Vargem Alegre presta homenagem a seu primeiro médico em exercício
VARGEM ALEGRE – Durante todo o dia de ontem, os vargem-alegrenses prestaram homenagem ao primeiro médico formado, que passou a atuar na cidade: Reginaldo Machado de Matos. Conhecido pelo intenso volume de trabalho e plantão no Vale do Aço, saindo a partir das cinco horas da manhã de Vargem Alegre rumo à vizinha cidade, Reginaldo trabalhou até 2010 no Hospital e Maternidade Vital Brazil, em Timóteo.
A festa aconteceu na Fazenda dos Coqueiros e a programação teve início com um momento de ação de graças, com o pastor Diego Martins da Silva e apresentação musical do Grupo Ide. Após uma pausa para o café da manhã, foi feita uma mensagem de agradecimento, pelo médico Alyson da Silveira Campos.
Depois da apresentação musical de Millena de Azevedo Melo, o histórico de vida de Reginaldo foi apresentado por Geraldo Neves dos Reis. Assim, tiveram início dois momentos de homenagem, da Loja Maçônica Caratinga Livre, de Caratinga, Loja Maçônica Acácia de Acesita, de Timóteo, e Faculdade de Medicina do Centro Universitário de Caratinga.
Mais uma apresentação musical com Analígia e Dedel marcou o momento da foto oficial. Em seguida foi servido o almoço e após apresentação de vídeo, a tarde ficou livre para apresentações musicais, encerrando o evento.
HOMENAGEM
A relação entre o médico e os moradores de Vargem Alegre é, sobretudo, de gratidão. Já era possível perceber ainda na entrada do evento, com as diversas faixas de agradecimento e homenagens. Histórias marcadas pelo bom atendimento e humildade. Catarina Martins Corrêa de Lana, que faz parte da comissão organizadora do evento, explica como surgiu a ideia de homenageá-lo. “A partir de um bate-papo, inclusive em um momento não muito agradável, que foi em um velório, onde ele demonstrou o desejo de reunir todos os ‘filhos’ vargem-alegrenses que nasceram pelas mãos dele, para uma foto aqui nessa fazenda. Então, me sensibilizei e multipliquei essa vontade de tornar realidade esse momento que estamos vivendo aqui hoje (ontem), de muita alegria e emoção”.
Catarina afirma que pelo menos 400 pessoas de Vargem Alegre podem ter nascido pelas mãos de doutor Reginaldo e que não pouparam esforços para que a festa acontecesse. “Ele é o pioneiro dos médicos de Vargem Alegre, aquele que fez realmente do seu profissionalismo, um sacerdócio. As dependências do hospital eram estendidas até a casa dele, porque os pacientes quando recebiam alta ou aguardavam uma vaga, iam para a casa dele. É um ser humano ímpar. Montamos um grupo com mães, contamos com apoio da comunidade, dos lojistas para vender as camisas; de alguns comerciantes. Essa festa não tem vínculo político, é uma festa do povo. A gente correu atrás de patrocínio para que pudesse trazer pessoas carentes, inclusive hoje temos aqui um número muito bom de pacientes do doutor Reginaldo, que são carentes. O nosso alvo era esse público e graças a Deus, uns 80% temos aqui presentes”.
O parto de uma das filhas de Tatiane Silva foi feito por Reginaldo. Ela afirma que o médico é conhecido pelo jeito simples de trabalhar. “Ele é muito atencioso, amigo. Quando a gente procura, a qualquer hora está disposto a ajudar. É uma pessoa muito boa para a cidade, muito conhecido por todos nós. Fico lisonjeada por participar da festa dele, ajudou muito não só a mim, mas ao meu pai também. É uma homenagem mais que merecida”.
