Multicampeão e artilheiro, o atacante conta sua trajetória marcada por conquistas e como se tornou referência no futebol regional, sendo um dos maiores vencedores em competições da Liga Caratinguense de Desportos
DA REDAÇÃO – O rosto daquele menino, que foi a maior revelação do futebol regional nos anos 90, praticamente não mudou ao longo dos anos, assim como seu aspecto físico. O passar do tempo lhe trouxe mais sabedoria e ele cuida do físico e da mente. Desta forma se mantém na ativa e continua sendo um dos atacantes mais respeitados da região. Este é Eraldo Rodrigues dos Santos Junior, o ‘Juninho do Pelota’, nome que traz admiração em diversos futebolistas da região. Ele é um ídolo para apaixonada torcida da Associação Sportiva Bonjesuense e reverenciado pelos torcedores dos clubes em que passou.
Nos estádios por onde jogou era comum ouvir nas arquibancadas os seguintes comentários: “ninguém para esse homem!”, “como parar o Juninho do Pelota?”. Aos 42 anos, Juninho do Pelota não conhece os limites, geralmente, impostos pela idade e dentro das quatro linhas segue sendo imparável. Para ele, o tempo não para. Juninho sabe se cuidar e credita seu sucesso à família, em especial, a esposa Fernanda Trevenzoli Morais e a filha Alice Trevenzoli Morais dos Santos. Quatro vezes artilheiro do Campeonato Regional da Liga Caratinguense de Desportos (LCD) e cinco vezes campeão. Ele venceu em 2005 vestindo a camisa do Caratinga, foi tri (2010/11/13) com a Associação Sportiva Bonjesuense (ASBJ) e recentemente foi novamente campeão, desta vez vestindo a camisa do Esplanada. “Na base fui campeão com o Bairro das Graças”, acrescenta. Ou seja, são seis títulos com a chancela da LCD.
Ao longo de sua carreira, Juninho do Pelota fez mais de 1.000 gols e tem mais de 100 títulos. O artilheiro multicampeão conta um pouco de sua trajetória e revela que pretende estar nos gramados por muito ainda. “Enquanto tiver vontade de jogar bola, sentir uma sensação gostosa de jogo, vou estar jogando e tentando fazer o meu melhor para os clubes onde estiver passando”, pontuou Juninho do Pelota.
O treinador argentino César Luís Menotti, que faleceu em 5 maio deste ano, dizia que “você pode parar de correr, parar de jogar por longos minutos… A única coisa que você não pode fazer é parar de pensar”. E o imparável Juninho não para de pensar a respeito do futebol, talvez esteja aí o segredo de sua longevidade nos gramados.
Eis a entrevista.
Obviamente, como a maioria das crianças, você queria ser jogador de futebol. Mas existe uma diferença entre querer e poder. Quando percebeu que tinha potencial?
Então, toda criança tem um sonho de ser jogador de futebol. Quando comecei a jogar bola, achei que poderia ser jogador de futebol. As pessoas da minha cidade (Bom Jesus do Galho) começaram a falar que tinha talento, que tinha que tentar fazer um teste, uma peneira. E aí a gente vai colocando essas coisas na cabeça. Fui vendo que tinha um potencial dentro do futebol, que poderia ser jogador. Mas, estou também no tempo de Deus. Infelizmente não consegui ser um jogador profissional, porém tive a oportunidade de ser um jogador de futebol amador.
Quando começou a competir para valer no futebol?
Eu comecei a competir para valer em 1997, disputando o Campeonato Juniores pela Associação, onde a gente perdeu a final para o Clube Caratinga. Me destaquei bem nesse campeonato fazendo gols, eu era juvenil, mas jogava com as pessoas mais velhas (juniores). Fiz um bom campeonato e logo em seguida eu fui jogar a Copa Distrital. Como era menor de idade, meu pai teve que assinar um documento me liberando para estar jogando. Fui bem nessa competição também, joguei pelo time dos 600 (povoado de Bom Jesus do Galho), onde a gente perdeu a final dos pênaltis.
Já participou de peneiras em times profissionais? O que você tem a falar desta experiência?
