Se existe algo que nos causa muita revolta é a realidade da violência existente em nosso mundo. Todos os dias, a todo instante, somos bombardeados com as inúmeras notícias de assassinatos, estupros, inúmeros tipos de abusos e, também, vários tipos de crimes que afetam muitas pessoas em nosso mundo, que levam o medo, a dor, a fome e a miséria a milhões de pessoas. Além disso, também somos constantemente bombardeados com as notícias de inúmeros conflitos e guerras.
Independentemente dos motivos pelos quais se busca justificar os atos de violência que são praticados todos os dias, mesmo que, porventura, a grande maioria das pessoas assumam que os atos são “justificáveis”, sempre haverá alguém que sairá prejudicado. Todo ato de violência, seja grande ou pequeno, em maior ou menor escala, sempre prejudica alguém. E, todos os dias, vemos inúmeras pessoas sendo prejudicadas por estes atos.
E, em todos os atos de violência praticados, algumas perguntas sempre aparecem como recorrentes: “Onde está Deus?”, ou: “Por que Deus não impediu isso de acontecer?”. Ou, de maneira mais geral, muitos podem perguntar: “Por que Deus permite que atos de violência sejam praticados indefinidamente sem fazer nada para impedi-los?”.
Muitos até utilizam desses atos de violência como “prova” da não-existência de Deus, dizendo: “Que Deus é esse que permite que crianças, inocentes, sejam mortas pelas guerras e conflitos? Que Deus é esse que permite a morte de inocentes? Que Deus é esse que permite que crianças sejam abusadas sexualmente por monstros – que, muitas das vezes, deveriam ser seus protetores – sem fazer nada? Se esse Deus existe, porque Ele fica omisso? Porque Ele não faz nada? Se, olhe bem, ‘se’, se esse Deus existe, Ele é um Deus cruel e impotente, que compactua com o mal e a violência, que não se importa com a morte de inocentes”.
Se existisse algum Deus, Ele teria que extinguir, imediatamente, as pessoas que praticam o mal, ou, não deixar que esses atos sejam cometidos e praticados.
Diante de tudo isso e diante de todos estes questionamentos, lhes apresento aquele que parece ser o maior problema de Deus para algumas pessoas: Deus é misericordioso. Ele é extremamente paciente e longânimo em se irar.
Mas, ao olharmos de perto, veremos que a misericórdia de Deus é uma espada de dois gumes: é uma misericórdia benevolente, que perdoa aqueles que porventura se arrependerem verdadeiramente de seus males. Mas, para aqueles que insistem em praticar a maldade, a paciência de Deus serve para que a violência destes se acumulem para ser julgadas e completamente condenadas por Deus em seu julgamento, reservando para estes causadores de males a condenação eterna.
A paciência e a longanimidade de Deus, vistas por muitas pessoas como uma demora da parte de Deus em “fazer justiça” e, até mesmo, em executar Sua ira, é um tema recorrente em toda a Bíblia. Essa característica reflete tanto Seu desejo de dar oportunidade ao arrependimento quanto Sua justiça que, embora adiada para um Dia determinado, será finalmente revelada e completamente executada. Além do mais, tal característica da parte de Deus mostra nosso imediatismo e revela o nosso desejo de que as coisas, e a “justiça”, sejam feitas segundo a nossa vontade, ignorando a vontade e os propósitos do próprio Deus.
Dentro desse contexto, a paciência de Deus não deve ser confundida com permissividade, impotência, ou como algo que coloca em xeque a Sua Própria existência; ela é, na verdade, uma expressão da Sua misericórdia e do Seu plano soberano, como podemos observar em várias passagens bíblicas, como os exemplos abaixo.
Em 2 Pedro 3:9, o apóstolo afirma que “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como alguns julgam. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” Esse versículo mostra a longanimidade de Deus como uma forma de dar tempo para que a humanidade se arrependa, para que os malfeitores se arrependam de seu mal. O propósito de Sua paciência é evitar que as pessoas sejam destruídas imediatamente no Dia em que chegar Seu julgamento, concedendo-lhes a chance de buscar redenção. Mas, esse período de graça é temporário.
Outra passagem relevante é Romanos 2:4-5, onde Paulo escreve: “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus te leva ao arrependimento? Contudo, por causa da tua teimosia e do teu coração obstinado, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento.” Aqui, a paciência de Deus é descrita como um instrumento de Sua bondade, mas também como uma espada de dois gumes: aqueles que não se arrependem acumulam para si a ira futura. O dia do julgamento será o momento em que essa paciência se esgotará, e a justiça será plenamente manifesta.
Além disso, em Êxodo 34:6-7, quando Deus se revela a Moisés, Ele se autodescreve como “compassivo e misericordioso, longânimo e grande em bondade e fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado. Contudo, não deixa de punir o culpado”. Esta passagem mostra que, apesar de Deus ser lento em irar-se, Ele não negligencia a justiça. A maldade e os atos horrendos das pessoas más não ficarão impunes, tais pessoas pagarão amargamente por seus erros.
Essa ideia de paciência com o propósito de um julgamento futuro é reforçada em Apocalipse 6:10, onde os mártires que morreram por amor à Cristo clamam: “Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” A resposta implícita é que Deus, em Sua longanimidade, tem um tempo determinado para a execução de Sua ira, e esse tempo será cumprido no final da história, quando toda maldade será confrontada e punida.
Assim, para muitas pessoas, o maior “problema” de Deus reside nessa paciência, nessa misericórdia, misericórdia essa que muitos veem como uma demora para que Deus execute seus atos de justiça. O que muitas vezes esquecemos é que é justamente por essa mesma misericórdia que nós não somos consumidos e destruídos imediatamente. Dessa forma, diante de nosso imediatismo e de nossa busca por respostas, e por “justiça” aos nossos olhos, muitas vezes não entendemos que a paciência de Deus é uma característica que revela tanto Sua bondade quanto Sua justiça. Ele deseja que todos cheguem ao arrependimento, mas não retém Sua ira indefinidamente. A longanimidade divina, portanto, está diretamente ligada ao Seu plano redentor, culminando no dia do julgamento, quando todos os atos de injustiça e violência serão devidamente punidos. Ao retardar Sua ira, Deus não apenas oferece tempo para a humanidade se arrepender, mas também manifesta Seu amor e Sua justiça implacável, justiça essa que será completamente executada, no dia que o próprio Deus determinou para tal.