Técnico Clayton faz um balanço de 2021 e fala de suas metas para esse ano. O multicampeão ainda comenta sobre o estágio atual do futsal e revela dois sonhos que pretende realizar
CARATINGA – O ano de 2021 não foi fácil para ninguém, mas mesmo diante de tantas incertezas, o treinador Clayton Lopes tem o que comemorar. Ele comandou equipes em diversos torneios, seja no futsal, fut-7 e no tradicional futebol de campo, sempre colhendo bons resultados. Mas para esse ano, o técnico decidiu se estabelecer em Caratinga, onde está pondo em prática alguns projetos. Ele também pretende realizar dois sonhos em 2022.
Dos anos 90 pra cá, treinador de futebol passou a ser chamado de ‘professor’. Se tem alguém onde essa alcunha cabe como uma luva, esse alguém é Clayton Lopes. Profundo conhecedor do futebol e suas ramificações, Clayton é didático no trato com os atletas, sejam os da base ou da categoria adulto. Ele tem muito a ensinar. Sorte de que tem a aprender com ele, pois seu currículo, recheado de títulos, é o melhor de seus diplomas.
BALANÇO DE 2021
Clayton Lopes começa a entrevista fazendo um balanço de 2021. “Primeiramente agradeço ao Diário de Caratinga por poder falar de minha carreira. Mas no geral 2021 foi difícil pra todo mundo, isso afetou também o esporte, mas a gente contabilizou ações bacanas. Hoje sou coordenador de esportes da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) de Caratinga. Tive oportunidade de estar à frente do fut-7 de Ipatinga, que disputou o campeonato brasileiro. Também dirigi a equipe de futsal adulta profissional de Teófilo Otoni. Isso fez que o 2021, mesmo com todas as dificuldades, tenha me dado oportunidade de participar de muita coisa boa, muita coisa importante”.
Ele elenca algumas dessas ações. “Tento enumerar. Na AABB, na categoria de base, a gente foi campeão da AABB Cup sub-13. Houve ainda a conquista da Copa Alterosa de Fut-7, sub-12. A gente conseguiu promover também um microrregional de futebol amador onde participaram Santa Cruz, Ipanemense, Tubarão de Santa Bárbara do Leste e Santa Rita. Então, quatro equipes muito tradicionais. Dirigi o Santa Cruz, quero agradecer o presidente Cascão pela oportunidade, e a gente sagrou-se campeão vencendo o Santa Bárbara na final. Foi um ano muito difícil, mas ao mesmo tempo muito prazeroso. Pelo fut-7 tive o prazer de dirigir o projeto CA Sports, aqui de Caratinga, junto ao acesso da Super Liga do Vale do Aço, a gente subiu da segunda para a primeira divisão. Com esse bom resultado fomos convocados para liderar o time de Ipatinga no campeonato brasileiro de fut-7, onde a gente teve uma boa participação, chegando às quartas de final. Pelo time de Teófilo Otoni, onde eu faço esse ‘bate e volta’ há muitos anos, tive a oportunidade de sagrar-se bicampeão da Taça Valadares de Futsal. Em 2019 já havia vencido dirigindo a equipe de Santo Antônio do Jacinto, em 2020 não teve a competição e em 2021 veio mais um título por Teófilo Otoni. Então creio que foi um período de muita dificuldade, mas também um período muito rico, principalmente com conquistas importantes tanto na categoria de base quanto no adulto, seja no futebol, futsal ou fut-7”.
BASE/ADULTO
Clayton Lopes trabalha no esporte com as categorias de base e também com os adultos. Ela conta um pouco sobre a diferença no tipo de tratamento com os atletas. “A diferença chega a ser gritante, principalmente no interior. Onde o acesso a informação não é assim tão vasto. Quando falo isso é no geral, tanto os jovens, quanto os pais destes meninos. Quando é adulto/amador já um pouco mais esclarecido. A gente tem um trabalho de muitos anos, hoje não trabalho mais com escolinhas, a gente faz um trabalho mais personalizado com os atletas, isso desde criança até o adulto. Quando há competições a gente agrega esse trabalho que é feito em Caratinga com outros meninos da região. Entendo que fazendo assim a gente realmente consegue colaborar na evolução dos meninos. Com o adulto é muito mais ‘jogo de cintura’, uso muito esse termo, saber conduzir esse universo amador, pois muitos trabalham a semana toda e vem jogar nos finais de semana. Não é o que vivi em Santo Antônio do Jacinto, não o que vivi em Teófilo Otoni, não é o que vivi em Ipatinga, onde mesmo a turma trabalhando os caras tinham mais tempo para o esporte”.
