Antônio Vagner Bastos de Almeida*
De repente o tempo resolve conspirar, correr feito o Usain Bolt, acelerar os ponteiros do relógio, arrancar os meses do calendário com a força de um tsunami. Interessante é que na primavera dos primeiros anos ninguém se dá conta de tamanho descompasso temporal. Nesse período o que mais se quer é acelerar, pisar fundo, as consequências que se danem. O termo finitude é apenas um substantivo feminino, um dos tantos a compor o universo das incontáveis palavras existentes naqueles grossos e sisudos dicionários.
Embora poucos percebam, as estações vão passando. Invernos e verões se sucedem, trazem novas roupagens, novos dias. A vida vive com pressa, afobada mergulha nos ralos da existência, vai desaparecendo aos poucos, não volta para respirar. Nesse alucinante ritmo nos tornamos um pouco baratas, entorpecidos pela ação do veneno que o cotidiano lança. Querendo tudo, cada vez temos menos e o menos vira explosivo combustível para buscar mais e mais.
Quando se vê, a madrugada dos anos aparece e sem o menor constrangimento, assim, do nada, resolve ligar aquela lâmpada do final do túnel, com potência de mil watts, diretamente na nossa cara. O brilho cega e quando as retinas voltam à normalidade, percebemos que a estação em que se deve descer não está lá muito distante. Reclamar pouco resolve. O Sr. Tempo não tem o menor tempo ou paciência para ouvir qualquer tipo de consideração a respeito da concessão de acréscimos. Nessas alturas do campeonato nem chamar o árbitro de vídeo resolve. O lance já está decidido, contra a gente, claro.
Se querem saber, entrar em crise não resolve. Ficar resmungando e olhando para o chão na esperança de que apareça alguma mensagem cifrada no tórrido solo da existência é uma possibilidade das mais remotas. Sinceramente, depois de algum tempo, nem mesmo investir naqueles caras que tentam repaginar pensamentos e mudar comportamentos vai ajudar muito.
Melhor mesmo, quando o sol está para se pôr é curtir o seu brilho e inspirado naquele vermelho-alaranjado, lembrar-se de todas as paixões, das intermináveis horas de insônia, das taquicardias e do período em que a vontade de torturar o relógio, com requintes de crueldade, era quase uma obsessão.
Depois de algum tempo a gente percebe o quanto um cálice de vinho, os amigos-irmãos que gentilmente ganhamos e as velhas e repetidas conversas são, no frigir dos ovos, o mais puro e verdadeiro elixir da juventude.
ANTÔNIO VAGNER BASTOS DE ALMEIDA, nascido em 13 de abril de 1963, na cidade de Bagé, RS é advogado, Escrivão da Polícia Civil, é, também, cineasta, tendo produzido o curta-metragem O Bife, melhor firme da mostra regional de Bagé, em 2012.