Ele nunca sabe onde cessa a sua influência.”
Henry Adams
* Lígia Maria dos Reis Matos
Desde a última vez que li essa afirmação de Henry Adams, em alguma página do livro “A última grande lição – o sentido da vida”, de Mitch Albom, numa tradução de J. J. Veiga, obra que, por sinal, volta e meia retomo, para uma nova leitura, tenho sido “incomodada” por tal pensamento, e me perguntado sobre a natureza da influência que, na experiência do meu magistério, ao longo de, aproximadamente, 38 anos, eu terei exercido na vida dos meus alunos.
Tenho pensado, não só na professora que fui, mas também, nos professores e professoras que tive… na influência de cada um deles na minha formação, na minha conduta, nas minhas escolhas… e sou levada a concordar com Henry Adams. De fato, o professor se liga à eternidade, e nunca sabe mesmo, onde cessa a sua influência! E não o sabe, porque isso não tem “parador”. As influências existem! Positivas ou não, elas estão aí, determinando comportamentos, pensamentos, atitudes… marcando e aprisionando vidas, ou impulsionando e provocando buscas, conquistas, realizações.
Penso naquela minha professora (e eu tinha 6 anos!) que me humilhou diante da classe, pondo-me nariz na parede, no dia que eu não soube responder, de pronto, à pergunta: (8×7 ?!). E eu continuo não gostando da Matemática e não sabendo lidar com os meu “erros”, porque eles insistem em me humilhar, me envergonhar. Por outro lado, vou me construindo no que sei, no que, desde os 5 anos já me fazia feliz, que é LER e ESCREVER. Sou grata a essa professora! Ela me ensinou como NÃO SER, o que NÃO FAZER!
Outra ainda, me ensinou a não julgar, nem acusar, sem fundamentação concreta, quando me acusou de ter escrito o nome dela, em sua mesa, afirmando que a caligrafia era a minha (e não era!). Isso não bastasse, ela usou a seguinte expressão: “Meu nome não é osso…” (Eu tinha 10 anos e acabara de me mudar, com minha família, de Vargem Alegre para Caratinga). Foi sofrido, mas influenciou-me para o bem. Sofrendo o que sofri, aprendi a mais ouvir, a escutar, a melhor avaliar e a colocar-me no lugar do outro, buscar suas razões, olhar para ele por sua ótica. Essa professora influenciou-me na busca da justiça e do respeito à dignidade do outro, e à sua verdade.
Mas, nem toda influência me veio de atitudes negativas de professores meus. Tantos outros tive, tantos outros influenciaram-me por sua ética, seu profissionalismo, sua competência e suas habilidades no trato com as pessoas, como pelo encantamento que souberam provocar em mim pela profissão que acabei por abraçar, para bem fazer aquilo que sempre me deu prazer.
Sim. Por influência de professores meus, é que fui ser professora! Por conta do jeito de ser professora da Lecy Franco, no meu segundo ano primário, lá em Vargem Alegre, na E.E. “Sebastião Machado dos Reis”, eu quis ser professora também. Foi produzindo os incontáveis textos que a Notinha, lá no colégio “Nossa Senhora das Graças”, nos levava a produzir, a partir dos mais variados temas, é que fui me descobrindo “escritora”, e acreditando que sabia, que podia “escrever” meus pensamentos, meus sentimentos, entendimentos e desentendimentos. Foi por conta do jeito tão diferente, tão dinâmico e envolvente, com que a Rita Barbosa desenvolvia suas aulas de psicologia, na FAFIC, que me despertei para o entendimento do complexo comportamento humano (o meu e o do outro). O Frei
Carlos, com suas aulas de Filosofia, influenciou-me a pensar mais e melhor e a sair da superfície e “mergulhar”, “ruminar”, questionar. A Bebel e o Lacerda, dois grandes mestres que me “fizeram“ professora de Português e de Literatura, pois até mesmo no planejamento das minhas primeiras aulas, quando surgiam dúvidas, (e não eram poucas!), bastava um telefonema aos meus ilustres “consultores” e eles prontamente me “acudiam” e tudo se resolvia!
Influências assim, são para a vida, para a eternidade!
Infelizmente, são também para a eternidade aquelas tantas outras influências que frustram, desencantam, aprisionam. E também essas estão aí, determinando comportamentos, pensamentos, atitudes… aprisionando vidas!
*Lígia Maria dos Reis Matos, membra da Academia de Caratinguense de Letras de Caratinga, e membra correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.