Ao longo de sua carreira, Clayton Lopes dirigiu nomes consagrados. O caso mais recente se deu com o time de Teófilo Otoni, que contou com Vander Carioca, que jogou em grandes equipes de futsal do país e do exterior, além da seleção brasileira. Clayton fala como é trabalhar com um atleta desse nível. “Na verdade existe um clichê onde as pessoas dizem que o tratamento sempre é igual pra todo mundo, mas isso não é uma verdade. No caso específico do Vander Carioca foi porque ele é um cara muito simples. Ele não fez questão que fosse diferente. Então lidar com isso foi muito tranquilo, foi um cara que ajudou fora da quadra, dentro da quadra, um cara que agregou muitas vezes com a palavra, com a orientação. A gente brinca que no universo amador em alguns momentos é mais fácil você lidar com os caras eu foram profissionais, renomados, tem uma grande história do que muitas vezes lidar com um cara que é bom, mas joga no final de semana e tem a sua história também. Mas esses caras que foram atletas profissionais, passaram por seleção, muitos deles conseguem chegar até a gente de uma forma muito mais tranquila. Realmente foi um grande prazer, foi uma honra, o Vander abrilhantou a competição (Taça Valadares), ele abrilhantou a camisa da Sociedade Esportiva Amigos em Teófilo Otoni, que é uma camisa muito pesada. Costumo brincar que é um fardo né, a gente tem uma equipe muito boa, com chance de ser campeã, considerada favorita, e a gente conseguiu concretizar esse favoritismo”.
CAMPO/SALÃO
Clayton jogou futebol de campo, tendo inclusive sido campeão da Liga Caratinguense de Desportos pelo Caratinga em 2005. “Ele foi um camisa 5 com jeito de camisa 10”, assim o definiu Rogério Silva, colunista esportivo do DIÁRIO. Clayton cita algumas de suas características que ele tenta passar para os seus comandados. “Também sou oriundo do futsal, desde muito jovem, ainda no CTC (Caratinga Tênis Clube), consegui pegar o finalzinho do seu Otávio Cirilo, depois Geraldão, ao qual tenho um carinho muito grande. Sempre cito essas pessoas que foram muito importantes na minha formação como atleta. Depois comecei a jogar futebol pelo Fluminense, no bairro que moro, depois Caratinga por uma vida inteira”.
Então, ele se aprofunda em uma de suas características. “Na verdade sempre fui um cara técnico, sempre fui um cara que tentou olhar o jogo de uma forma diferente, de uma forma mais prazerosa. Isso vim trazendo para os meus trabalhos ao longo minha carreira como treinador. Normalmente gosto das equipes um pouco mais técnicas, que sabem trabalhar melhor a bola, mas isso não quer dizer que em alguns momentos a gente não tenha que recuar para poder se defender. A minha característica enquanto atleta foi ser muito técnico, um cara que pensava um pouco melhor o jogo. Eu tento trazer isso para os meus trabalhos”.
CAPACITAÇÃO SEMPRE
O treinador Clayton Lopes sabe que essa é uma função que precisa sempre estar se atualizando, para isso ele faz cursos e troca ideias com outros técnicos. “Na verdade que de uns anos pra cá, qualquer informação chega até a gente, tá muito mais fácil, apesar de ser uma geração que a gente jogava com aquela bolinha pequenininha, aquele coquinho. Naquele tempo era muito mais difícil a informação. Hoje me sinto privilegiado por ter trabalhado com muita gente boa ao longo da vida, estagiei no Cruzeiro, tive oportunidade de vários bate-papos com treinadores. No Ipatinga pude conviver com técnicos como Enderson Moreira, que hoje está no Botafogo, Emerson Ávila, que treinou a seleção brasileira, tanto no sub-17 quanto no sub-20. Isso facilita muito, a gente tem a possibilidade de participar de um curso, de um congresso. Então, acaba mudando, e muito, a forma da gente enxergar o jogo, enxergar o treinamento. Mas como sempre falo a informação está aí pra todos”.