E além de ser marcado pelo agradecimento dos pacientes, Reginaldo também é considerado um exemplo para outros médicos. É o caso de Alysson da Silveira Campos, que também nasceu pelas mãos do homenageado. “Reginaldo tem um significado enorme pra gente, foi um grande influenciador em todos os aspectos, comportamento dele como ser humano, é um homem completo, uma pessoa que se desenvolveu do ponto de vista social, moral e espiritual. E tudo isso conseguiu mostrar no seu comportamento muito humanitário, na lida com os pacientes. Um médico que conseguiu praticar uma medicina humanística, sem preconceito ou discriminação, cumprindo a sua responsabilidade como cidadão, filho e irmão, ajudando os seus irmãos mais novos a estudarem, posteriormente. Faz com que os pais perseverem na educação dos filhos, por mais árdua e cara essa caminhada. Ele marcou essa cultura dos dois lados. Ajudou a criar pais e estudantes perseverantes; e uma cultura de irmãos comprometidos com o estudo dos mais novos”.
Alysson afirma que se espelha no primeiro médico de Vargem Alegre e orgulha-se disso. “Completamente. Acho que a maior marca do Reginaldo é ser um humanista. Criou uma cultura entre os médicos de Vargem Alegre de médicos humanistas, acessíveis aos pobres, que tem uma cultura impregnada de ajudar as pessoas, sem uma busca excessiva do lucro, resultado financeiro e como foi o primeiro médico que trilhou esse caminho, acabou responsabilizando os mais novos, por tentar uma linha parecida com a dele. Temos nele um grande exemplo, modelo a ser copiado mesmo”.
O HOMENAGEADO
Reginaldo Machado de Matos está com 73 anos de idade. Por vezes, se emocionou com a homenagem e mostrou-se agradecido com o reconhecimento da comunidade. Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, ele resumiu o sentimento. “Está muito além da minha expectativa, não imaginava tanto. Quando vejo essa meninada bonita, cada um tem uma história. Já estava percebendo algum movimento, mas não esperava essa proporção, entusiasmo tão grande. É gratidão mais minha, porque esse povo todo é gente da gente. Apesar de ser o homenageado, prefiro entender que quem tem que ser grato, na verdade sou eu”.
O médico relembra que aos poucos foi ficando conhecido e ganhando espaço na cidade. O fácil contato com pacientes na época ajudava a sua localização. “Inicialmente, a gente participava de uma atividade em que o número de partos era muito mais frequente e alguns anos atrás não tinha essa opção por um ou dois filhos. A gente fazia muito parto e pelo fato de talvez eu fazer um atendimento àquela região que fazia assistência à saúde nos hortos da Acesita, acampamentos, alojamentos; aquele pessoal todo me conhecia e quando não me conhecia daqui de Vargem Alegre, passava a me conhecer de lá. Quando chegava no hospital, eu era pelo menos a segunda opção. Como eu morava perto do hospital, ficava naquele vai e vem ali. Nesse período fiz muito mais parto do que faria hoje, em que o pessoal opta por ter um número menor de filhos, a oportunidade que a gente tinha para trabalhar era muito maior”.
Uma grande questão que gera curiosidade quando o assunto é “doutor Reginaldo” é o número de partos que ele já fez. Uma incógnita, mas o médico arrisca um palpite. “Interessante que a partir de certa altura a gente passa a preocupar com essas coisas, porque quando você começa a trabalhar, entra entusiasmado e com o passar do tempo começam a surgir as perguntas: ‘Quantos partos você já fez? ’. Estatisticamente, não tem como fazer essa avaliação, mas começa a multiplicar os dias dos meses, os meses dos anos e começa a fazer uma média mensal de quantos partos você teria feito, por exemplo, por mês. Um dia desses conversando com uma pessoa da minha intimidade, ficamos mais ou menos entre 15 mil e 20 mil”.
Mais que pacientes, Reginaldo foi fazendo amizades e estreitando laços, em Vargem Alegre, a conhecida ‘Cidade dos Médicos’. “Com certeza. Cada vez mais, isso é uma coisa que a gente não tem como quantificar. O fato de eu ser criado aqui, nunca me afastei daqui; em minhas férias estava aqui, jogando a minha bola, fazendo as minhas farras, brincadeiras. E aqui para mim todo mundo é parente, onde eu quiser almoçar, entro na porta da sala, saio na da cozinha e não tem problema. É o fato de eu ter nascido e sido criado aqui”.