento. Triste sensação!
Diante deste cenário aos poucos vamos, como disse Clarisse Lispector, nos acostumando com a nossa própria ruína e tendo a falsa sensação de que tudo aparenta estar bem, pois não queremos mexer com as nossas visões e atitudes que beiram a mais profunda omissão, o silêncio covarde e a eterna versão do politicamente correto, que na verdade nunca quer sair da zona de conforto e manter-se na hipocrisia das relações sociais.
Nossas maiores brigas e conflitos, principalmente vistos nas redes sociais, perante nossas reais necessidades não passam, na esmagadora das vezes, de grandes futilidades. Briga-se pelo nada e nos calamos pelo que realmente interessa. E o resultado? Basta observar no que nossa Caratinga está se transformando.
Queria muito que minha percepção estivesse errada e quem sabe esteja, tomara, mas pelo que tenho visto todos os dias creio eu que não. E existe solução? Temos que acreditar e sonhar que sim. Não podemos acreditar que estamos fadados a viver assim, a construir uma sociedade com estes pequenos e fúteis valores. Mas precisamos nos mexer, expurgar das nossas mentes a sensação de que tudo é normal, que faz parte dos novos tempos. Temos que acreditar que somos seres humanos, que podemos construir valores sólidos, que podemos dominar nossos instintos, nossos desejos mesquinhos, que podemos viver e conviver como gente.
A tarefa não é fácil e nunca será, mas, ou acabamos com este quadro de desumanidades ou ele acabará paulatinamente com cada um de nós. Tenha certeza disto e não queiramos pagar para ver, pois fazendo uma simples analogia, sabemos que boa parte das “balas perdidas” sempre encontram um corpo para se esconder. Portanto, não dá mais para conviver com o famoso ditado popular “salve-se quem puder”. Na ciranda da vida ou todos sem salvam ou aos poucos todos se dilaceram. O tempo dirá qual foi a nossa escolha!
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).