Sim, participei de peneiras. Fui bem nas peneiras, mas uma coisa que eu sempre carrego comigo, a gente faz essas peneiras, mas muitas vezes aqueles que se destacam são injustiçados. Uma das coisas que vejo, você tem que ter um futebol e tem que ter um padrinho, uma pessoa te indicando para seguir nessa carreira. Infelizmente não é só ir lá e fazer essa peneira. Tem que ter futebol juntamente com a pessoa que já tem o conhecimento dentro daquele clube que você tá fazendo a peneira pra te levar, encaminhar dentro do da base de algum time.
Você jogou por vários clubes, mas vamos focar em dois: ASBJ e Esplanada. Como é jogar por estes clubes, que tem torcidas apaixonadas?
Jogar pela Esplanada é sempre bom, um time que tem uma torcida muito grande, uma torcida fanática. Tive várias oportunidades de jogar por esse clube. Em 2018 a gente perdeu a final da LCD. Antes já tinha disputado o Regional pelo Esplanada onde saímos na semifinal e fui artilheiro do campeonato. Agora, neste ano, depois de muito tempo o Esplanada voltou a ser campeão do Regional onde a torcida merecia, a comunidade merecia esse título, nós jogadores também merecíamos esse título pela Esplanada. A gente lutou, batalhou e Deus nos honrou.
Por ser de Bom Jesus do Galho, é claro o carinho que a torcida da Associação tem por você. Neste caso, se considera um ídolo desta torcida?
ASBJ é o time do meu coração. Quando falo que há time amador, eu penso sempre na ASBJ. Tive minha carreira praticamente toda nela, vários títulos da ASBJ, três regionais, Copa do Trabalhador, além de três vice-campeonatos do Regional. Tenho orgulho de falar que um dia vesti esse manto, esse manto tricolor que é da nossa cidade, Bom Jesus do Galho, que é o Lobo
Sou de Bom Jesus do Galho. Me considero um ídolo do clube e da cidade, de forma geral. A gente vê o carinho pelas pessoas quando passa nas ruas, quando tem jogo no campo da ASBJ. Muitos brincam, né: “ASBJ no campeonato tem que ter Juninho”. Mas a gente sabe desse carinho e a gente retribui do mesmo forma, fazendo o melhor. Sendo assim, me considero um ídolo da ASBJ.
Você também já participou de campeonatos de outras ligas. Quais foram e como foi seu desempenho?
Participei de várias competições e por vários clubes de Ipatinga, Inhapim, Manhuaçu, Ipanema, Vermelho Novo, Raul Soares, Bom Jesus do Galho, Governador Valadares Tarumirim, Ponte Nova, Coronel Fabriciano e Timóteo. Foram várias competições e graças a Deus sempre tive um bom desempenho nessas competições, conquistando títulos em alguns lugares que passei, deixando meu legado e isso é muito importante e interessante também. Qualquer lugar que a gente vai e fala que é o ‘Juninho de Bom Jesus do Galho’, o ‘Juninho do Pelota’, as pessoas conhecem, então fico muito feliz por isso. É uma gratidão que sempre carrego comigo, algo que futebol me proporciona.
Quais os resultados mais marcantes na sua carreira de futebolista amador?
Eu tenho vários resultados marcantes dentro do futebol amador, mas um deles que fica marcado na minha história foi o título de 2010 pela Associação de Bom Jesus do Galho, da Liga Regional de Caratinga, onde depois de, se não me engano, 37 anos, a Associação voltou a ganhar este campeonato. Ajudei na final fazendo os três gols, saí sendo artilheiro da competição com 18 gols. Então fica marcado isso para mim. Logo após o jogo, não consegui sair de dentro do campo e nem estar no vestiário, a torcida me abraçou, jogou para o alto, fizeram a maior festa. Isso ficou marcado para sempre na minha carreira do futebol.
Outro resultado marcante também foi jogando pelo Esporte Clube Caratinga, onde a gente foi campeão em 2005, pude fazer dois gols na final que ajudaram o Caratinga a ser campeão regional.
