Ildecir A. Lessa
Advogado
Em termos de Brasil, já vem um desenvolvimento de uma grande escalada de violência política desde a eleição de 2018, com a disseminação do discurso do ódio e de mentiras nas redes sociais, o que veio a tornar coisa comum. O brasileiro convive diariamente com números extremos de violência. Os assassinatos de seres humanos, com seus índices preocupantes acontecem no dia a dia pelo Brasil afora. De outro lado, a violência política também virou uma realidade no cotidiano do cidadão.
A violência política não se faz visível somente em ataques físicos. No mundo virtual, agressões morais e mentiras atacam adversários. Usuários espalham boatos, disseminam ódio, tornam-se ativos na violência. Mesmo quando fake news são desmascaradas, alguns usuários seguem entusiasmados e incansáveis disseminando desinformação. Algo assim como: Bolsonarista? Você é fascista, nazista, ditador! Petista? Você é ladrão, comunista, incompetente! Quantas vezes se ouvem esses xingamentos de lado a lado! E dentro da própria família, ou no círculo dos amigos mais queridos. As pessoas se expressam de maneira raivosa, agressiva e irrefletida.
Persistem em certas circunstâncias onde, aqueles que eram tão caros no relacionamento de longa data se afastam com sentimento de rancor e não retornam mais ao convívio. Aí, as explicações dessas agressões, que já são examinadas no seio das instituições, como já aconteceu em sessão solene organizada para um ato de defesa do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, afirmou que é preciso que o “diálogo construtivo e a transformação” assumam o lugar da “agressão e de ódio”. Naquela oportunidade, que teve a presença do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, Toffoli fez uma menção direta ao deputado federal, sobre o “esforço” de Maia em reconhecer a importância do diálogo, citando também o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Aí, recentemente, vem o presidente Bolsonaro, com uma ilação do povo se voltar contra os Poderes Legislativo e Judiciário, o que provoca reações de diversas formas de posicionamento, inclusive dos poderes atacados.
Mas qual a razão dessas agressões? É bem verdade que, a questão da agressividade do ser humano suscita, desde Freud, uma situação paradoxal: todos admitem que a agressividade – tomada aqui em seu sentido mais lato, quase que sinônimo de destrutividade e violência – existe no ser humano, mas custam a admiti-lo e a estudá-la como algo inerente ao mesmo. Em Privação e Delinquência, Winnicott (1987) nos diz que “de todas as tendências humanas, a agressividade em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos e quando se manifesta é sempre tarefa difícil identificar suas origens”.
Assim, poucas pessoas admitem serem cruéis em atos e em pensamentos. Aqui temos todo um trabalho de civilização que nos “educa” a tolhermos e ocultarmos essa vertente de nossa fisiologia e é este o preço alto que pagamos em nome da civilização, até porque não há como expurgar a agressividade do ser humano. Quando ela não parece de uma forma explícita, ela aparece de forma implícita, e se volta para o próprio homem. Inobstante a agressividade ser constitucional e necessária para auto conservação e conservação da espécie, porque possibilita posicionamentos nas situações de construção das coisas, ela está relacionada à ação.
Todos os seres humanos (e inclusive os animais) trazem consigo um impulso agressivo. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas. Portanto é algo natural. Nas sociedades ocidentais, bastante competitivas, a agressividade costuma ser aceita e estimulada quando esta vale como sinônimo de iniciativa, ambição, decisão ou coragem. A agressividade é um tipo de comportamento normal que se manifesta nos primeiros anos de vida. Agressividade e medo são emoções fundamentais na sustentação de processos decisórios. A agressividade é uma forma de proteção, de dar limites, em família ou no trabalho. Com isso, vamos conviver normalmente no cenário político, com esse presente Império da Agressividade Verbal, que parece, no momento, não ter fim!