À parte do que está (ou esteja) acontecendo no jogo político tanto no Brasil como no mundo, queria convidar você para refletir comigo sobre esta atividade, ou, até melhor, atitude chamada JEJUM.
Existe o lado do indivíduo: é uma estratégia para enfrentar problemas pessoais, sejam eles de saúde (controle/luta corpo vs. mente), bem como outros desafios pessoais (desemprego vs. clamor a Deus para abrir uma porta, pois Ele detém todos os corações de possíveis empregadores em Suas mãos!), e muitos outros.
Mas tem o lado coletivo. Deste ponto de vista, destaco dois acontecimentos históricos: um relativo à antiga cidade de Nínive, e o outro, à Guerra Civil nos EUA entre 1861 a 1865, na qual morreram mais de 500 mil pessoas. Causa? O Governo e os Estados do Norte queriam acabar com a terrível injustiça praticada pela escravidão com os povos africanos aprisionados e transportados de forma desumana, e tratados desumanamente diariamente pelos “seus” senhores, que os consideravam como OBJETOS de sua propriedade. No caso, eram os Estados do Sul que queriam a continuação da crueldade. Razão? ECONÔMICA: a estrutura de sua produção e da riqueza (dá pra ver bem isso em vários filmes, tipo “E o vento levou!”) estava baseada no trabalho escravo (não pago, cruel, desumano).
Assim, eu creio que, ao contrário de estar entrando em um estado de a l a r m i s m o, quem adere a um jejum o faz porque está convicto de, pelo menos, duas coisas: que o problema é grande demais e exige medidas incomuns; e, em segundo lugar, este problema extrapola totalmente tanto a sabedoria como as engenharias humanas.
Quanto à primeira, mencionei o relato no livro do profeta Jonas sobre a ameaça de destruição da cidade de Nínive. Quando ele finalmente obedeceu à ordem de ir, “2’Vá à grande cidade de Nínive… ’ 4… proclamando: ‘Daqui a quarenta dias Nínive será destruída’. 5 Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. 6 … o rei de Nínive…, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza [e proclamou]: ‘… não comam nem bebam! 8 Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. 9 Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos. ’10 Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado.”
O problema ou pecado maior era principalmente a violência, que traz todo o tipo de consequências para os relacionamentos. Ou até, ela é o resultado de relacionamentos mal desenvolvidos, onde a inveja, a cobiça, a ganância, o ódio, a vingança, o ressentimento, etc. e etc., florescem como ervas daninhas.
O exemplo mais próximo do qual tenho conhecimento é de 1863, quando o presidente americano Abraão Lincoln assinou um decreto semelhante ao do rei de Nínive, e para maior clareza, vou citar algumas partes dele. (Faço isso, não para fazer uma comparação entre o nosso e aquele país, mas para trazer um exemplo de um jejum coletivo numa situação crítica):
“Considerando que o Senado dos Estados Unidos… tem através de uma resolução requerido ao Presidente que designe e separe o dia nacional de oração e humilhação:
E considerando que é dever de todas as nações…, pois inegavelmente todos dependem do poder de Deus, de confessar seus pecados e transgressões, em atitude humilde de tristeza, porém na esperança que o arrependimento genuíno conduzirá à misericórdia e ao perdão… aquelas nações cujo Deus é o Senhor são abençoadas:
E,… que nações como também indivíduos estão sujeitos à punição e disciplina neste mundo, será que essa terrível calamidade da guerra civil, que agora devasta e assola nossa terra, é um castigo por nossos presunçosos pecados, trazendo à tona a urgência de uma total Reforma Nacional? … Temos crescido em números, em riqueza e poder como nenhuma outra nação jamais conseguiu. Mas temos esquecido de Deus… Intoxicados com o nosso sucesso continuado, nos tornamos autossuficientes demais…, e orgulhosos demais para orar ao Deus que nos criou! É imprescindível, portanto, que nos humilhemos diante do Poder que ofendemos, para confessar nossos pecados como nação, e clamar por clemência e perdão.
Sendo assim, em concordância com este requerimento, e completamente de acordo com o posicionamento do Senado, eu declaro e separo, através desta proclamação, a Quinta-feira, dia 30 de abril de 1863, como o dia nacional de humilhação, jejum e oração. E assim peço a todos que, naquele dia, abstenham-se de suas atividades seculares, e se unam nos seus lugares de culto e em seus respectivos lares, guardando o dia separado para o Senhor, e totalmente para o humilde cumprimento deste dever espiritual próprio àquela ocasião solene.
