O uso de linha chilena e cerol para empinar pipas pode ferir e até matar
CARATINGA – O hábito de soltar papagaios ou pipas usando linhas cortantes é cada vez mais comum nesta época do ano, por ser o mês de férias escolares, como também estão sendo comuns os acidentes, alguns até fatais, com o registrado em Florianópolis (SC) na última semana. Em Belo Horizonte, um adolescente teve a perna amputada depois que ela foi cortada por linha chilena. E como o perigo está em todo o lugar nessa época, em Santa Bárbara do Leste um motociclista quase morreu depois de sofrer um corte em seu pescoço. Para se ter uma dimensão do ferimento, ele precisou levar 22 pontos no local.
O que muitos não sabem é que usar linha cortante para empinar pipas é algo proibido em Minas Gerais desde 2002 e existem multas para esse tipo de atitude, conforme advertiu um militar ouvido pela reportagem. O DIÁRIO também falou com o motociclista que quase morreu ao ter o seu pescoço cortado.
AS VÍTIMAS
Com o poder de corte quatro vezes maior que o cerol, industrialmente feita com pó de quartzo e óxido de alumínio, o uso da linha chilena para empinar pipas no período de férias escolares e no início de agosto, quando ventos sopram com mais força, têm preocupado as autoridades. O cerol, fabricado com uma mistura que pode ser feita com cola e pó de vidro, ou cola e pó de ferro, mais comum nas cidades do interior do estado, não fica para trás quanto a sua periculosidade.
Só nos seis primeiros meses deste ano, unidades de pronto atendimento ligada à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais atenderam 19 pessoas vítimas das linhas. Um dos casos mais graves aconteceu no sábado dia 20, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Gabriel Lucas, chamado pelos amigos de “Feijão”, foi atingido na altura do joelho por uma linha chilena presa a um caminhão, enquanto andava pela calçada perto de casa. O corte foi profundo, atingindo nervos, artérias e veias. Na quarta-feira (24), o adolescente precisou passar por uma cirurgia de amputação acima do joelho, deixando para trás seu sonho de ser um jogador profissional de futebol.
E nem precisa ir tão longe para conhecer uma vítima dessas perigosas linhas cortantes. No dia 13 de julho, o motociclista Elíseo Enéas Raposo passou por momentos de muita dor e desespero. Ele saía do trabalho e seguia para sua casa em Santa Bárbara do Leste, quando ao passar pelo km 552 da BR-116, foi atingido por uma linha que cortou profundamente seu pescoço e precisou levar 22 pontos.
O DIÁRIO DE CARATINGA entrou em contato com Elíseo esta semana. Ele ainda está se recuperando da ferida e do susto. “Estava chegando a Santa Bárbara, quando a linha entrou cortando. Coloquei a mão para tentar tirar, mas já tinha feito o estrago. Consegui andar ainda uns 150 metros, parei a moto o sangue descia, eu vi a morte de frente, mas graças a Deus os bombeiros vieram e me levaram para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento)”, contou o motociclista.
Ainda de acordo com Elíseo, os médicos disseram que faltou muito pouco para que a artéria fosse atingida. Para que ninguém passe por coisa semelhante ou pior, o motociclista pede que alguma providência. “É uma coisa que as nossas autoridades deveria combater, proibir porque mais um pouquinho a minha vida teria sido ceifada por causa de alguém sem responsabilidade, porque não é só crianças que usam essas linhas, adultos também, mas ainda há tempo de tomar algumas atitudes e acabarem com isso. O certo é parar de fabricar estes tipos de linhas porque que me acidentou tinha cerol, mas tem outras linhas até mais perigosas”, afirmou Elíseo.
FISCALIZAÇÃO E MULTAS
A reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA também conversou com o cabo Duarte, da Polícia Militar Rodoviária, para saber o que a lei determina sobre o uso dessas linhas.
Houve a promulgação da lei em Minas Gerais em 2002, que proíbe o uso de linhas cortantes, em 2003 um decreto a validou e em 2011 veio a aplicação da multa. “A linha já era proibida, porém de 2011 para cá passamos fazer a multa por parte da Secretaria da Fazenda”, especificou o militar.
Das linhas cortantes, a criança que estiver portando, o responsável por ela estará sujeito a uma multa de R$ 327,00; se estiver soltando a pipa existem dois valores diferentes: se o local for comum, público e aberto, o valor é de R$ 491,00, as agravantes são escolas, hospitais, prédios públicos e local com rede de energia, a multa passa para R$ 655,00. “Então temos multas de R$ 327,00 a R$ 655,00, que vai depender da pessoa estar com a lata com linha de cerol até o local que estiver empinando a pipa”, explicou o cabo Duarte.
Segundo o cabo Duarte, a fiscalização é feita pela Polícia Militar, Bombeiro Militar e alguns órgãos de segurança pública, como guarda municipal e fiscais nomeados pelo município.
Se a criança for abordada soltando pipa e for constatado o uso do cerol, o material é apreendido e incinerado no local. O responsável é procurado e a multa é aplicada. “Caso tenha cometimento de algum crime, se alguém for lesionado, o responsável responderá por ele”.
PROTEÇÃO PARA OS MOTOCICLISTAS
No caso do uso de antenas com aparadores de linhas nas motocicletas, o cabo Duarte explicou que ela é obrigatória para quem exerce mototáxi e motofrete. Para os demais motociclistas é um acessório que pode salvar vidas.
No período de julho a setembro tem a maior incidência de ventos, então tem mais a brincadeira de empinar pipas, sendo o período de maior risco. “A orientação para crianças e adolescentes é não utilizar linha com cerol. A brincadeira vira outra, quem está empinando pipa por gosto quer vê-la voar, mas quem usa cerol que cortar o outro, podar o outro que está lá. Os pais devem vigiar, pois serão multados em caso de uso de linha cortante por parte dos filhos. Para o motociclista é bom sempre tomar cuidado, se não tiver condições de colocar a antena, é preciso redobrar a atenção”, finalizou o militar.