- Eugênio Maria Gomes
O desconforto sentido pelos brasileiros que não são eleitores de Lula e de Bolsonaro chega a ser desconcertante. Para os radicais da Direita e da Esquerda, é como se o cidadão fosse obrigado a se enquadrar em uma das duas ideologias. Ou seja, se você não for de um, certamente é de outra. Não pode ser assim, até porque também existe vida inteligente atrás dos muros, das cercas e das taipas que cerceiam alguns olhares.
Porém, tem chamado muito a atenção os ataques que o representante máximo da Igreja, o Papa, vem sofrendo. Não por representantes ou seguidores de outras Igrejas, mas, por uma ala da própria Igreja Católica Apostólica Romana. Não, não estou falando da já conhecida política existente nos bastidores da Cúria romana, mas de fiéis aparentemente comuns, pessoas que têm na devoção o seu ponto forte e que têm dedicado boa parte de seu tempo para agredir a sua própria Igreja e o seu representante maior.
Mas, por que o Papa tem sido tão atacado por esses católicos radicais? Será porque disse que a Igreja precisa sair de suas salas douradas e ir até o povo? Talvez porque não quis usufruir das benesses dadas ao sumo pontífice, preferindo uma vida mais simples? Ou porque escolheu se chamar Francisco, numa demonstração clara de que prefere o desapego e os humildes? Bom, talvez tal rejeição se deva à Bula Papal “Amoris Laetitia”, traduzido como “A Alegria do Amor”. No documento, o Papa apresenta o seu pensamento de uma Igreja mais inclusiva e compassiva e menos condenadora e restritiva. Francisco fala do amor, base do seu pontificado, e fala em acolhimento do integrante “imperfeito”, reforçando o entendimento de que nós, essencialmente, somos todos imperfeitos, independentemente do tanto que ralamos nossos joelhos no chão.
Coincidentemente, não podemos fechar os olhos para o fato de que, atualmente, os temas “Religião” e “Política”, no Brasil, andam mais que atrelados. Ademais, os conceitos de Direita e Esquerda nunca foram tão mal utilizados como nos últimos tempos, por estas bandas. Não podemos perder de vista que “Esquerda e Direita descrevem, cada uma, posições autoritárias e que a liberdade não possui relação horizontal com o autoritarismo. A relação do libertarianismo com o autoritarismo é vertical; está muito acima dessa podridão de homens escravizando indivíduos”.
Quem foi que disse que a Esquerda é voltada para os fracos e oprimidos e a Direita defende os ricos e poderosos? Ora, ora, basta ler um pouco do posicionamento dessas ideologias no mundo desenvolvido para perceber que elas se alternam no poder e que, nem por isso, as pessoas são mais ou menos respeitadas; o meio ambiente é mais ou menos cuidado e o preconceito é maior ou menor, dependendo de quem está mandando.
Para o professor Massimo Faggioli – titular da cadeira de Teologia da Universidade Villanova, nos EUA -, a Igreja Católica enfrenta certa polarização ideológica: “Há um apoio acachapante a Francisco pela Igreja global de um lado, e uma minúscula periferia de extremistas tentando mostrar Francisco como um Papa herege. O problema é que há poucas críticas legítimas e construtivas do pontificado de Francisco e sua teologia”.
O certo é que, no Brasil, a ala radical e conservadora tem atacado o Papa – muito por conta de suas convicções políticas. Recentemente escutei de um membro do Movimento Carismático que o Papa Francisco seria o “Anticristo”. É claro que não podemos generalizar esse entendimento como sendo “Carismático”, mas é certo que está ligado à ala conservadora, tanto na política, quanto na religião. Temos, ainda, aqueles católicos de alguns domingos, pouco frequentes, radicais de direita, atacando o papa, não por conta de suas posições a favor do pobre, do ecológico, dos fracos, dos imperfeitos, mas, por ele não concordar com o estilo bolsonariano de ser.
Aliás, além do papa, muitos brasileiros têm pagado o pato. Brasileiros, que como eu, não apoiam o estilo de Lula e nem o de Bolsonaro. Aliás, os dois, têm algo em comum: seus familiares sabem muito bem lidar com dinheiro público em benefício próprio. O que tem diferenciado um do outro, além da possibilidade de ir e vir, é o tamanho da língua. Parece que o marketing de Lula tem dado mais certo, basta ver a repercussão negativa da imagem do país e de seu atual mandatário no cenário internacional, já que, internamente, não acreditamos nos institutos de pesquisas que nós mesmos dirigimos.
O fato é que, inquestionavelmente, uma boa parcela dos católicos precisa rever sua Fé e sua relação com a Igreja urgentemente. Rever sua Fé significa perceber que a mais genuína mensagem do Cristo é uma mensagem de Amor, de Agregação, de Perdão, de Acolhimento. E, portanto, qualquer postura segregacionista, preconceituosa, vingativa ou raivosa não encontra qualquer amparo na verdadeira mensagem do Senhor.
Rever sua relação com a Igreja significa reconhecer a autoridade suprema do Santo Padre, a ele conferida pelo Conclave dos Cardeais, através da intercessão do Espírito Santo (quem diz que é católico e não acredita nisso, está no lugar errado!). Além disso, rever a relação com a Igreja significa reconhecer nossa pequenez intelectual nos assuntos teológicos e submetermo-nos à superioridade cognitiva daquele que usa o Anel do Pescador, rejeitando qualquer interpretação reducionista e simplista dos textos sagrados, usualmente feitas por pretensos “religiosos” que buscam em algumas palavras descontextualizadas de determinadas passagens dos evangelhos canônicos, fundamentos pseudo-teológicos para destilar seu desamor, seu rancor e sua pequenez de caráter.
“Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão – Mateus 7:5”
*Escritor, funcionário da Funec e presidente da Academia Caratinguense de Letras.