O DIÁRIO DE CARATINGA entrevistou o sargento Aroldo, que em outubro do ano passado salvou a vida de pessoas durante um assalto em Dom Cavati e foi alvejado com um tiro na cabeça
DOM CAVATI – Aroldo Andrade Souza, 46 anos, casado com Cristiane, pai de Jean, de 20 anos e Gabriele,18. Sargento da Polícia Militar, nascido em Dom Cavati, cidade onde trabalha atualmente, há 25 anos dedica sua vida à corporação que tem como patrono, o Alferes Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, e que serviu no Regimento Regular de Cavalaria de Minas.
Assim como Tiradentes, sargento Aroldo também é considerado um herói. Um herói da sociedade. Um herói de Dom Cavati. No dia 11 de outubro do ano passado, às 10h19, cinco assaltantes armados entraram na agência dos Correios em Dom Cavati e renderam mulheres, crianças e o segurança do local. Sem pensar que era um contra cinco e que poderia morrer, o bravo policial enfrentou os bandidos, salvou a vida de várias pessoas e acabou sendo atingido por dois tiros, sendo um no abdômen, que não causou ferimento por pegar no colete e outro na cabeça.
Depois do atentado, agora com uma placa de platina na cabeça, o sargento voltou a trabalhar nas ruas e contou ao DIÁRIO DE CARATINGA como tudo aconteceu, falou de seu amor pela PM, do prazer em proteger à sociedade e de sua pretensão quando for um militar da reserva.
O que aconteceu naquele 11 de outubro, a que horas o senhor tinha começado a trabalhar?
O serviço estava previsto para início às 11h, normalmente temos um pré-turno de 30 minutos para passagem de instrução, recebimento de alguns informativos da área operacional, cheguei mais cedo e passando pela Rua do Correio, vim mais cedo, pois a gente rende o serviço mais cedo, tinha que ir ao Correio para fazer a postagem de uma prova da faculdade do meu filho. Estaria de serviço às 11h e era 10h19, a hora que o fato aconteceu.
O que viu de estranho, como o senhor agiu?
Nós policiais somos preparados para esse tipo de eventualidade e às vezes ocorre inesperadamente, mas mesmo assim precisamos estar preparados. Estava caminhando sentido ao Correio e deparei com pessoas da sociedade pedindo socorro, correria e no meio desse tumulto me falaram que o correio estava sendo assaltado. Só que ficou pouco claro, as pessoas com quem tive contato nesse percurso, alguns falavam que era dois assaltantes, outros que eram três e a gente como tem esse objetivo de prestar serviço com qualidade para as pessoas fui ao local sozinho, meu policiamento ainda não havia sido lançado. Quando cheguei na porta do correio consegui visualizar quatro indivíduos, não sabia do quinto até então. No momento que um deles me viu, estava com uma arma apontada para cabeça de uma senhora dizia o tempo todo que iria estourar sua cabeça com um tiro e o guarda também estava sob a mira de um dos meliantes. Tão logo me viram largaram essa mulher e começaram a atirar, revidei com alguns disparos e durante a troca de tiro fui alvejado duas vezes, um no abdômen, mas o colete protegeu e fui alvejado com um tiro na cabeça e nesse momento fiquei desacordado por alguns segundos e quando voltei à consciência, já estava sendo socorrido por populares da cidade.
O que leva uma pessoa a ser destemida como o senhor dentro da profissão?
É como um sacerdócio. Assim como um médico tem a missão de salvar vidas, nós quando formamos fazemos um juramento verdadeiro de proteger a sociedade com o sacrifício das nossas vidas se for preciso. E no momento não pensei apenas no bem patrimonial, que vem em segundo plano, mas nas pessoas que estavam dentro do correio, mulher com criança de colo. São coisas dessa forma que nos levam a entregar nossas vidas se for preciso para garantir a vida e a tranquilidade das pessoas de bem.
O senhor foi socorrido por terceiros. Conhece essas pessoas que o ajudaram? Para onde foi levado?
Sim, graças a Deus todos eles são conhecidos na cidade, devido ao ótimo relacionamento, posso dizer que somos felizes porque aqui em Dom Cavati temos uma sociedade que nos ajuda com informações, que não traz problemas tão complexos, são pessoas de bem que nos ajudam. Fui levado para o hospital Márcio Cunha em Ipatinga. Os populares destemidos não mediram esforços para me socorrer. É lógico que Deus tem que estar no controle de tudo, mas esse socorro rápido foi fundamental para salvar minha vida.
Em algum momento achou que morreria?
Se eu falasse que não, estaria sendo demagogo. Fui atingido por um tiro na cabeça. Mas acredito que Deus quando faz um projeto, faz por inteiro. Quando estava dentro do carro a única coisa que fiz para tranquilizar o motorista que estava correndo muito, o tempo todo ele dizia que estava saindo muito sangue e teria que andar rápido, eu dizia para ficar tranquilo, pois pessoa que levara tiro na cabeça sai muito mais sangue, foi uma forma que encontrei de tranquilizá-lo para evitar um acidente. Pedi a Deus para que tomasse conta e Ele me poupou a vida e hoje tenho a oportunidade de falar isso com vocês. Deus operou esse milagre.
