* MONIR ALI SAYGLI
Lá pelos idos de 1945, logo após o “reinado de momo” (a despedida da carne, alegrias e satisfações de muitos, em oposição às tristezas, as decepções e os arrependimentos de outros), entramos no período chamado quaresmal, época em que se deve intensificar as orações e meditar sobre a vida.
Esse era um ano eleitoral e o principal candidato, indicado pelos partidos PSD e PTB – dominantes na época -, era o Marechal Eurico Gaspar Dutra, que tinha como oponentes e forte Brigadeiro Eduardo Gomes – da UDN -, e o insistente Iedo Fiúza – do PCB. Não seria nem preciso dizer que Dutra venceu facilmente as eleições, com 3.351.507 votos dos disciplinados dos partidos mandantes, isto 02 de dezembro de 1945.
Contou-me um viajante que nessa mesma época, uma família libanesa administrava o Hotel Avenida, uma casa bem estruturada e que oferecia certo conforto, e que foi palco da cena mais cômica acontecida na cidade.
Tudo começou quando o libanês recebeu um telegrama, procedente de Governador Valadares, nos seguintes termos: “Reserve aposentos de primeira para Dutra e sua Comitiva”.
Moral da história: o Presidente Dutra, então candidato, estava em campanha na vizinha cidade de Governador Valadares.
Resultado, o “turco” deu o alarme e, em pouco mais de duas horas, a cidade estava limpinha que fazia gosto, à espera da autoridade máxima: ruas varridas e molhadas pelo caminhão tanque que possuía; árvores aparadas e os troncos pintados; soldados com os fuzis ao ombro e as botas engraxadas; bandeira nacional hasteada; banda de música executando lindos dobrados; grupos escolares com seus garotos de prontidão para acenarem as bandeirinhas; sirena da prefeitura tocando, fazendo dueto com o sino da Catedral repicando e, até a cadeia pública sofria reparos.
A essa altura dos acontecimentos o “turco”, todo feliz, havia colocado 3 hóspedes em cada quarto, com a finalidade de reservar todo o andar superior para Dutra e sua Comitiva.
Tapetes dos mais caros foram solicitados por empréstimos e, para completar, até o galo de briga do Chico Dond teve de “pagar o pato”, para confortar a mesa do Presidente (naquela época já se comia galo com macarrão).
Mas, eis que, para surpresa de todos, chega o tão propalado Dutra e sua comitiva. Não era nada mais, nada menos que um simples representante comercial, de nome Dutra, acompanhado de dois amigos.
Foi um alvoroço tremendo. O “turco” pensou em vingança e suicídio, enquanto o viajante, inocente, bolava um plano para sair da enrascada em que se metera, involuntariamente.
Felizmente, as autoridades compreenderam a sua não culpa e guarneceram-no para que saísse da cidade, sem maiores consequências.
Quem perdeu foi o “turco” que, obrigado pelas circunstâncias, “melhorou” seu hotel, proporcionando mais conforto e melhor refeição aos seus hóspedes.
Quem ganhou foi a cidade que, em 120 minutos, ganhou nova aparência, como se fosse uma noiva à espera do seu príncipe encantado.
Tive pena do galo do Chico Dond que, sem nenhuma culpa, pagou os “pecados” (galo comete pecado?)
Se esta história, da qual não me lembro haver acontecido, for verdade, Caratinga, atualmente, está precisando da chegada de um “Dutra” para que seja reformulada, em todos os sentidos, o caminhão de lixo trabalhe com mais zelo e os demais fatos narrados aconteçam.
Se acontecer, voltaremos a habitar a “CIDADE ESPERANÇA”.
MONIR ALI SAYGLI
Professor do Centro Universitário de Caratinga e Assessor Jurídico da FUNEC