Sendo tudo isso feito em sinceridade e verdade, façamo-lo humildemente na esperança autorizada pelos ensinos divinos, que o clamor da Nação em união será ouvido nas Alturas, e respondido com bênçãos, bem como o perdão pelos nossos pecados como nação, e a restauração do nosso país dividido e muito sofrido, retornando à sua feliz condição anterior de unidade e paz. …
Abraão Lincoln, Presidente dos Estados Unidos – William H. Steward, Secretário de Estado.”
É verdade – nos EUA a praga do vírus está bem mais complicada. E quem sabe terão de usar novamente esta estratégia para unir o povo e pedir misericórdia a Deus.
Mas, e no Brasil, como estamos? Uma opinião positiva sobre o jejum não significa que a ciência e a tecnologia são ignoradas. Muito pelo contrário! Mas, no jejum, após essa pausa, nossa vida e esforços devem continuar. Dar, de quando em vez, uma folga ao sistema digestivo, é bom e salutar para nosso corpo. E isso é que é jejum, com um adendo: nossa oração, o clamor, o reconhecimento sem nenhum sentimento de vergonha, de que sozinhos somos incapazes de resolver o problema!
Sei de muitas pessoas ao nosso redor que têm recebido soluções para problemas impossíveis através do jejum!
Pessoalmente, essa é uma prática normal na vida de quem quer viver menos acuado pelos desejos, e menos surrado pelas emoções. (Nada contra desejos ou emoções! O problema é ser dominado por eles.)
Certamente todos nós concordamos que a nossa pátria é um país agraciado com muitíssimas benesses. As nossas riquezas naturais são muito abundantes, e nosso povo com toda a sua diversidade, arte, inteligência e capacidade é capaz de tremendos feitos e conquistas.
Sofremos, contudo com dois grandes males, a meu ver: somos facilmente influenciados e muitas vezes, dominados, tanto no particular como nas atividades públicas, pela mentira, e também, pela falta de sensibilidade para a sorte do próximo.
Num JEJUM VERDADEIRO (Isaías 58) descobrimos que a injustiça social ofende a Deus! E, nossa insensibilidade para com a necessidade do próximo, também!
É hora de mudar. Temos ouvido muitas notícias, e ultimamente também, de pessoas que tiveram o Covid-19 e foram curadas! A fala do Secretário Iup, que teve a doença, e foi curado, foi muito emocionante. Mas, para mim, a melhor notícia foi a que eu ouvi há umas duas semanas, quando o Presidente da Câmara disse: “Nós, parlamentares, temos de achatar os nossos salários, para que nossos compatriotas de SALÁRIO PEQUENO (ou sem salário) possam ter comida nestes dias difíceis!” Senhores/senhoras deputados/as, esse será um ato muito elogiado, e tremendamente didático!
Na Doctum, como em outras instituições e empresas, estamos fazendo isso. Ontem, muitos funcionários aceitaram o termo de diminuição de salário. E sabe quem deu o exemplo? Os dirigentes. Assim, decidimos fazer sacrifício, e viver com menos, mas não criar mais desemprego – estamos decididos a passar pela crise com bom senso, gentileza, paciência, e consideração.
Creio que um jejum com uma reflexão profunda é muito benéfico, e poderá transformar um ambiente, tornando-nos mais sensíveis e mais acessíveis, seja em casa, seja virtualmente. Porque, como disse nosso fundador, Reverendo Uriel, O MAIS IMPORTANTE É O SER HUMANO.
Finalizando, aproveito para homenagear nossa ilustre voz caratinguense, Míriam Leitão, filha do Reverendo, que celebrou ontem mais um ano de vida. É com alegria e gratidão, e como família, que atestamos e damos testemunho de sua integridade, sua fé viva e revitalizante, sua generosidade ímpar, e um genuíno temor do Deus vivo. Ontem, falando no programa E daí, Brasil, ela respondeu assim: Só a Bíblia tem a resposta para quem passa pelo vale da sombra da morte. Parabéns, minha irmã!
Rev. Rudi Augusto Kruger – Diretor da Faculdade Uriel de Almeida Leitão, e Coordenador das Capelanias da Rede Doctum