Onde foi o ferimento e qual a gravidade?
Muitos falaram que eu tinha morrido, outros que tinham sido três disparos, outro que tinha sido na nuca e não foi de raspão, foi em cima da cabeça. Hoje tenho uma placa de platina de 10cm x 12 cm, na cabeça, então dá para saber que foi um estrago grande.
Ficou alguma sequela? Considera que houve um milagre?
Quando cheguei ao hospital o médico constatou que eu estava sem movimento da perna direita em virtude do sangue que derramou no cérebro. Aí foi feita a cirurgia, graças a Deus ocorreu tudo bem. Médicos competentes, estrutura muito boa e tão logo voltei à consciência no hospital, o médico disse que possivelmente eu poderia ficar sem andar, sem o movimento da perna direita. Mas como eu disse, acredito que Deus faz, faz perfeito, a obra completa. Durante algum tempo fiquei sem o movimento da perna direita, mas como o trabalho de reabilitação, força de vontade, apoio da família, amigos, sociedade, graças a Deus estou 100%.
Quanto tempo ficou internado?
Fiquei internado por sete dias. Os tratamentos de recuperação foram por 90 dias. Fiquei três meses afastado, em janeiro retornei para atividade interna e há 15 dias para o serviço na rua.
É a primeira vez que é atingido por bandidos em sua profissão?
Primeira vez que fui alvejado, mas já tive uma experiência quando servi ao Batalhão de Ipatinga que foi necessário a troca de tiros, mas graças a Deus não tive a infelicidade de ser atingido daquela vez.
O que a carreira militar representa para o senhor?
Tirando Deus e minha família, a Polícia Militar é tudo pra mim. Foi aqui que aprendi a ter valores, claro que a família nos ensina isso, mas a PM nos molda, nos faz ser cidadãos melhores e como disse antes é como um sacerdócio e sempre quis ajudar as pessoas, tenho uma família que somos sete irmãos na Polícia Militar, eram oito, mas um saiu e fez um concurso público. Então já está no sangue. A Polícia para mim é tudo, adoeceria se eu saísse hoje, quando aposentar será muito difícil, porque gosto do que faço.
O senhor já conhecia de outras ocorrências algum daqueles assaltantes?
Sim. Dois deles, Igor, que era de Inhapim, e Euller que foi preso em São Paulo, já eram envolvidos em assaltos em toda região. No dia do ocorrido o suporte operacional para a captura desses envolvidos foi uma coisa que se a gente parar para observar, nota que a PM é uma família verdadeira. Não que a gente não faça pelo cidadão comum, pois fazemos muito mais no dia a dia, mas foi uma operação grandiosa. No dia foram presos três, Euller fugiu para São Paulo junto com Igor. Algum tempo depois, Euller foi preso, a PM de Caratinga em contato com a PM de São Paulo não deixou um minuto se quer de buscar informações sobre o paradeiro de Igor. Recentemente em uma abordagem a Igor, ele reagiu e infelizmente foi alvejado e morto. A PM não tem objetivo morte, é uma consequência de uma reação negativa de um marginal contra a vida de um policial, de um cidadão ou contra o patrimônio. Mas serviu de certa forma para deixar claro para marginalidade, que a PM está sempre pronta para desenvolver seu serviço, ela está sempre pronta para proteger o cidadão de bem, em momento algum a PM vai deixar a peteca cair, porque algum grupo de marginal quer se sobressair.
O senhor acha que a violência cresceu muito nas cidades do interior?
Infelizmente é uma realidade que estamos convivendo com ela. Nos grandes centros, em virtude da grande quantidade de desempregos, uma crise que visivelmente se instalou no país, pessoas que já tenham a personalidade distorcida aproveitam desse momento para praticarem crimes. A criminalidade tem migrado das cidades grandes para o interior e a Polícia Militar está preparada para isso, com a inteligência, colocado policiamento nos locais certos.
Quanto falta para ser um militar da reserva?
É uma questão que a gente quer falar e não quer. Às vezes tem dias que a gente está com pouca força e pensa que seria bom chegar rápido para descansar, mas conheço policiais que tão logo aposentam, pouco tempo depois querem voltar. E na PM temos oportunidade de ajudar o próximo. Faltam dois anos e meio e tenho certeza que Deus estará comigo e farei sempre o melhor para a sociedade que trabalho.
Quais seus planos?
Muitas coisas nos vêm à mente. Sou muito grato a Deus por tudo que Ele fez para mim desde o dia que entrei na polícia, acredito que Ele me ungiu para ser policial, então sempre falo isso com minha família, com meus amigos que gosto muito de trabalhar com as pessoas e quando aposentar, quero muito ser pastor evangélico, já estou começando os estudos e assim que me aposentar quero ter a graça de contribuir com Deus por tudo que fez por mim.