FUTSAL HOJE
O Brasil sempre foi hegemônico no futsal, com cinco títulos mundiais, a Espanha era o maior rival, tendo conquistado duas copas do mundo. Mas nos últimos campeonatos mundiais, em 2016, disputado na Colômbia, e 2021, jogado na Lituânia, o Brasil não foi bem. Argentina e Portugal foram, respectivamente, os campeões. Clayton faz uma análise do futsal jogado hoje no Brasil. “Infelizmente já não é mais o melhor, Brasil é o que ganhou mais, venceu mais, mas não é mais o melhor. É o que eu disse anteriormente, o acesso a informação tá muito mais fácil. Mas o que os outros países fizeram de forma geral. Por exemplo, a Itália, a seleção italiana eram oito brasileiros e três italianos. Nos campeonatos da Itália, Bélgica, Espanha, eles têm inúmeros atletas de outras nacionalidades, na verdade o esporte ficou global, com isso, não é que o Brasil estagnou, são os outros países que cresceram muito em relação a atletas, treinadores, é o acesso a informação. Eu vejo hoje que o Brasil não está tão atrás, mas também não tão à frente quanto antes. O Brasil precisa correr um pouco mais pra gente poder ter nossa hegemonia de volta. Não tá simples”.
FUTSAL HOJE EM CARATINGA
Ele também fala sobre a realidade do futsal em Caratinga, Clayton observa que não é como antes. “A gente tinha entre oito, nove equipes, que eram muito competitivas. O leque de opções de atletas também diminuiu muito, estou falando de salonistas mesmos, não onde é o cara bom de bola que joga futsal ou o cara do campo que joga futsal, me refiro ao salonista mesmo, com toda característica oriunda para essa modalidade. Porém é louvável sim o trabalho que a turma faz, tanto na base, quanto no adulto, mas acho que faltam grandes competições, mais competições na cidade pra fomentar e assim voltar esse gosto pelo futsal. Essa é minha opinião”.
PLANOS PARA 2022
Depois de ter passado o ano de 2020 e parte de 2021 com tantas incertezas, Clayton espera que este ano seja melhor, para isso tomou a decisão de ficar em Caratinga. “Sempre estive em Teófilo Otoni, Bahia, Ipatinga. Sempre nesse ‘bate e volta’, então em 2022 estou fixo em Caratinga. A gente tá com dois projetos, um deles é o Soccer CETTATIC, que funciona na AABB, que é essa atenção aos atletas de forma individual para realmente poder melhorar sua condição, seja criança, amador, adulto ou profissional. E tenho um sonho que estou tentando realizar que é ser campeão mineiro de base novamente por Caratinga. Já tive oportunidade de ser em 2002, na época pelo CTC. O Geraldão era o presidente e eu o treinador, e tivemos essa oportunidade. Desde então fiz trabalho em outras cidades. Já iniciamos o Projeto Mineiro Sub-11. Nas próximas semanas a gente junta esse grupo todo com gente de toda a região, principalmente em Caratinga. Esse é o foco para esse ano. E também tem o sonho de ser campeão da Taça Valadares representando Caratinga, que é a cidade onde nasci, cresci, tenho um apreço muito grande por Caratinga. O que fiz fora para 2022 o meu sonho é fazer por Caratinga”, finaliza Clayton Lopes, sabendo que sonhos são para ser realizados. E o multicampeão sempre realiza os seus.
BOX
Campeão dentro e fora do campo
Clayton Lopes, 44 anos, é natural de Caratinga. Como atleta foi campeão da Copa Distrital, campeão do Regional da Liga Caratinguense de Desportos. Fez parte da equipe do Esporte Clube Caratinga no seu último ano de profissionais em 1996 (Módulo B).
Como técnico, contabiliza mais de 30 títulos entre municipais e regionais de base e adulto, incluindo futsal e futebol. Dentre as conquistas mais relevantes estão no futsal: Campeão Geral JIMI (Jogos do Interior de Minas Gerais), tetracampeão Mineiro do Interior, bicampeão da Taça Valadares. Ele ainda foi eleito três vezes o melhor técnico do interior de Minas Gerais, além de duas vezes consecutivas melhor técnico da Taça Valadares.
Ele tem sete competições nacionais entre futsal, futebol e fut-7. É considerado por muitos um dos melhores volantes da história do futebol amador de Caratinga.