Teve outro fato marcante. Jogando o Campeonato Ipatinguense pelo Beira Rio. Fui titular o campeonato todo, chegou a final, fiquei na reserva e estava tranquilo, apoiando meus companheiros. Era o último jogo, a final e eu no banco. O jogo empatado em 1 a 1, entrei e fiz dois gols e o Beira Rio foi campeão
Outra história que eu gosto muito de falar aconteceu em 2002, quando jogava pelo Bairro das Graças o Campeonato da Regional, mas de juniores, e fui o artilheiro. Foi onde comecei a ser reconhecido também na nossa região. Em 2002, voltou a ser disputado o Campeonato Regional da LCD e de lá para cá consegui jogar todos as edições.
Você é um atacante que desperta respeito nos defensores. Mas quais defensores despertaram esse respeito em você ao longo de sua carreira?
Graças a Deus vários defensores sempre me respeitaram dentro de campo e tem alguns também que quando a gente entra em campo e sabe que vai ser difícil. Tem alguns defensores, o Alberto, que é o famoso ‘Cabecinha’, o Daniel, Caçapa (Ipatinga) entre outros, mas esses que quando eu jogava contra, sempre era difícil de passar e tinha que ter um tinha respeito por eles.
Tem anotados quantos gols fez no campeonatos que disputou? Qual desses gols você considera o mais bonito? Poderia nos descrever?
Antes anotava meus gols, mas parei de um tempo pra cá. Comecei em 2002. Fiz muitos gols. Acho que se contar desde as categorias de bases, amistosos, competições oficiais, creio que já cheguei em mil gols.
O gol mais bonito fiz pela ASBJ, na final, foi o primeiro gol da decisão. Teve um escanteio a favor do time do Juca Antônio, a zaga cortou esse escanteio, o Gil, camisa 10, recebeu a bola na intermediária, dá uma arrancada, lança para mim, eu driblo o zagueiro em velocidade e bato de chapada no alto, na saída do goleiro. É um gol marcante para mim.
Pra mim vários gols são bonitos. Achei um gol bonito que fiz na final de 2005 pelo Caratinga. Sempre gosto de postar esse gol. Bato de longe, de chapa, lá no ângulo.
Você é formado em Educação Física. Vem daí sua ‘fonte’ de tanta vitalidade? Ou seja, você sabe o que fazer, sabe a dosagem certa que seu físico suporta?
Sou formado em Educação Física, que é uma das fontes que sempre procuro me preparar para estar jogando futebol, estar me saindo bem durante os jogos e poder ajudar a equipe que estiver jogando da melhor forma possível. A Educação Física me ajuda muito nisso. Tenho minha academia, gosto de treinar, vou para o campo da ASBJ, às vezes para a Arena Estação (campo society), que também vai me preparar para os jogos. Este é um dos motivos que até hoje, com 42 anos, continuo jogando. No futebol se você não tiver preparação física não tem como, e se eu não estivesse preparando fisicamente, não estaria jogando bola mais.
Você já tem o nome consagrado no futebol regional. Poderia, digamos, viver das conquistas em campo. Mas qual o motivo que te leva a continuar disputando as competições de futebol?
Essa pergunta é interessante. Por que eu estou jogando até hoje? Por me sentir bem, sentir a vontade de jogar bola. E toda vez que a gente entra em campo, sente um friozinho na barriga, isso quer dizer que não está na hora de parar. Eu tenho que continuar jogando. Falo sempre isso com as pessoas por onde passo, os clubes que jogo, quando vou falar dentro do vestiário, sempre falo isso. Enquanto tiver vontade de jogar bola, sentir uma sensação gostosa de jogo, vou estar jogando e tentando fazer o meu melhor para os clubes onde eu estiver passando.
Graças a Deus, Ele vem me proporcionando momentos bons dentro do futebol nesse ano. Já tive seis conquistas de títulos, isso é momento único, chegar em casa e como campeão. Uma das coisas que me ajuda mais a manter dentro do futebol é minha família, minha esposa Fernanda e minha filha Alice, sempre me motivam a estar indo para o campo. Quando chego em casa elas falam “papai campeão”, isso aí dá vontade de cada dia mais jogar futebol.